Juízos e pensamentos incómodos

PorPéricles Barros,21 jan 2022 18:32

Das minhas Lentes: Flashes das comemorações do 13 de Janeiro de 1991

⦁O Dia 13 de Janeiro foi de massagens ao ego colectivo da liberdade e democracia; discursos para todos os gostos. Alguns bem previsíveis, e que podiam ter sido encomendados, não faltando uma vírgula … será que alguém ouviu algum rasgo de inovação e ou de clara roptura com o costumário, alguém ouviu?

⦁ O 13 de Janeiro, dia da Liberdade e Democracia, constitui para mim, efeméride e conceitos muitíssimo caros; Liberdade e Democracia.cv, são conceitos também “Car(ro)s” para muito boa gente, mas com diferenças substantivas: para alguns, são também car(r)os, ... mas sem rodas, para outros car(r)os com as rodas no chão. 

⦁Para o último orador neste dia especial, o PR da República a L e a D esta viatura está sendo permanentemente torpedeada pelos próprios condutores, engenheiros, projetistas e construtores (leia-se os eleitos nacionais, os actores políticos, de forma legitima e legal impedindo-a de prosseguir viagem. Das minhas lentes, esta afirmação é das mais relevantes do discurso do PR da República. Devo admitir que é algo perturbador, mas certamente não é de todo inédita. Talvez desta feita, foi expressa de forma contundente e clara, pelo que requeria alguma reflexão adicional tendo em conta a gravidade que carrega. 

⦁Os restantes discursos podiam ter sido encomendados de escribas credenciados da nossa urbe, com qualidade idêntica ou superior. De entre todas as intervenções fácil foi identificar uma valência comum: VIVAM o 13 de Janeiro, a Liberdade e a Democracia, como não podia deixa de ser nesta ocasião, para não destoar... 

⦁Dos discursos das oposições, pude apurar uma traça dorsal comum clara e inequívoca: a liberdade e democracia.cv estão em maus lençóis, há disfunções e mais sinais de degradação, do que prenúncio de melhores dias. A grande maioria dos desabafos foi, de facto, preocupante. Para quem não está no poder, o sistema não funciona, as oposições estão sufocadas, a falta de transparência grassa, a imprensa livre, ex-libris das democracias consolidadas, está ameaçada, a justiça não tem credibilidade, e o processo democrático teria iniciado no tempo partido único. Tudo isto, com especial realce às sub-reptícias deliberadas, mas referências aos casos recentes, “Amadeu Oliveira “e “Santiago Magazine, Hermínio Silva versos PGR “. 

⦁Para a situação, a nossa viatura democrática é um Lamborghini Diablo topo de gama. É só consultar os “ratings” atribuídos a Cabo Verde sobre os indicadores nacionais de qualidade da democracia e afins, pelas instituições internacionais credenciadas e autorizadas. Para a situação, os discursos das oposições são antíteses absurdas da realidade, e não passam de “invencionices” de quem quer o poder pelo poder e os indicadores têm sido interpretados de forma enviesada. Enfim ... tudo ao contrário. 

⦁O discurso do PR da Assembleia Nacional foi sóbrio, o quanto baste. Timbre de homem de Estado, e nem podia ser diferente. Absolutamente expectável, mas talvez com alguma “branda e inofensiva ingenuidade política de permeio”. Entretanto, o discurso foi pedagógico, porquanto útil e oportuno, contrariando muita malandragem política que grassa amiúde por aí, sem ofensa… (toca a aqueles que sões, como dizia o outro…) 

⦁O discurso do PR da República foi na mesma toada, porém revestiu-se de dimensão outra. Extremamente cuidadoso com as palavras, o verbo foi escolhido a dedo. O discurso do momento, naturalmente talhado com a habilidade que lhe é peculiar. Jogou com muita subtileza. O tom foi o prenúncio que ele irá pôr em prática toda a sua argúcia, mantendo uma postura política, a meu ver, com dois objectivos bem distintos, a saber: primeiro, mostrar que o investimento e o “clout” políticos que impendem sobre ele, serão utilizados para o bem da Causa Nacional; segundo, de forma inteligente desafiar e eventualmente desgastar o executivo, lá onde for necessário. Alguém duvidou da mensagem política clara que o nosso PR enviou aos demais poderes? Tudo a propósito das diatribes, tricas e desacertos entre o governo, Santiago Magazine e a classe jornalística sobre o caso Paulo Rocha, vs. desaparecimento de Zezito Denti D’Oro, Hermínio Silva e quejandos? Nada inocente, e será uma espada de dois gumes. Ora, se tem havido resquícios de dolo, parcialidade e/ou falta de transparência na gestão deste imbróglio por parte do governo, este irá acautelar-se devidamente nos próximos capítulos desta novela a bem da verdade. Caso a montanha venha a parir um rato, ficará claro a ingerência dispensável (?) do PR em questões do foro judicial. Isto não deixará de beliscar a integridade e independência de um órgão de soberania – o PGR ... aí caro PR, “cau ta mâria... e o caldo estará literalmente entornado. 

