“O ensino da história em Angola tem sido feito numa base ideológica e por uma perspectiva do Partido-Estado. Falta muita coisa. Há muitos aspectos da história, nomeadamente da história colonial, nomeadamente sobre a realidade de Angola desde os tempos primordiais, que falta dizer”, afirmou em declarações à Lusa.
Autor de “História de Angola: Da Pré-História ao Início do Século XXI”, lançado em 2016 e cuja quarta edição chega terça-feira às livrarias, Alberto Oliveira Pinto acrescenta que mesmo a perspectiva sobre os estadistas africanos do território de Angola, de que o mais conhecido é a rainha Ginga, a abordagem que é feita é “extremamente ideológica”.
“Falta uma perspectiva mais fria, mais factual”, frisa.
Doutorado em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Alberto Oliveira Pinto, que deu aulas no Departamento de História daquela faculdade e também em universidades estrangeiras é actualmente investigador da Universidade de Lisboa.
Para o investigador, “há elementos da história não africana, nomeadamente a história da Europa ou a história da América que tem de se ter em conta”, e dá como exemplo a presença holandesa em Angola: “Tem que se saber o que é que se passava na Holanda”.
As reacções que recebeu à edição em 2016 de “História de Angola” reflectem a falta de diversidade que é percebida no ensino da disciplina de história em Angola.
“Quase todos os dias, sem exagero, tenho mensagens de pessoas a dizer: ‘Eu Não conhecia essa história. Eu quero conhecer’. Isso não tem nada a ver com a história que é dada nas escolas de Angola e muitos são jovens angolanos de uma nova geração. Parece-me que isto é Muito significativo”, considera.
Alberto Oliveira Pinto defende que o historiador tem que ter a preocupação em ser o mais distanciado e frio possível e até desconstrutivista mesmo em relação ao politicamente correcto.
Questionado sobre a abertura das autoridades angolanas para alterarem o currículo da disciplina de História, Alberto Oliveira Pinto responde não estar preocupado com a introdução das suas investigações.
“Não tenho a preocupação de que aquilo que eu escrevo tenha que estar nos programas de ensino. Isso agora cabe a outras pessoas decidir”, diz.
“Não tenho a preocupação com aquilo que eu produzo possa estar ou não nos programas escolares. Agora, esta é a forma como eu vejo a história. Eu e qualquer historiador minimamente a sério”, reforça.