Numa comunicação à 28.ª conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP28) lida pelo secretário de Estado do Vaticano Pietro Parolin, Francisco pede ainda que a chamada cimeira do clima seja "um ponto de viragem" para "uma aceleração decisiva em direcção à transição ecológica" e que não se culpem os países mais pobres, responsáveis por "apenas 10% das emissões poluentes" e "vítimas" das alterações climáticas.
“Com o dinheiro que é usado para armas e outras despesas militares, criemos um fundo mundial para acabar com a fome de uma vez por todas e para realizar actividades que promovam o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres, para combater as alterações climáticas", afirmou o papa, que não pode estar presente na COP28, que decorre no Dubai até 12 de Dezembro, por causa de uma inflamação pulmonar.
"Quanta energia está a ser desperdiçada pela humanidade nas muitas guerras em curso, em Israel e na Palestina, na Ucrânia e em muitas regiões do mundo”, questionou o papa.
Francisco, que questionou sobre “quantos recursos são desperdiçados em armamentos”, afirmou que aqueles conflitos "não resolvem os problemas, antes os aumentam” e “destroem vidas e arruínam a casa comum”.
O papa apontou como solução o “multilateralismo", tanto na protecção do ambiente como na procura da paz, considerando que estas são “as questões mais urgentes e estão mutuamente relacionadas".
O chefe de Estado do Vaticano recordou os passos dados no Rio de Janeiro, em 1992, e em Paris, em 2015, mas avisou que "é agora urgente relançar o caminho", pelo que disse que esta COP tem que ser “um ponto de viragem, manifestando uma vontade política clara e tangível, que conduza a uma aceleração decisiva para a transição ecológica, através de formas que tenham três características: que sejam eficientes, que sejam vinculativas e que possam ser facilmente monitorizadas".
O caminho, disse, passa por quatro domínios: “Eficiência energética, fontes renováveis, eliminação dos combustíveis fósseis e educação para estilos de vida menos dependentes dos combustíveis fósseis", enumerou.
Francisco lembrou que é necessário "garantir que o futuro não seja negado" às próximas gerações e alertou para a “ambição de produzir”, criticando as posições inflexíveis, que “tendem a proteger os seus próprios rendimentos e os das suas empresas".
O discurso de Francisco não esqueceu as “populações indígenas, a desflorestação, o drama da fome, a insegurança hídrica e alimentar, nos fluxos migratórios provocados", considerando "justo encontrar formas adequadas de anular a dívida económica que pesa sobre vários povos, tendo em conta a dívida ecológica que existe a favor deles".
"É uma questão de não adiar mais, não apenas de desejar, mas de fazer o bem para os vossos filhos, para os vossos cidadãos, para os vossos países, para o nosso mundo (…) é para isso que serve o poder, para servir (…), a história agradecer-vos-á por isso", disse.