“Sahara” – um dos pedaços do legado que McCoy Tyner nos deixou

PorPaulo Lobo Linhares,15 mar 2020 13:57

Partiu um dos grandes pianistas do Jazz – McCoy Tyner.

Para além de se ter destacado no ataque que fazia ao piano, o seu nome fica inevitavelmente ligado à parceria que fez com John Coltrane durante quase 5 anos.

Porém, injusto seria resumir a obra do músico apenas à época Coltrane, quase toda ela gravada na importante “label” do Jazz “Impulse”. (Aproveitando, abro aqui um parêntesis para sublinhar um dos mais belos trabalhos desta época: o álbum de John Coltrane e Johnny Hartman onde McCoy Tyner foi artista convidado).

Aliás, outra das referências de McCoy Tyner foi ter passado sempre por grandes “labels” como a “Impulse”, “Blue Note” ou a “Concord”, tendo sempre deixado referências musicais em cada uma delas.

Seria talvez o mais acertado em temos de crítica tocar aqui no inquestionável “The Real McCoy”, álbum de estreia do pianista na label “Blue Note” …o disco mais forte e marcante, o contributo mais valioso do pianista para os amantes e estudiosos do Jazz. Nesta época, a colecção luxuosa de músicos com quem tocou, destaca nomes como Freddie Hubbard, Lee Morgan, Stanley Turrentine, Grant Green, Hank Mobley, Donald Byrd, Joe Henderson e Wayne Shorter.

Todavia, e como a música é feita (também) de emoções que por muitas vezes nos fazem fugir da razão, quando somos levados passionalmente pelas nossas escolhas, pelas quais sem saber porquê, nos deixamos encantar…proponho as sonoridades que McCoy imaginou para “Sahara”.

É o primeiro álbum de Tyner, pós-época “Blue Note”, o que talvez lhe pudesse ter proporcionado algum tipo de liberdade/mudança para experimentações da dimensão deste disco.

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Considerável liberdade instrumental e musical – que vai ao uso de instrumentos como o Koto, de variações musicais sublimes… num todo que nos remete para o mundo do imaginário.

Quase sem querer, criamos rapidamente imagens interiores ao ouvir este disco.

Viajamos para sonoridade orientais em “Valley of Life”. Se preferirmos injecções de energia jazzística, suportadas por uma impressionante linha de baixo, temos “Ebony Queen”.

Pelo meio um tema a solo de Tyner – “A Prayer for My Family” destacando sua faceta de instrumentista.… após tudo isso, alguma preparação interior para ouvir o enorme tema “Sahara” – ventos percussivos, sons e sensações que à partida deveriam ser só musicais…, mas que são muito mais. O quarteto fulgura. Para ouvir, sentir e deixarmo-nos transcende. Intenso e cerebral.

Fica assim a música de um de muitos álbuns que McCoy Tyner nos deixou como legado.

Só nos restará agradecer e celebrar, ouvindo-o.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 954 de 11 de Março de 2020. 

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,15 mar 2020 13:57

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 mar 2020 13:57

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