"O Camboja solicitou um cessar-fogo imediato e incondicional, e também pedimos uma resolução pacífica para o conflito", disse Chhea Keo, embaixador do Camboja na ONU, a alguns jornalistas após a reunião à porta fechada na sede da organização em Nova Iorque.
Os governos da Tailândia e do Camboja estavam sexta-feira a avaliar um cessar-fogo proposto pela Malásia, enquanto os exércitos dos dois países prosseguiam confrontos pelo segundo dia consecutivo em vários pontos da fronteira comum.
"Como é que eles (tailandeses) podem acusar-nos a nós, um país pequeno com um exército três vezes menor, sem força aérea", de atacar "um grande vizinho", questionou o diplomata.
O Conselho de Segurança, adiantou, "exortou ambas as partes a exercerem contenção, máxima contenção e uma solução diplomática".
"É isso que também exigimos", sublinhou o embaixador do Camboja na ONU.
Nenhum outro participante na reunião de emergência, solicitada pelo Camboja, prestou declarações à imprensa.
A disputa fronteiriça entre estes dois países do Sudeste Asiático gerou, nos últimos dois dias, um nível de violência que não se via desde 2011, envolvendo caças, tanques, tropas terrestres e fogo de artilharia.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês disse esta tarde que "concorda, em princípio" com a proposta de cessar-fogo apresentada pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim.
Banguecoque assinalou, porém, que as forças cambojanas "continuaram sexta-feira os ataques indiscriminados contra território tailandês" e acusou o Camboja de "falta de boa-fé, colocando em risco a população civil".
Na mesma nota, o ministério frisou que a Tailândia "tem a obrigação de proteger a soberania e o seu povo".
O primeiro-ministro da Malásia, país que este ano detém a presidência rotativa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), falou na noite de quinta-feira com os homólogos tailandês, Phumtham Wechayachai, e cambojano, Hun Manet.
"A Malásia apelou diretamente a ambos os líderes para um cessar-fogo imediato que evite novas hostilidades e abra espaço para o diálogo pacífico e uma resolução diplomática. Agradeço os sinais positivos e a disponibilidade demonstrada tanto por Banguecoque como por Phnom Penh", escreveu Anwar Ibrahim na rede social X.
Por seu lado, o primeiro-ministro do Camboja acusou já a Tailândia de violar o cessar-fogo mediado pela Malásia.
"O Camboja aceitou a proposta de cessar-fogo porque não foi o Camboja que iniciou estes combates", afirmou Hun Manet, acrescentando que Anwar lhe confirmou que o homólogo tailandês "havia aceitado" a proposta, que deveria ter entrado em vigor às 00:00 de sexta-feira.
"É lamentável que, pouco mais de uma hora depois, a parte tailandesa tenha informado que mudara de posição. A chave para resolver o atual conflito armado reside na vontade genuína da parte tailandesa de aceitar um cessar-fogo, que constitui o primeiro passo para encontrar novas soluções", escreveu o líder cambojano na rede social Facebook.
Após quase dois meses de tensão, os confrontos entre os exércitos dos dois países eclodiram na manhã de quinta-feira e intensificaram-se rapidamente. Ambos os lados se acusam mutuamente de terem iniciado a violência.
Os combates alastraram-se já a 12 pontos da fronteira entre os dois países.
O Comando de Defesa Fronteiriça das províncias orientais tailandesas de Chanthaburi e Trat, que fazem fronteira com o Camboja, declarou a lei marcial em oito distritos da região para facilitar o movimento de tropas, polícias e civis e "proteger a nação desta ameaça externa".
Segundo a mais recente atualização, hoje divulgada, a Tailândia contabilizou 18 mortos (13 civis e cinco soldados) e mais de 138.000 deslocados.
O Camboja confirmou apenas a morte de um civil, cinco feridos e cerca de 3.400 famílias retiradas.
A tensão territorial entre os dois países vizinhos do sudeste asiático tem sido geralmente gerida por via diplomática, embora entre 2008 e 2011 confrontos militares bilaterais junto ao templo hindu de Preah Vihear tenham causado cerca de 30 mortos.