Os neo-prisioneiros cabo-verdianos da pós-liberdade

PorHermano Lopes da Silva,23 jul 2019 6:27

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Quem não diz o que pensa, nem pensa o que diz, “fora da caixa” (tonalidades partidárias), há-de transportar, ad aeternum, na sua íntima natureza de cárcere, um embuste, qual parasita intestinal criado como se de um animal de estimação se tratasse - um dia se retrata não saber onde começa e termina esse abominável ser; quem é, afinal, portador ou parasita?!

Apresento os meus sentidos pêsames, condolências, aos cabo-verdianos de hoje (à Nação cabo-verdiana - construção mítica menos moça que a independência), pelas irreparáveis perdas da liberdade cognitiva do pensamento próprio e do juízo, poder-se-ia ler tino, libertas das cores partidárias. 

Urge reinventar o cabo-verdiano, os intelectuais inorgânicos (nos moldes doutrora, quais Eugénio Tavares e Baltasar Lopes, etc.), começando pela despartidarização das almas e entendimentos, pela desparasitação de mitos intocáveis, recordando primatas no grau “O” da evolução civilizacional em plena era digital, pelo descomplexar dos raciocínios e atitudes como meio para se alcançar a suprema dignidade do ser humano destas Ilhas; exorcizar os fantasmas da bipolarização; desencarnar o atrevimento da ignorância; levar a todos a bênção da honestidade intelectual - ensinando que “saber que não sabe é também um saber”, aliás, valioso e decisivo, para quem se predispõe a aprender a pensar; 

Os níveis da dignidade humana e da salubridade cognitiva colapsaram-se, com a suspeita do irremediavelmente; uma verdadeira epidemia - a síndrome do “BI-POLAR”- sobrecarrega, hoje, o semblante da pobre gente destas Ilhas, qual endémica neo-epidemia, replicando e repescando mazelas outras, de proporções “equiparadas” às da década de 40; sim, porque a fome que grassa e oblitera a dignidade do homem nunca há-de ser a da pastosa matéria alimentar, e, sim, a da sua alquimia para o empoderamento da massa cinzenta na produção da salubridade mental - redescobrir Cabras que nos ensinem a cultivar bosques de dignidades para que não pereçamos neste “golpe de estanho no paraíso” (recordar é viver, mas, por vezes, é antecipação da morte – Ovídeo / Corsino).

Empoderar o pensamento e o raciocínio para que num futuro próximo possamos desenvolver a resiliência mnemónica necessária para enfrentar, com honestidade intelectual e total desaprisionamento do pensar, a nossa sustentabilidade (eliminando fanatismos e fantasias, enfermidades mentais, paranoias, esquizofrenias e obsessões compulsivas), para que todo o julgamento que doravante se faça seja na tomada de posições firmes no interesse de todos e de cada um; pois, já se viu que os poderes instituídos deixam, no ar, essa sensação de não estarem amiúde em harmonia com o bem comum e de cada indivíduo, este, por natureza, indivisível, portador, como se crê e é imprescindível, de dignidade associada indelevelmente à inalienável liberdade.

Mas toda essa disfunção é mínima se comparada com o colectivo sono-hipnótico (Nirvana), que nos retirou, até, a capacidade de sentir o nosso aprisionamento nesta masmorra existencial; pois, pelo sorriso estampado no nosso semblante alegre, pressupõe uma santíssima inconsciência, gratificante, que seria, apenas para um sonâmbulo, “recluso”, filho de duas datas disfuncionalmente polarizadas – a outra dimensão da escravatura?! É que para ser um prisioneiro basta trespassar a dignidade - travão à “acção abusiva ou arbitrária” dos (autoeleitos) tutores da consciência. Luto

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 920 de 17 de Julho de 2019. 

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Autoria:Hermano Lopes da Silva,23 jul 2019 6:27

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  27 ago 2020 16:51

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