Na sua 1ª viagem pelas ilhas, a Organização da Gala dos CVMA elegeu ilha do Sal para a realização do evento da entrega dos prémios da musica.cv. Uma escolha assente na narrativa, já nossa conhecida, a da necessária “descentralização” dos eventos nacionais, reforçada ainda, pela “conexão” e o “bom casamento” entre a cultura e o turismo.
Aconteceu assim, no passado sábado, dia 3 de junho, num dos Hotéis do Grupo TGR – Meliã Dunas – a cerimónia de entrega dos prémios aos melhores da música cabo-verdiana referente aos trabalhos lançados durante a “época musical-2022/23”. Foi para muitos, um dos melhores sítios de acolhimento do evento, que se conheceu até hoje. Noite calma, gente bonita, muito glamour, passadeira vermelha, muitas fotos, poses, “faces” e vídeos. Personalidades politicas, o próprio 1º Ministro se fez presente, Ministros, Corpo Diplomático, Artistas nacionais, residentes e não residentes, e artistas estrangeiros, os nomeados e os convidados, turistas - todos ansiosos pelo Show da Gala CVMA 2023.
Da Direção Artística do Evento
A cerimónia começa pelas artes performativas e de palco, peculiar, das noites de animação das grandes cadeias de hotéis. Modernistas! Futurísticas! Contemporâneas. Porém, as performances, muitas vezes, ficam desconetadas com a essência, as raízes, a seiva, as fontes primárias das coisas – Cabo Verde. Por muitos, consideradas impessoal, pouco autênticos, e de pendor muito comercial. Reconhece-se a intenção e o esforço do grupo, no querer projetar Cabo Verde durante a atuação. Entretanto, o momento é pouco impactante!
O guião dos apresentadores, a lindíssima Kathy Moeda e o seu par Angolano, Matamba Joaquim, ficaram à volta da música, da cultura e da exaltação, somente textual e verbal, da encantadora ilha do Sal. Entretanto, o espetáculo não se direcionou para que naquele momento, com recurso, por exemplo, ao audiovisual, se projetasse ao mundo, aos Cabo-verdianos que assistiam, nas ilhas e na diáspora, os encantos, quer da ilha, quer do país e muito menos, do Grupo Meliã. Aliás, quanto a este último, ficou a perceção que o Presidente do grupo tenha preferido fazer ele mesmo, as honras da casa. Tendo sido feito, por ele, e por mais 2 (dois)convidados seus, discursos com uma duração de quase 15 (quinze) minutos exclusivamente na língua inglesa, sem que a organização se tenha lembrado dos serviços de tradução.
As Merecidas Menções Honrosas
O show que teria iniciado pouco impactante, porém, bem internacionalizado, porque até aqui a “falação” dos convidados teria sido na língua inglesa, prosseguiu para o momento das justas e merecidas homenagens – “Menções Honrosas” – feitas de UMA ASSENTADA:
Banda Base dos CVMA: C.A.R.T.E.L
Produtor: Djunga de Biluca
Compositor: Constantino Cardoso
BeatMaker: Mr. Marley
Uma vez mais, a criatividade artística e a direção de palco pecaram no alinhamento deste momento. Misturaram-se muitos aspetos numa única ocasião, subaproveitando os materiais audiovisuais anteriormente produzidos e projetados.
Um dos “MESTRES DE OBRA” queria eu dizer “OBREIRO” da música Cabo-verdiana, pós-independência, Djunga de Biluca, sai desta edição sem a devida vénia para a sua merecida obra. Aguardaremos outros momentos, quer venham a ser dos CVMA, quer do Ministério da Cultura, importa sim, que se reconheça ao mais alto nível, o tamanho empenho e dedicação à causa da cultura regional e nacional do Sr. DJUNGA.
O compositor Constantino Cardoso, no seu momento de vez e voz, reivindica o seguinte “…um tá otchá que música de carnaval já merecê um categoria ness coza…”. Pois saiba Constantino, que como disse o teu colega das andanças carnavalescas “…um t´ôtxa dritin…”.
Merecidas honras à jovem banda C.A.R.T.E.L e a todos os jovens instrumentistas desta nova geração de talentos, que um pouco por todo o país, vão demonstrando, que a nossa música está em boas mãos e que “…enquanto houver Cabo-verdianos com vontade de criar e partilhar, nem grogue e nem a cultura cabo-verdiana, “ka ti tá bem cabá, nem morrê…”.
