É a terceira vez que a Frente Popular, que reúne organizações da sociedade civil, convoca sem sucesso uma manifestação na Guiné-Bissau, apesar de ter anunciado que a que estava agendada para este sábado tinha sido acordada com o Governo.
Ao início da manhã, algumas dezenas de dirigentes dos movimentos civil e de marchantes concentraram-se em frente à Assembleia Nacional Popular, com o propósito de marchar até à “Mão de Timba”, o monumento alusivo ao massacre no porto de Bissau a 3 de Agosto de 1959.
Depois de uma conversa entre a polícia e os promotores da manifestação, os presentes dispersaram acompanhados por elementos da Polícia de Intervenção Rápida, remetendo para mais tarde declarações sobre o sucedido.
Enquanto as duas manifestações anteriores, a 18 de Maio e 27 de Julho, tinham como propósito protestar contra o regime do Presidente, Umaro Sissoco Embaló, a convocada para este sábado foi anunciada pelas liberdades e garantias dos trabalhadores.
O dia 3 de Agosto é uma data simbólica para os guineenses que recordam os 50 mortos na revolta da repressão dos trabalhadores pelo exército colonial português, no porto de Pindjiguiti, em 1959.
O dia é dedicado aos trabalhadores e a população e comércio locais continuam a assinalar a data como feriado, apesar de ter sido retirada da lista de feriados oficiais, em Janeiro de 2023.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) assinalou a data, com o mesmo destino da outra manifestação cancelada, o porto de Pindjiguiti.
Um grupo de dirigentes e militantes marchou escoltado pela polícia desde a sede do partido, desceu a Avenida Amílcar Cabral e depositou flores no monumento aos mártires, no rio Geba, na Mão de Timba e no monumento estava o busto de Amílcar Cabral.
Há meses que o busto foi derrubado num acidente de automóvel e ainda não foi recolocado, ao fundo da avenida principal de Bissau, com o nome do fundador do PAIGC e da nacionalidade guineense.
O vice-presidente do partido, Califa Seide, disse aos jornalistas, no final das cerimónias, que “esta é uma data muito importante para a vida” do povo guineense” porque foi ali que começou a luta armada pela independência do colonialismo português.
“Os marinheiros sentiram que era necessário pela liberdade e pelo justo salário e enfrentaram o colonialismo português mesmo sem armas, daí que temos que render uma justa homenagem”, disse.
O vice-presidente do partido lembrou que o 3 de Agosto era “a data mais importante para Amílcar Cabral” porque é a data em que começaram a lutar pela liberdade e sentiram que era possível enfrentar o colonialismo português.
“Não podemos permitir que alguém pretenda branquear a história da nossa luta e do povo da Guiné-Bissau”, afirmou, acrescentando que o PAIGC vai continuar a lutar para que “esta e outras datas continuem a ser dia de feriado nacional, dia de festa nacional”.
O PAIGC lidera a coligação PAI- Terra Ranka que venceu as últimas legislativas, em Junho de 2023, com maioria absoluta.
Poucos meses depois, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o parlamento e nomeou um Governo de iniciativa presidencial.
O chefe de Estado marcou novas eleições legislativas para Novembro.
O PAIGC considera a dissolução do parlamento inconstitucional por ter ocorrido antes de decorridos os 12 meses fixados na Constituição e defende que as eleições que devem ser realizadas este ano são as presidenciais, já que o mandato do Presidente termina em Fevereiro de 2025.