Na verdade, aos olhos das pessoas comuns a ideia que com que se fica é que todas as forças políticas tendencialmente apoiam a regionalização do país havendo contudo diferentes perceções em relação ao “timing” para se pôr na prática esta ideia e os reais impactos nomeadamente no plano econômico. Contudo não deixa de ser estranho que todos estes intensos debates que a sociedade vem fazendo, estejam a concentrar-se mais no processo de votação e não no mérito do diploma aprovado, e que pode assumir proporções históricas, pois podemos estar mais perto de alterar a organização interna do nosso Estado.
Pessoalmente entendo que a dinâmica das ilhas pela via do aumento do diálogo entre as regiões e o governo central e pelo fato de aquelas virem a ter mais recursos para o seu desenvolvimento justificariam à partida um voto favorável de todos os Partidos. Daí sempre ter defendido que a regionalização é matéria que foge à simples lógica partidária, assumindo antes pelo contrário como questão de Estado e de interesse geral. Por esse facto, não se percebe muito bem que se seja contra aquilo que a sociedade há muito já entende como uma solução que o país deve experimentar, embora nos parece evidente a necessidade de se pôr de pé um observatório para acompanhar de perto todo o processo de implementação da medida.
Em vários países europeus, em matérias deste tipo costuma dar-se a liberdade de voto aos deputados., Parece-nos pois compreensível que face a uma matéria de evidente interesse nacional, que em nenhum momento tenha merecido um amplo consenso da sociedade política, parece-nos compreensível dizia, que no mínimo, os Partidos políticos deviam abster-se de arregimentar deputados para o processo de votação. Poupar-se-ia assim ao país lidar com estes episódios confrangedores que a direção do PAICV pôs em marcha acusando na praça pública os seus próprios deputados e ameaçando-os com processos de expulsão, criminalizando a consciência, cerceando liberdades àqueles que juraram defender o povo acima de tudo. Fica-se com a ideia de que a atual líder tambarina está empenhada em desmantelar toda a história do PAICV mas sobretudo empenhada em destruir a geração de José Maria Neves, e, ou aparece alguém a pôr um travão a esta senhora ou as consequências políticas de tais atos poderão marcar o destino deste Partido nos próximos tempos.
A democracia nunca foi uma lógica aritmética pelo que propor sanções por se ter apenas votado em consciência me parece não apenas excessivo como na contramão dos postulados da democracia. Dever-se-ia ponderar o mérito da decisão de se votar uma medida de regime, neste ou naquele sentido e não este condicionamento retrógrado ao exercício livre do mandato, condicionamento esse onde a nossa sociedade não se revê. A Presidente do PAICV optou mais uma vez pela lógica dirigista de que é publicamente acusada e pôs de pé uma narrativa curiosa de pretender disciplina de voto sobre uma matéria fora do perímetro partidário, negando uma vez mais a pluralidade e a diversidade que são a força dos partidos.
Em Maio de 2016 logo após as legislativas num artigo intitulado “O PAICV dos pequeninos” mostrei como a actual líder do PAICV tem problemas graves em lidar com a democracia interna no seu partido. A história vem-me dando razão e só ela Janira ainda não se deu conta do mal que a sua gestão vem fazendo ao histórico PAICV, não se coibindo de laborar numa teoria peregrina e impensada e que visa acusar e incriminar importantes ativos do PAICV, em particular aqueles ligados á geração de José Maria Neves.
A actual Presidente do PAICV labora numa lógica de divisão ao invés de união e esta tentativa agora de julgar e caçar mandatos a deputados eleitos pelo povo, faz parte do seu ADN, e a troco de um egoísmo exacerbado, ela continuará a sua cruzada de afundamento do Partido contribuindo para um enfraquecimento também da nossa democracia. O que será necessário fazer mais para que esta presidente perceba que a sua continuidade está a afundar o PAICV? Sem resultados políticos, sem capacidade para lidar com a democracia interna, colocando o PAICV em desgastes permanentes, o que espera Janira Almada para poupar a este partido e a esta sociedade?
Este processo de votação da Regionalização representou uma derrota para o PAICV sim senhor, mas em particular uma derrota da actual líder que 24 horas antes em pleno púlpito tinha garantido que o seu partido votaria contra. Contudo após este episódio a líder tambarina preferiu assobiar e seguir em frente, quando o mínimo que se esperava era que apresentasse a sua demissão da liderança face aos resultados (não) conseguidos. A democracia exige que saibamos a todo o momento tirar as devidas ilações sobre as opções feitas. Isso no entanto é algo que a líder tambarina não conhece. Nos momentos difíceis prefere citar inconsistentemente Cabral.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 883 de 31 de Outubro de 2018.