No futuro, haverá crise de identidade musical? Quais são os nossos géneros tradicionais?
Sob o lema deste ano, “O FUTURO É AGORA”, iniciou-se as premiações com a categoria – Melhor Colaboração.Embora tenha sido vencedora a música, GOSTO SABI – do Gil Semedo feat Calema e Soraia Ramos - a gala passou por um AMARGO DE BOCA quando na categoria – Melhor Tradicional – venceu a Fattú Djakité com a música “Caminho Longi”. Convêm refrescar ao leitor menos atento, o seguinte: enquadra-se nesta categoria de - Melhor Tradicional – todos os outros gêneros tradicionais, que não sejam, Morna, Coladeira e Funaná, pois estes 3 (três)referidos possuem categorias independentes. Sim! Tradicionais! Porque, convêm reforçar, que existe a categoria de premiação de nome – Outros Ritmos – que engloba todos os outros ritmos e as sonoridades de músicas feita pelos Cabo-verdianos.
Muitos são os cabo-verdianos que, desde o último sábado, se sentem tocados na sua “Cabo-verdianidade”, pois, parece que, nós os Cabo-verdianos de origem não conseguimos enumerar quais são os outros ritmos/gêneros tradicionais que não sejam, Morna, Coladeira e Funaná! Se não conseguimos aqui e agora, nem tão pouco, no futuro.
Os Cabo-verdianos apenas esperam da Academia dos CVMA, que indiquem qual é o género musical tradicional que a música – “Caminho Longi” de Fattú Djakité representa.
Caso os Académicos dos CVMA não esclareçam esse imbróglio, fica nas mãos dos Cabo-Verdianos, a responsabilidade de irmos “(…) pa riba dês (…)” conforme nos aconselha Batchard e Kiddye Bonz – vencedores do - Melhor Vídeo Clip do Ano.
Cotxi-Pó é ou não é Funaná?
Já o babado da categoria - Melhor Funaná – é o seguinte: os nomeados eram Tony Barros feat Ferro Gaita – com a música “Fladu Flá”; Fidjus Códe di Dona – com a música “Odju na mi” e Lippe Monteiro feat Zé Espanhol, Legemea, Fidjus Codé di Dona – com a música “ta Duêm”. O leitor atento já percebeu, e bem, que as duas últimas músicas enumeradas, e finalistas, nesta categoria, eram “Cotxi Pó” da pesada.
Venceu nessa categoria, o Tony Barros feat Ferro Gaita com a música “Fladu fla” como o – Melhor Funaná. E, lançou-se nas redes sociais, uma vez mais, um aceso debate entre os Cabo-verdianos - estudiosos e curiosos da música Cabo-Verdiana - se Cotxi-Pó é considerado um novo gênero musical de Cabo Verde? Ou, se seria uma evolução natural do funaná ao longo do tempo? Fica aqui, matéria para investigação por parte dos Académicos do CVMA.
Permitem-me só um espaço de humor para uma brincadeira nesta categoria: “…fladu flá…” Cotxii Pó, cá Funaná “…ta duêm…”, “ta duêm” “…si mé, si mé…” ami como Cabo-verdiana estou apenas à espera que agaita desafine e a faca no ferrinho pam pila nha badju “…si kré…” és “…teni odju na mi…” “…si kré…” ês tem “boka na mi”.
Um Show marcado pelos 3(três)P’s
O Show desenrolava-se com um púbico aparentemente “frio” nas suas demonstrações de afeto e na forma de interagir com o palco, num ambiente também calmo e tranquilo. Talvez, descrevendo o palco consigamos desvendar a “perceção” com que fiquei deste público distante e pouco participativo. O palco com um design lindíssimo, conseguido, em cima ou no após extensão, de uma belíssima piscina, funcionou muito bem para as magnificas fotos e ainda serviu de passarela para os artistas vencedores desfilarem glamourosamente até aos apresentadores e aos “entregadores” dos prémios.
Entretanto, a mesma piscina que separava o palco do público e vice-versa, permanecia ali num constante convite a um mergulho “fresco”, funcionando com um “…mar azul, mar azul…” de distanciamento entre os “do palco e o público”. Como diria a nossa gente de Santo Antão ficou uma espécie de “…tú lá, mi aí…”.