⦁Ouvi também do discurso do PR qualquer coisa parecida com isto: os golpes na democracia que causam mais danos, retrocessos e compassos de espera à nossa robusta democracia são provocados pelos próprios eleitos de forma legal e legítima … Ops!! ⦁Parece tratar-se, na óptica do PR, de um processo de antropofagia interna, ou de “Minagem” perniciosa e desleal do sistema pelos próprios actores políticos, promotores e mentores da democracia. 

⦁ Parafraseando ainda o PR da República, registei: enquanto não se resolver as questões básicas de sobrevivência das populações, a saber, as desigualdades sociais galopantes, o desemprego jovem, os problemas crónicos a prestação da saúde pública, a falta de segurança de pessoas e bens, não poderemos dizer que a democracia atingiu os seus propósitos. Não podia estar mais de acordo. Senão vejamos, será que estamos mais preocupados em polir a pintura do carro do que garantir que este nos leve ao destino previsto? Aparentemente estes males e disfunções estão a recrudescer, dia a dia. Em que ficamos? Precisamos da democracia para quê, senão para nos proporcionar espaço para, na diferença, aumentar de forma contínua a qualidade de vida da sociedade em geral e cada cidadão em particular ? 

⦁Sr. Presidente da República, “Quo vadis”? Estamos à espera. É só surpreender-nos pela positiva e não deixar que o bichinho da apetência para governar, nuble os seus votos e promessas de cumprir a Constituição e respeitar os seus limites, firmados no altar da tomada de posse. 

⦁A melodia do bailado presidencial provoca necessariamente” harmónicos” quase imperceptíveis. Se ocorrerem de forma natural e se o PR não se preocupar somente em PARECER SER, mas essencialmente em SER ... então teremos um PR à altura. 

⦁Sr. PM, UCS, infelizmente o espaço foi designado para actores políticos outros e específicos da praxe. Porém uma palavra de circunstância: continue a governar com serenidade: o canto da sereia deve ser sempre muito bem interpretado. Este canto vai sempre existir, para o gáudio e real engrandecimento da democracia.cv. Se os superiores interesses do país estiverem no horizonte não hesite … nem para apanhar embalagem. Entretanto penso ser uma verdade de La Palisse, assumir que interesses políticos menos explícitos estarão permanentemente presentes, que importa serem geridos. 

⦁O sucesso de JMN enquanto PR de República será indubitavelmente um ganho para a Nação cabo-verdiana e é desejável. Por outro lado, este sucesso será um activo e um balão de oxigénio para o PAICV, não obstante o apoio reservado que este partido deu à sua caricatura. JMN não subestimará este subproduto político particular tendo em conta que sempre esteve, está e estará estrutural e ideologicamente vinculado ao PAICV. Concordam? “nothing new”. 

⦁Vamos desacreditar na democracia.cv? Fora de questão. Porém, estou cada vez mais convicto de que a democracia está debilitada e carece de ferramentas especificas para contrapor tendências predatórias, eventualmente provocadas por quem não era expectável. 

⦁Ninguém disse que alguns “órgãos de comunicação social em geral em Cabo Verde, foco central das polémicas da actualidade), têm fragilidades estruturais graves, resultantes da sua condição económica dependente e precária. Daí resultam roídos estranhos, autocensura com efeitos pouco abonatórios para a importante e nobre função dos media na democracia. Entretanto, foi evidente o afã em focar a relação conturbada entre a comunicação social e os poderes em geral, como um roído na democracia. Se calhar o momento não era propício para o efeito; mas é mais que lógico depreender que preferências políticas legítimas de alguns elementos do quarto poder, existem, são legítimas, mas muitas vezes são mal geridas, interferindo mais vezes que se desejaria, nos produtos jornalísticos, subtraindo-lhes qualidade. Alguém contesta? Assim se justificam os excessos de zelo, o desprezo, descaso (ou falta deles) aplicados a certos temas por determinados elementos da classe. Bem, visibilidade é boa e recomenda-se ... falem de mim não interessa o teor! 

⦁ A democracia, como sistema, é necessariamente um processo dinâmico e estará em amadurecimento e upgrading permanente. Creio que disto ninguém duvida. Falta se calhar é coragem para pôr o dedo na ferida lá onde for necessário e oportuno, e dizer que nós abraçamos esta opção que não somos escravos dela ... existe sim para nos servir e não o contrário. Péricles Barros (Cidadão)

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Autoria:Péricles Barros,21 jan 2022 18:32

Editado porAndre Amaral  em  21 jan 2022 18:32

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