Os Houthis têm o apoio do Irão e controlam parte do território do Iémen, cuja costa é próxima ao estreito de Bab el-Mandeb, por onde navios procedentes do sudeste asiático e do golfo Pérsico, por exemplo, entram no mar Vermelho por águas internacionais.
Desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, os Houthis têm feito diversos ataques na região, como forma de demonstrar apoio aos extremistas islâmicos.
O acto mais significativo foi o sequestro do transportador de veículos Galaxy Leader, em 19 de Novembro, durante uma viagem entre a Turquia e a Índia. A embarcação é de propriedade da Ray Shipping, da qual um dos sócios é o empresário israelita Abraham Ungar.
O Galaxy Leader foi levado para o porto de Hodeida, no Iémen, onde permanece ancorado. Os 25 tripulantes continuam reféns; foi-lhes permitido apenas "contacto modesto" com a família, informou no começo do mês a empresa proprietária do navio.
O governo americano classificou o caso de "pirataria" e disse que considera redesignar os Houthis como organização terrorista. Actualmente apenas Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Iémen adoptam essa classificação para o grupo.
Os ataques de artilharia a navios mercantes que passavam pelo estreito de Bab el-Mandeb intensificaram-se nas últimas semanas, alvejando pelo menos 20 embarcações.
Esta segunda-feira,18, o navio-tanque M/V Swan Atlantic, de bandeira norueguesa, sofreu "danos limitados" após ter sido atingido por múltiplos mísseis lançados pelos houthis.
Um navio do armador alemão Hapag-Lloyd foi outro alvo, na semana passada, fazendo com que as operações no mar Vermelho fossem suspensas pela companhia. O mesmo ocorreu com outro gigante, a MSC.
"Em 15 de Dezembro, o MSC Palatium III foi atacado enquanto atravessava o mar Vermelho. Felizmente, todos os membros da tripulação estão seguros, sem relato de ferimentos. A embarcação sofreu danos leves pelo fogo e foi retirada de serviço. Devido a esse incidente e para proteger a vida e a segurança dos nossos marinheiros, os navios da MSC não atravessarão o canal de Suez rumo ao leste e oeste até que a passagem pelo mar Vermelho esteja segura. Vamos redireccionar alguns serviços via Cabo da Boa Esperança, garantindo operações ininterruptas e seguras", disse em nota a companhia sediada na Suíça.
A francesa CMA CGM e a dinamarquesa Maersk também tomaram decisões semelhantes.
"Após o quase acidente envolvendo a Maersk Gibraltar ontem e mais um ataque a um navio porta-contentores hoje, instruímos todos os navios Maersk na área destinada a passar pelo estreito de Bab el-Mandeb a pausar sua viagem até novo aviso", disse a empresa em 15 de Dezembro.
Porta de entrada para o Mar Vermelho
As acções dos Houthis concentram-se no estreito de Bab el-Mandeb, uma porta de entrada para o mar Vermelho e o único acesso ao canal de Suez, no Egipto.
"O estreito é um 'ponto de estrangulamento' vital para o fluxo de petróleo e comércio internacional, e a rota comercial mais curta entre a região do Mediterrâneo, o oceano Índico e o leste asiático, canalizando milhares de milhões de dólares no comércio marítimo", descreve a organização Gulf International Forum, sediada nos EUA.
Cerca de 15% do tráfego marítimo mundial passa pelo canal de Suez, o segundo mais movimentado, atrás apenas do canal do Panamá.
De acordo com a Administração de Informação de Energia dos EUA, 9,2 milhões de barris de petróleo passaram diariamente pelo canal na primeira metade de 2023, representando aproximadamente 9% da demanda global.
A impossibilidade de usar o canal de Suez cria um enorme problema para os armadores, uma vez que a rota secundária acrescenta semanas ao tempo de viagem.
O mercado de petróleo e gás, especificamente, é um dos que mais beneficiam do canal, uma vez que os navios que saem do golfo Pérsico em direcção à Europa podem fazer o percurso de 12 mil quilómetros em cerca de 14 dias (até ao Reino Unido).
Se essa rota precisar ser feita pelo cabo da Boa Esperança, contornando o continente africano, ela torna-se um caminho de 21 mil quilómetros, que leva cerca de 24 dias para ser completado.
Dependendo do destino da embarcação e das condições do mar, o tempo adicional de viagem pode superar facilmente duas semanas, o que causa atrasos, aumento de custos e problemas nas cadeias de suprimento.
Em 17 de Dezembro, a Autoridade do Canal de Suez informou que, desde 19 de Novembro, 55 navios optaram por rotas via cabo da Boa Esperança, enquanto 2.128 passaram pelo canal no mesmo período.