Filha de camponeses santiaguenses, a infância e a adolescência de Nha Balila decorreram em Serra da Malagueta, localidade que dista sete quilómetros da sede do Concelho de Santa Catarina, então Vila da Assomada, circundada de cabras, vacas, porcos, burros, mulas, macacos, cavalos, cães, gatos, galinhas de mato (pelada) e corvos, entre tantos outros animais domésticos, que povoaram e configuraram o seu mundo vivencial. Oriunda de uma família rural numerosa e humilde, muito unida e trabalhadora, Balila e os irmãos menores, que viviam, sob a proteção e os cuidados dos pais, faziam tudo em casa: casa: “eu, a minha mãe e as minhas irmãs pilávamos o milho, cozinhávamos, fazíamos o cuscuz, comíamos papa com leite, íamos à fonte buscar água, apanhávamos lenha, éramos uma família feliz”. Os grandes constrangimentos visuais que enfrentava, na altura, não impediam, contudo, que Balila tirasse o leite da vaca, cavasse o chão, plantasse batata, semeasse milho, mondasse palha, fizesse sementeira, desse comida, ordenhasse cabras e vacas e apanhasse lenha.
Quando tinha seis anos de idade, foi batizada na Igreja Matriz de Santa Catarina, popularmente conhecida por Igreja di Baxu, situada em Fortaleza, pelo Padre Benjamim Pinto da Calle. O padrinho chamava-se Joanino Tavares (Nino), primeiro primo da sua mãe, e a madrinha, Delfina Tavares, sua tia materna, ambos naturais de Serra da Malagueta e já falecidos. Católica praticante, até a sua primeira emigração para terras angolanas, Balila, aos 18 anos de idade, diz ter pertencido a um grupo de jovens católicos, que trabalhavam sob a orientação do Padre Benjamin, pároco da Igreja da Assomada,e, religiosamente, “eu ia à missa todos os domingos”. Filha de camponeses do interior de Santiago, o seu pai Raimundo Semedo, mais conhecido por Nhô Pititi, natural da localidade do Curral Velho, nas proximidades de Tarrafal, contrai matrimónio com Paulina Tavares, mãe de Balila, passando o casal a residir com os seus filhos menores em Tchan di Curral, numa casa construída num terreno agrícola de sequeiro que lhe fora cedido pelo seu sogro Henrique Tavares (Nhô Henrique), proprietário de algumas hortas de regadio, na Principal. Aliás, Balila teve o privilégio da convivência com os seus avós maternos, em Tchan di Curral – Henrique Tavares (Nhô Henrique) e Antónia Sancha (Dian) -, e os seus avós paternos, Miguel Soares Semedo (Miguelinho) e Salvadora Mendes Soares (Mana Mendi), estes dois últimos residentes em Curral Velho, a mesma localidade onde nascera e crescera o seu pai Raimundo. Os avós de Nha Balila eram todos agricultores e criadores de gado, trabalhavam a terra e, por isso mesmo, “não passaram falta”.
Da união conjugal dos seus pais, nasceriam doze filhos (sete meninas e cinco rapazes), dos quais sobrevivem apenas duas senhoras idosas: Nha Balila (94 anos), o terceiro filho do casal, residente em Tira-Chapéu, subúrbio da cidade da Praia, e Bebé (90 anos), residente em Flamengos, no interior de Santiago. Nascida com sérias complicações visuais (“vista curta”), que se foram agravando, ao longo de um processo degenerativo, que conduziria, finalmente, à sua cegueira, Balila, quando tinha dez anos, começa a frequentar a escola primária, numa localidade chamada Tchada Lém(Achada Lém), a alguns quilómetros da casa onde vivia com os pais, e, para seu espanto, no terceiro dia de aulas, o seu professor não lhe permitiu que continuasse a frequentar a escola, “expulsou-me da sala, por causa da minha visão deficiente”, facto que, na altura,a indignou e a perturbou, psicologicamente. Pertencendo a uma família de invisuais, Balila viria, irremediavelmente, a perder toda a visão, em 2009, e juntar-se-ia às três irmãs que, tal como ela, se tornariam completamente cegas. Por causa dos problemas visuais prematuros das quatro irmãs, que culminariam em cegueira, importa afirmá-lo, o Padre Benjamim, pároco da Paróquia de Santa Catarina, atribuiu a cada