Antero Simas – Doce, Alma e Violão

PorPaulo Lobo Linhares,26 jun 2022 7:40

​“Paixão pela música” será, com certeza, uma das expressões que define o músico e compositor Antero Simas.

Por ela se apaixonou e com ela ofereceu-nos vários momentos de beleza, como, por exemplo, quando – por amor às ilhas – “até a geografia de Cabo Verde é desafiada” numa “Doce Guerra”, ou ainda num dos mais lindos temas, onde homenageia o mestre e amigo Luís Rendall em “Alma Violão”. Foram mais de 40 composições gravadas…, mas nestas duas, conseguiu alcançar faustos de elevação musical, literária e imagética que nos mostram o quão grande foi-é Antero Simas.

Acredito que a doce guerra que Simas se dispôs a aceitar terá sido provavelmente a mais bela maneira de contar e cantar Cabo Verde. Sim meu caro Antero, na simplicidade de brincar com as ilhas e seus pertences, confesso-te agora que me mostraste o quanto pode ser fácil explicar ao meu filho o que significa a palavra Cabo-Verde…o tal arquipélago ligado e separado pelo mar e que moldaste num único sentir….

Aliás, o sentir era algo facilmente descrito pelo compositor. Só assim seria possível conseguir chegar à alma de um violão, descrevê-la e alcançar estádios tão distintos de beleza, num só tema….e se a isso juntarmos que o belo criador foi para homenagear alguém que ele admirava, junta-se a tudo o que já foi dito – a nobreza – que …um dia em poucas horas de conversa contigo no Sal, senti – e que um amigo de ambos – o nosso querido Moisés tanto me contava – …nunca comentei contigo, mas faço-o agora…

E tantos outros exemplos poderíamos aqui dar que traduzem a ligação estreita à música, que Simas transpira. Como disse, foram 40 gravadas e tantas outra cravadas em bancos de jardins, de quintais ou que se perderam nas tocatinas.

Indo mais atrás, contam os escritos que tudo começou em casa, desde muito cedo, por intermédio do pai, clarinetista, mas acima de tudo homem apaixonado pelos discos. Por entre o violino do avô e as audições do pai, o menino que aos 10 anos já fazia os seus primeiros acordes na guitarra, foi crescendo, procurando sempre estar perto da música através dos amigos da rua onde vivia. Era a época da troca de discos e procura de instrumentos musicais (que muitas vezes até fabricados eram, como a primeira bateria do grupo de Simas) de todos os que andavam de braços dados com a música.

Dos agrupamentos musicais da adolescência ficou sempre ligado às sonoridades do Rock, que em parte influenciaram a música do seu primeiro grupo “mais a sério”, “Os Apolos”, com nomes conhecidos como Zeca Couto, Secré e liderados por Manel Clarinete.

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Entretanto, quis a vida profissional que Simas fosse transferido para a ilha do Sal. E como a sorte do destino favorece sempre os humildes – outra das características muito referidas por amigos do músico com quem conversamos – Simas encontra Tonecas Marta e o mestre Luís Rendall. Se o primeiro, com quem faz a primeira das suas 80 composições, arrasta-o para as tocatinas, o segundo – Mestre Rendall – foi o responsável por uma forte dose de inspiração, conseguindo que o jovem músico se soltasse e olhasse de forma diferente para a música de Cabo Verde. Terão sido os dois nomes cruciais no despertar de Simas para a nossa música, onde viria a tornar-se um dos mais conceituados cantautores. Sempre assumiu preferir cantar o que compunha e vários foram os grupos que o interpretaram como Bulimundo, Tubarões, Mirri Lobo, Simentera, Cesária Évora… entre outros.

Grava um disco, “Kriolo”, que diz ser uma mistura de todas as suas influências musicais.

Claramente um dos tantos discos de excelência que se tornam esquecidos, ou diluídos pelos que vão aparecendo, fruto da aparência.

“Kriolo” é sim, incontornável. Assim como misturou primeiro as ilhas num só tema, aqui mistura convidados e músicos que admira num só disco…talvez a sua segunda “Doce Guerra” agora por ele parido.

Sobre muito do que foi Simas proponho um post do músico Djoy Amado na sua página do Facebook, de enorme clarividência.

Recorrendo de novo aos amigos, contam que olhava para o futuro da música de Cabo Verde com optimismo, elogiando de forma humilde e crente a nova geração de músicos. Estes seguir-te-ão certamente.

É por todos reconhecido pela sua simplicidade e humildade, características tão necessárias à música.

Obrigado Antero Simas. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1073 de 22 de Junho de 2022. 

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,26 jun 2022 7:40

Editado porAndre Amaral  em  27 jun 2022 15:48

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