Há 40 anos, Bulimundo lançava: “Ó Mundo Ka Bu Kába”

PorPaulo Lobo Linhares,21 ago 2022 10:29

​É difícil escrever sobre o que nos encanta: nossas preferências e heróis musicais.

É difícil. Em cada palavra que deixamos (são tantas…) temos sempre a sensação de que sem ela não conseguimos expressar por inteiro o que sentimos. Tentamos assim, ser o mais próximo possível. 

Por outro lado, há o factual, as marcas que fizeram o disco, músico ou compositor que abordamos. 

Hoje, tentarei falar de heróis que desde muito cedo me conquistaram pela musicalidade nova que me chegava e, mais tarde, por perceber o quão preci(o)sos foram para a minha formação musical e acima de tudo para a história da música cabo-verdiana. Falo do grupo Bulimundo – o grupo que me foi arrebatando aos bocados, onde consoante o conhecimento musical que ia adquirindo também descobria que iam sendo maiores em prestígio, qualidade e grandeza. 

Aos poucos, ainda iam significando Cabo Verde. Todo um Cabo Verde em música típica e própria. Hoje trago, junto a mim, o disco “Ó Mundo Ka Bu Kába”, gravado em 1982… e que abre com o tema que deu nome ao disco. 

Por entre as vozes de Zeca di Nha Reinalda e a de Zequinha, no meio, como que a deslizar suavemente entre o resto de cada uma das músicas – o tema “Melodia Nº2”. O brilho-sentimento de um tema instrumental dos Bulimundo. 

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Por entre funanás, coladeras e mornas os pormenores como por exemplo o começo do tema “Nhu N`Toni”, a popularidade de “É Duedo” que abre a segunda parte do vinil e que logo de seguida arrasta dois temas que para mim têm lugar cativo: a magnifica morna, linda da letra à música, em forma de “Serenata” e o explosivo e significativo “Fidjus di Funaná”. Sim Bulimundo, em parte fizeram muitos sê-lo. 

Se o valor musical do disco é enorme, deverá ser ainda acrescentado o valor da peça de uma indústria discográfica, onde vai sendo cada vez mais raro falarmos de discos com 40 anos, com o grupo ainda no activo. Sim, 40 anos de “Ó Mundo Ka Bu Kaba”. 

Lembro-me de quando ainda trabalhava na FNAC fazer campanhas enormes e edições especiais do 20º aniversario do “Nevermind” dos Nirvana ou do 30º aniversario de “Joshua Tree” dos U2. 

Comemorava-se com edições especiais. Merecidamente, pois os discos têm vida e atravessam-na sempre ao dispor de quem os ama. Se os representantes de quem os fez ainda estão no activo, o brilho é então bem maior. Começam quase que a deixar de ser matéria para passarem a ser algo de quase etéreo. São claramente peças espirituais. Transportaram o momento de então transformando-o em história. Acumulam tempo em forma de sabedoria e ganham a medalha de: transversais ao tempo. 

E neste caso, como o são: disco e grupo. Ainda há tanta estrada que se adivinha nos Bulimundo que, munidos da tal sabedoria adquirida ainda têm a energia que os permite olhar para o futuro, onde estradas ainda certamente se abrirão.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1081 de 17 de Agosto de 2022.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,21 ago 2022 10:29

Editado porAndre Amaral  em  22 ago 2022 16:00

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