uma delas, ainda na sua infância, uma simbólica ajuda financeira de cinco escudos mensais. Não podendo ter acesso à escola, por alegada “vista cansada”, e beneficiando da total compreensão dos seus pais e da solidariedade das suas então condiscípulas, a perda de visão prematura e hereditária não impediu, contudo, que Balila acompanhasse a sua mãe a todas as localidades do interior de Santiago, sempre que a presença desta última como batucadeira fosse solicitada. Entretanto, em 1939, quando contava com cerca de 11 anos de idade, ainda na pré-adolescência, passa a trabalhar em casa da família portuguesa de João Joaquim Capinha, responsável do então Posto Experimental de Serra da Malagueta, instituição encarregada da manutenção e conservação da área florestal, sem qualquer tipo de remuneração e apenas a troco de alguma ajuda em espécie. João Capinha, a sua mulher Ana Maria e os seus dois filhos - um rapaz e uma menina -, que, também, residiam em Serra da Malagueta, “tratavam-me bem, ajudavam a minha família com tudo”. A sua “patroa” portuguesa trabalhava fora e, na sua ausência, “eu tomava conta da casa onde fui acolhida, aprendi a fazer tudo: cozinhar, a passar a ferro, lavar roupa, a falar a língua portuguesa. Com essa família portuguesa aprendi muita coisa, mais do que com a minha própria vista, que, na altura, já funcionava mal”. Numa altura em que a fome grassava no arquipélago e, particularmente, na maior ilha do arquipélago – a de Santiago, as condições de vida da família de Nha Balila eram consideradas razoáveis,num meio tipicamente rural e adverso, “onde, praticamente, não havia nada, a não ser algumas hortas em Principal, terrenos de sequeiro, porcos e outros animais de criação. O meu pai tinha horta na Principal, perto da Serra da Malagueta, que produzia batata, mandioca, laranja, cana-de-açúcar com a qual se fabricavam aguardente e mel, que, depois, eram consumidos em casa ou vendidos. A minha mãe trabalhava no campo. A únicas dificuldades dos meus pais tinham a ver com as quatro filhas que, na altura, enfrentavam problemas visuais”. A despeito da conjuntura altamente desfavorável e penalizadora para o mundo rural, o certo é que a família trabalhadora de Nha Balila não passou grandes privações, “fomos bem tratados e criados pelos nossos pais, dentro daquelas limitações que então havia, nunca conhecemos a fome”.
Das roças de Angola às de S. Tomé e Príncipe, numa fuga em frente
Em 1947, Joaquim Capinha regressa definitivamente a Portugal com a respetiva família, terminada a sua missão de trabalho em Serra da Malagueta. Agora, obrigada a prescindir da âncora familiar portuguesa e fugindo à fome que, então, fustigava a ilha de Santiago e, em particular, a localidade da Serra da Malagueta, Nha Balila ruma para a cidade Praia, em dezembro daquele mesmo ano, a convite do seu tio materno Hilário Tavares, que a acolhe em sua casa, em Lém-Cachorro, durante alguns meses, numa altura em que ainda não havia nem estrada, nem carro e muitos cabo-verdianos, desesperados, emigravam para o Sul. Entretanto, em Serra da Malagueta, ficariam, em casa dos pais de Balila, quatro filhos menores então nascidos, por ordem de nascimento: Etelvina (Nha Lila, 1925), João Tavares (1927), Adelino (1931 e Bebé. Na Praia, pela primeira vez, Balila pôde observar com os seus próprios olhos a paisagem horrível da fome que dizimava milhares de sere humanos, “todos os dias, eu ia com um grupo de meninas à Barraca, um grande recinto que funcionava ali no mesmo espaço físico onde se encontram as instalações da Cabo Verde Telecom, receber uma refeição quente e pude testemunhar o elevado número de pessoas deitadas ao chão que abriam a boca e padeciam de fome, piolhos que desciam de cabeça para baixo e pulguinhas que saiam das roupas, corpos despedaçados enterrados numa vala comum, na Várzea, frente ao atual Estádio de Futebol, isto é, no mesmo local. Na minha vida, Nunca vira coisa igual!”.
