Contudo, como tudo tem o seu tempo, Soren Araújo, creio ter chegado em momento exato – o dele.
Calmamente, fez a sua viagem, parou onde achou necessário e bebeu da experiencia de vários portos. E temos assim o disco resultante das experiencias emocionais e musicais de Sori.
Viagem, conforme acima referido, é a primeira palavra que nos vem à cabeça, ao ouvir o resultado final deste trabalho.
Seguindo por entre estradas de ondas calmas e mares de asfalto e terra, tudo o que luzia experiencia ia sendo acumulado por Sori. A recolha foi minuciosa e selecionada, pois as peças teriam de ser as preci(o)sas e ir ao encontro daquilo que Sori idealizava. Notas umas, sons outros, melodias experimentalistas muitas, foram sendo recolhidas em vários lugares, países e diferentes continentes.
Contudo, para que tudo isso ganhasse forma musical, seriam precisos músicos, que também partilhassem a mesma alquimia musical.
E o grupo aconteceu. Praticamente por conexões que se baseiam na Teoria dos seis graus de separação do psicólogo Stanley Milgram, que Sori defende ser uma das bases construtivas deste projeto - onde se lê que no mundo são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas.
E assim, houve as ligações, e como tudo o que acontece com a ajuda da musica – pois ela nunca se esquece de juntar quem por ela se apaixona – formou-se um sexteto de luxo onde a base é compostas pelas cordas de Soren, que se misturam com os ritmos do set de percussão criado por Adrian Trujillo, que da Espanha-mundo trouxe uma contemporânea perspetiva deste instrumento, obviamente que integrado num set que não fica pelo Cajon….Fica sim marcado por momentos deliciosos que misturam o Cajon a jogos de subtis palmas, com as cordas de Sori a mistura. Com mais músicos de excelência, o quinteto consegue, de forma assertiva e descontraída, passar a mensagem.
Há musicas que foram compostas em jardins da India, outras nos muros de Marrocos a olhar para Espanha, nos verdes castelos celtas de Wales, ou ainda pensadas e “causadas” pelas nossas ilhas, que em grande parte significam para o musico as ligações fortes com a família miais direta, ancora que o retém e oferece segurança, quando parte em viagem para longínquos destinos. No disco, bem presente a ancora e, toda a coleção das tais peças preci(o)sas e notas que fazem sonoridades que passam musica celta, oriental, africana, num denominador comum marcado pelo Rock e algum Metal. a primeira paixão de Soren.
Assim, voltarei com certeza ao disco quando sair, mas deixo aqui a proposta para o live-streaming que mostrara um pouco da beleza que (ou)vi no disco e que já tinha visto em Sori… não tenho duvidas que este trabalho denso, mas descontraído, intenso, mas “peaceful”, carregado de relações pessoais justificará audições seguidas.
Assim, tudo o que foi dito, nunca teria acontecido, se Sori não fosse essa mistura de talento e humildade, que se empenha tanto no cultivar das relações pessoais, emocionais e que um dia a musica escolheu para ser um dos seus guardiões.
Assim, comecemos pelo “live streaming” da Ubuntu e da Afrikbeat.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 985 de 14 de Outubro de 2020.