"As taxas de juro vão descer no futuro, mas vão manter-se acima do período anterior à pandemia de covid-19, o que significa que os países mais pobres não vão conseguir endividar-se de forma tão vantajosa como acontecia antes", disse o vice-presidente e economista-chefe do Banco Mundial, Indermit Gill.
Falando aos jornalistas na apresentação do Relatório Internacional da Dívida, hoje divulgado em Washington, o também vice-presidente do Grupo Banco Mundial disse que os países em desenvolvimento, um grupo onde estão todos os países lusófonos, à exceção de Portugal e da Guiné Equatorial, gastaram "um recorde de 1,4 biliões de dólares [1,3 biliões de euros] para servir a sua dívida externa, com o custo dos juros a aumentar para o valor mais alto dos últimos 20 anos".
O valor pago só em juros, apontou, "subiu quase um terço para 406 mil milhões de dólares (385 mil milhões de euros), apertando ainda mais os orçamentos em áreas críticas como a saúde, educação e o ambiente".
Num cenário em que a China é o maior credor bilateral, o Banco Mundial é o maior credor multilateral e os detentores de títulos de dívida são o maior credor comercial, a situação da dívida é particularmente complicada para os países de baixo rendimento, que pagaram 96,2 mil milhões de dólares (91,4 mil milhões de euros) para servir a dívida só no ano passado.
"Os juros aumentaram para o valor mais alto de sempre, 34,6 mil milhões de dólares (32,8 mil milhões de euros) em 2023, quatro vezes mais que o montante pago em 2013", lê-se no relatório, que dá conta que a média dos pagamentos de juros para os países mais pobres representa 6% das receitas de exportações, um nível inédito desde 1999, e nalguns países, esta percentagem sobe para 38%.
O sistema financeiro global, assim, está desvirtuado: "Nos países pobres mais endividados, os bancos multilaterais de desenvolvimento estão a agir como credor de último recurso, um papel que não é o seu, o que reflete um sistema financeiro disfuncional, já que com exceção dos fundos do Banco Mundial e de outras instituições multilaterais, o dinheiro está a sair das economias pobres, quando devia estar a entrar", disse Indermit Gill.
No ano passado, conclui-se no relatório, o endividamento externo tornou-se "consideravelmente mais caro para todas as economias em desenvolvimento", já que as taxas de juro dos credores oficiais aumentaram para mais de 4%, e as taxas cobradas pelos credores privados subiram mais de um ponto, para 6%, o que representa o valor mais alto dos últimos 15 anos".