Em janeiro de 1950, Nha Balila, que tinha 21 anos, parte para Angola como trabalhadora contratada, a bordo do vapor português Sofala, numa conjuntura nacional marcada profundamente pela fome e num tempodeveras“trapadjado” (complicado). Literalmente apinhado de trabalhadores contratados no porão, o Sofala zarpou do porto de Ribeira da Barca, no Concelho de Santa Catarina, rumo a Angola, em janeiro de 1950, numa vigem que duraria cerca de 10 dias com escalas rápidas e sucessivas em Benguela, Lobito e Cabinda, o ponto de destino. Instalada na cidade de Cabinda, “numa caserna localizada numa grande zona onde se ‘depositavam’ os contratados”,Nha Balila permaneceu apenas três dias para efeitos de apresentação nos serviços administrativos centrais, inspeção médica e distribuição dos trabalhadores contratados em grupos, no termo dos quais foi imediatamente transferida para a roça de Buco-Zau, numa cidade situada no município da província de Cabinda. Mais novo que Nha Balila, Adelino, que, na altura da sua partida para terras angolanas, tinha 16 anos, viria a falecer no ano seguinte, precisamente em 1951, vítima de doença súbita na roça onde trabalhava, em Buco-Zau, após ter sido hospitalizado em Cabinda. O trabalho nas roças era duro, mas suportável, “eu trabalhei no mato, limpei cana alta de mais de cinco metros de altura, que se deitava ao chão e levantava-se, o trabalho era ‘sabi’”. Mensalmente, Nha Balila recebia em mãos “apenas 60 (sessenta) quanzas e os outros 60 eram depositados na nossa conta bancária”. O regime de trabalho na roça era intenso, “eu e os meus colegas contratados não nos sentíamos maltratados nem discriminados. A senzala onde vivíamos era boa, tínhamos direito a alguns feriados, particularmente nas festas do Natal e Ano Novo. Na roça, trabalhávamos nove horas diárias”.Ascondições de vida eram normais, “cada um de nós preparava a sua refeição com os géneros alimentícios, que nos distribuíam. Em Angola vivi momentos de alegria, mas, também, momentos de alguma amargura”. Por ocasião do Natal e do Ano Novo, “todos os cabo-verdianos brincavam, faziam festa, havia batuque, funaná, viola e violino. Naquela altura, eu já era batucadeira”.
Volvidos três anos de um labor dedicado em terras angolanas e findo o contrato de trabalho, Nha Balila, cuja visão se deteriora a passos largos, é obrigada a regressar à ilha natal, precisamente em 14 de dezembro de 1953, a bordo do vapor Benguela, e junta-se aos pais e aos demais familiares, que deixara em Serra da Malagueta, “lá fora, no interior”. Entretanto, em Angola, ficam, até depois de 1976, o irmão mais velho, João Tavares, e o seu tio materno, Júlio Tavares, também falecido. Enaltecendo “a seriedade dos angolanos, que não me enganaram”, Nha Balila, criada no meio de vacas e de outros animais, diz ter trazido de Angola algum dinheirinho, que lhe permitiria, depois, comprar um ‘bichero’ (vaca), que ofereceu ao pai,“quando resolvi, pela primeira vez, emigrar para S. Tomé”. Feito um compasso de espera e recarregadas as energias, após o regresso de Angola, Balila inscreve-se, de novo, na lista de contratados na Delegação da SOEMI, e emigra imediatamente, desta feita, para S. Tomé e Príncipe, em janeiro de 1954, onde permanece, também, durante três anos sucessivos. Curiosamente, de Serra da Malagueta Nha Balila parte para S. Tomé grávida de Denxu, natural de Figueira das Naus, e, escassos meses depois, nasceria, em território santomense, a sua primeira filha Judite Mendes Semedo (Edite), atualmente residente em Tira-Chapéu, subúrbio da Praia, e peixeira, de profissão.