Um Show tranquilo sem muitos altos e baixos
Fluía-se o show sem muitos momentos de muita emoção, porém, tranquilo e sem contestações. Estaria o público presente agradado com os vencedores nas diversas categorias? Uhhhh(…)! Será que os júris dos CVMA estão a pouco e pouco acertando na pitada do Sal? Ou será que este ano os níveis de qualidade dos trabalhos dos nomeados nas diferentes categorias estavam mais equilibrados? Que será? Que será?
Falando em pitada de Sal, os artistas convidados a preformarem em palco, iam se desfilando, e o “Salgadinhe” Mirri Lobo com a sua voz melodiosa, possante e potente seduzia tudo e todos (e todas). A Jenifer Dias, também, teve um grande momento de conexão com a banda e o público, sendo ela detentora de um “vozeirão” e uma grande presença de palco e um à-vontade com as câmaras. Outras atuações não nos seduziram, pois ficava a perceção de “fraca conexão” com a banda e pouca expressão de palco. Se o leitor ficou curioso que vá assistir o livestreaming na página do facebook dos CVMA.
Menções especiais à Fattú Djakité na receção da distinção – Melhor Interprete Feminina – deixando a mensagem do “quão bonito e importante” que não percamos a capacidade humana de identificarmos o “brilho no olhar” uns dos outros. À Lucibela, pela humilde partilha, do seu prémio, na categoria de - Melhor Coladeira - com a sua colega de gravadora, Harmonia, Jennifer Soledade. Um, “…ai scatsss, à Jenifer Solidade pelo prémio - Melhor Morna do Ano – com a música LUA, numa noite de LUA CHEIA, uma criação/composição da própria Jenny dedicada às filhas e, compartilhada com todas as mães artistas (obrigada Jenny pela parte que me toca).
MC Acondizé – o Pokemón
Os mais atentos não ficaram indiferentes às palavras do MC Acondizé - recebeu o prémio do - Melhor Artista em Palco. Acondizé disse que sofreu muitos desincentivos logo no início de carreira, mas, hoje, vende seu produto cá dentro, e lá fora, com sua agenda lotada “sold auti”. Reconhece que no início foi difícil, mas hoje, é um artista em evolução. Ambiciona alcançar o melhor de África e o melhor do mundo.
Eu reconheci claramente a evolução do MC Acondizé. Acondizé integra a lista dos melhores trajes da noite. Esteve no tapete vermelho com um lindíssimo fato verde, porém, chegou na receção do prémio com um glamoroso fato amarelo. Acondizé! Não restam dúvidas, que se fosses um Pokemóm, já estavas de Pikatxú “pa frente”. Por isso “(…) Pica, Pica, Pica txúuuuuu, neles!”.
Sónia Sousa - a menina que “já deu Mudjêr”
Sónia Sousa com a sua colaboração na música – “Dixam búa” – do Rapper Hélio Batalha foi a MULHER da NOITE. Falhou a distinção na categoria – Melhor Colaboração – para o Gil Semedo, falhou também na categoria - Música Popular do Ano - para a Neyna -, porém, com a música “Dixam búa” - levaram a distinção de “Melhor Afrobeat/ Afropop/ Afrohouse do Ano – entregue pelas mãos do veterano Tito Paris –, que sequer quis perder tempo enumerando os outros nomeados naquela categoria –, como quem diz, “…Ohhme, sé pé mi/t´ma nhôs búa…” Bom, a Sónia recebeu sozinha o prémio, o Hélio Batalha, não se fez presente nos Grammy´s.cv deixando a suspeição no AR será que é “mé d´vera” “…quês ka gosta di Batalha?”. E, ainda, a Sónia Sousa levou o prémio - Artista Revelação do Ano. Para uma jovem menina, podemos dizer-te: Sónia! “És o nosso futuro”. E, se o lema era “futuro é agora”. Querida! és o nosso Presente. Felicitações!
Ministro Guru Motivacional e Soraia de Deus “Ká nhos mexêm na trabadjús dos júris”
Outros dois momentos que mereceram a nossa atenção foram:
Primeiro, a presença no palco do Ministro da Cultura das Indústrias Criativas – Sr. Abraão Vicente precisou esclarecer à nação que na Categoria – Melhor Influencer Digital - entre os nomeados Kathy Moeda (a apresentadora) e Abraão Vicente (o super Ministro) venceu (ao menos por agora) a Kathy Moeda.
