Segundo o documento, que analisa a situação da liberdade religiosa em 196 Estados nos anos 2023 e 2024, há 62 países que fazem perseguições ou discriminações religiosas, as duas categorias mais graves das violações à liberdade religiosa.
"Estas violações sinalizam um ataque mais amplo" aos direitos humanos, sublinha a organização no relatório, referindo que a liberdade de pensamento, de consciência e de religião "não só está sob pressão, como está a desaparecer progressivamente".
Entre os 24 países que estão classificados na pior categoria - violações graves e sistémicas, incluindo detenções e repressão pelas escolhas religiosas -- encontram-se a China, a Índia, a Nigéria e a Coreia do Norte.
A situação, adiantam os investigadores, afeta mais de 4,1 mil milhões de pessoas e em 75% destes países (18 dos 24), a situação agravou-se nos últimos dois anos.
Nma segunda categoria grave de violações à liberdade religiosa, que classifica os países como responsáveis por discriminação, estão 38 Estados.
Neste grupo, onde vivem mais de 1,3 mil milhões de pessoas (quase um quinto da população mundial), encontram-se países como o Egipto, a Etiópia, o México, a Turquia e o Vietname.
Nestes locais, os grupos religiosos enfrentam restrições sistemáticas ao culto, à expressão e à igualdade jurídica, embora as pessoas não estejam sujeitas a repressão violenta, mas a discriminação resulta com frequência em marginalização e desigualdade.
Os analistas da ACN Internacional referem ainda 24 países que estão "sob observação", já que mostraram sinais de alerta, como um aumento da intolerância, a erosão das proteções legais, o extremismo religioso ou uma crescente interferência estatal na vida religiosa.
"Isto significa que 750 milhões de pessoas correm o risco de discriminação religiosa", lembra a organização.
De acordo com o relatório, o autoritarismo é a maior ameaça à liberdade religiosa.
"Em países como a China, a Eritreia, o Irão e a Nicarágua, o Governo reprime a religião através de vigilância generalizada, legislação restritiva e repressão de crenças dissidentes", denuncia, adiantando que "o regime autoritário está entre os principais impulsionadores da perseguição em 19 países e sustenta padrões de discriminação noutros 33".
Por outro lado, os analistas deram conta de um aumento da violência 'jihadista' numa "escala sem precedentes".
Em 15 países, contabiliza a organização internacional, o extremismo religioso é um dos principais fatores da perseguição e noutros 10, contribui para a discriminação.
"Do Sahel ao Paquistão, os grupos 'jihadistas' expandem-se através de redes descentralizadas, tendo como alvo os cristãos e os muçulmanos que não aceitam a ideologia extremista", afirmam.
Além disso, alerta a ACN Internacional, o nacionalismo religioso está a aumentar, alimentando a exclusão e a repressão das minorias.
"A identidade nacional é cada vez mais moldada pelo nacionalismo étnico-religioso, corroendo os direitos das minorias", avisa a organização, referindo que a situação promove perseguições em países como a Índia e o Myanmar e alimenta a discriminação em casos como a Palestina, Israel, Sri Lanka e Nepal.
"A liberdade religiosa tornou-se uma vítima global da guerra perante um aumento das situações de conflito em todo o mundo", adianta o relatório, segundo o qual os conflitos na Ucrânia, Sudão, Myanmar, Gaza e Nagorno-Karabakh resultaram em deslocações em massa, encerramento de igrejas e ataques dirigidos a comunidades religiosas.
"Houve um aumento acentuado dos crimes de ódio antissemitas e antimuçulmanos" após o ataque do grupo islamita Hamas em Israel, a 07 de Outubro de 2023, e a subsequente guerra em Gaza, asseguram os analistas, relatando aumentos em toda a Europa, América do Norte e América Latina.
Como exemplo, os analistas apontam a França, onde os atos antissemitas aumentaram 1.000% e os crimes de ódio contra muçulmanos subiram 29%.
Os ataques não visam só muçulmanos e judeus já que também os incidentes anticristãos também estão a aumentar nos países ocidentais, avançam.
"Só em 2023, a França registou aproximadamente 1.000 incidentes anticristãos, enquanto a Grécia reportou mais de 600 casos de vandalismo em igrejas", nomeiam os investigadores, acrescentando que, no Canadá, 24 igrejas foram alvo de fogo posto entre 2021 e o início de 2024 e que aumentos semelhantes foram observados em Espanha, Itália, Estados Unidos e Croácia.
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