Srº Ministro, como diriam os espanhóis “não passa nada” a Kathy leva-te o prémio este ano, porém, entre o “MAR de trabalho que o Ministro deva ter, pedimos-lhe que não perca a CULTURA (de fazer) e nem a CRIATIVIDADE (nos teus) vídeos”. A oposição “…podi até manda boca…” o importante é “…bú povo manti corpo rijo, SEMPRI…”. Confesso-me fiel seguidora e apreciadora da tua vertente Guru.
O Ministro, Abraão, com o seu traje africano todo de branco ficou nomeado ainda na categoria – Melhor Traje Masculino – sendo que, desta vez, levou a melhor, DJ Pensador – que para nós impunha o traje masculino mais bonito da noite. DJ Pensador, esteve “mais bem” vestido, que o próprio criador e estilista Cinzo Gamboa. O Ministro Abrão entregou o Prémio de - Melhor Kizomba – ao também jovem, Lizandro Cotxi.
O segundo momento intrincado do show foi o proporcionado pela Soraia de Deus, Diretora de Comunicação dos CVMA, que durante a sua presença no palco para a entrega do prémio na categoria – Música Popular do Ano – abordada pela apresentadora, numa visão e propósito de exaltar e destacar o enorme trabalho dos jurados, permitem vos transcrever a própria Kathy “…quem vê vocês assim plenos e maravilhosos não sabe o que acontece lá atrás…” ao que a Soraia respondeu “…não sabe e nem tem nada que saber, o que importa é o que acontece, cá a frente…”. Sei que a intenção da Sú era a melhor possível! Porém, Sú! Súsú! Eu não gostei daquilo que ouvi! Há quem diga o seguinte “…a boa governança e a transparência são os principais ativos deste país insular”. Deixo aqui uma sugestão para título de uma criação na categoria - Afrobeat/ Afropop/ Afrohouse - “Dixanú sabi”.
Livity e o Jorge Neto – O SHOW!
Prémio Carreira deste ano, o grupo Livity mereceu o devido reconhecimento dos CVMA. Sei bem que, os reconhecidos foram eles, mas, quem “aproveitou” fomos nós! Nos seus 20 (vinte) e poucos minutos de palco desenharam o melhor show possível. Num repertório que incluiu as seguintes músicas: “Livity”, “Felicidade”, “Bia” e por último “Sem Ninguém”. Para um bom entendedor de Shows percebeu-se que: a escolha das músicas e não de outras do repertório do Livity não foi à-toa, e o alinhamento, o encadeamento e cadência das músicas não é pela mera vontade. Foi propositado para que o que o público sentisse o fator. Show! Emoção! Bom di Bola! A vinda do além do Jorge Neto serviu para consolidar a ideia de que: Livity e Jorge Neto são UM SÓ!
Só mesmo os Livity para sacudir o público que até aqui se mantinha resistente a um pé de dança. Foi preciso o Grace Évora “spadjar pau, bem spaíôd” para se entregarem à” felicidade” à “boa festa” e num bom “pé di badjú” característico do Cabo-Verdiano.
Livity - bssôt sabê má buçês é di nos. Nhôs sabi mô nhôs é di nós!
Música do Ano e Musica Popular do Ano
Essas duas categorias que partem inicialmente todas nomeadas pelo Júri acabam se distinguindo pelo fato de: A Música Popular é votada pelo público e a Música do Ano votada pelo júri. Foi votada pelo público “Akanadja” da Neyna eleita como a - Música Popular do Ano - e a Soraia Ramos – com a sua música “Bô ka Bali Nada – BKBN” que durante o ano todo esteve na boca do povo, foi coroada a RAINHA da NOITE, sendo vencedora na categoria – Música do Ano - reforçando a ideia que Soraia é “Mudjêr ki Bali”. A única pergunta aqui é: porquê que uma música do ano não pode estar nomeada na categoria música Popular do Ano? Enfim! E, no fim de tudo (…).
Foi uma GALA de onde saíram reforçadas a MULHER e a JUVENTUDE!