Nas roças santomenses, a vida era duríssima. Na de “Vaz Prazer”, por exemplo, a primeira onde diz ter trabalhado, durante os primeiros seis meses, e encontrado muitos cabo-verdianos, “eu fazia tudo, trabalhava no duro, capinava com ‘machim’ (catana) palha para alimária, tirava, acolheitava, quebrava, fazia a secagem de cacau e apanhava-o com balaios, trabalhava com óleo de palma, carregava lenha e cacau”. Dois anos depois de ter trabalhado em S. Tomé, Balila é transferida para outra roça que se chamava Sundi, na ilha de Príncipe, e, finalmente, para a da Bela Vista. Nas três roças onde trabalhou, “eu fazia o mesmo tipo de trabalho, tão duro em S. Tomé quanto em Príncipe. Na altura, tinha problemas visuais e, logo, limitações na execução das tarefas na roça, que me obrigavam a cometer erros, mas o certo é que nunca me faltou vontade para trabalhar”. durante os primeiros seis meses”. Em S. Tomé, Balila conhece António João Silva, natural de S. Nicolau, e ambos passam a coabitar, em regime de união de facto, nascendo desse relacionamento, também em terras santomenses, a sua segunda filha Maria Conceição Semedo Silva, na Roça Monte Café, a 11 de junho de 1965, atualmente residente na ilha do Sal. Todavia, a relação com o pai da Maia Conceição manter-se-ia, “até a conclusão do meu contrato de trabalho em S. Tomé e, logo, o meu regresso a Cabo Verde”. Entretanto, o pai da segunda filha de Balila, António Silva, “um santo homem”, fica em S. Tomé e, passados alguns anos, regressa a S. Nicolau para, então, de acordo com a sua filha Conceição, emigrar, finalmente, para Holanda, onde viria a falecer. Com efeito, no término do contrato de trabalho como contratada, em fevereiro de 1957, Nha Balila, acompanhada da sua primeira filha de três anos, Judite, nascida em S. Tomé, regressa à Serra da Malagueta donde partira e junta-se aos seus pais. Em 1959, pela segunda vez, reemigra para S. Tomé e trabalha na roça “Monte Café”, deixando para trás a sua filha menor, sob os cuidados dos seus avós maternos, em Serra da Malagueta. No término do contrato de trabalho, em 1962, regressaria, outra vez, à terra firme donde partira e juntar-se-ia à “família tronco”, por escassos meses. Desfeita a relação que mantivera, em S. Tomé com o pai da sua segunda filha, Nha Balila passa a conviver, em Santiago, também em regime de união de facto, com José Correia, que conhecera nas roças santomenses e com quem contrairia matrimónio em junho de 1973, já vivendo definitivamente na sua casa, em Tira-Chapéu, na Praia. Entretanto, no mesmo ano de 1962, depois de ter coabitado com os seus pais em Serra da Malagueta, graças a alguma poupança que Nha Balila trouxera de S. Tomé e, ainda, com o produto da venda das vacas e bois do seu marido, que tinha no Fogo “comprámos uma casinha em Pedra Barro, uma comunidade da Freguesia de Santa Catarina, em Santa Catarina. O meu marido não tinha trabalho e vivia apenas do trabalho braçal que aparecia no campo”. Contagiada pelo “vírus” da emigração para o Sul, na ausência de emprego e de condições mínimas de sobrevivência na sua ilha natal, Nha Balila, agora com o marido, que “conseguiu um trabalho no Cais da Praia e ajudou-me a criar as duas filhas”, tenta, pela terceira vez, em 1968, emigrar para S. Tomé, mas sem sucesso, porque, entretanto, não a deixaram seguir viagem, por alegadas dificuldades visuais.
Uma vida ao serviço do batuque e condições de vida precárias
Nha Balila traz o batuque na veia. Quando ainda tinha 10 anos de idade, acompanhava a mãe a todos os sítios para batucar em casamentos, batizados e, ainda, por ocasião das festas da Páscoa e Ano Novo. Na verdade, “aprendi a brincar, a batucar e a fazer tudo com a minha mãe Paulina, colega de Nica Gomi”, esta últimamãe da também falecida Nacia Gomi, cantadeira de batuque e finaçon, acompanhando-a e observando-a. Com a música a correr pela veia, “toda a minha família batucava, desde a infância, homens e mulheres batucavam juntos, sem discriminação, embora nem todos os homens o fizessem, na altura”. Em Serra da Malagueta, onde Balila nasceu e cresceu, e em todo o lado, batucava-se, sobretudo nos principais momentos rituais: “no dia do batizado, no dia do casamento, batucava-se no quintal ou dentro de casa batucava-se em casa da noiva e do noivo, enquanto, na casa ao lado, se ‘pilava’ (dançava) o funaná. Quando eu ia à ribeira apanhar lenha ou água, batucava e observava, atentamente, como é que as mulheres se vestiam a rigor: blusa branca, saia branca e lenço branco e os rapazes, de calça com cinto e camisa de manga comprimida, em função da faixa etária, quando se apresentavam no ‘terreru’ . Havia, igualmente, tocadores de gaita em Serra da Malagueta, Principal, Pedra Comprida, Fundura, Nau das Figueiras, mas, de entre eles, destacava-se Denxu Lopi. À volta das fontes, as meninas costumavam batucar, enquanto aguardavam a sua vez para apanhar água, mas, igualmente, tocava-se e dançava-se o funaná.
Socializada num ambiente de batuque desde a tenra idade, Balila, aos 18 anos, já se dizia “uma batucadeira muito solicitada em várias localidades da ilha de Santiago”. Em 1974, já a residir na Praia com o seu marido José Correia, Nha Balila, cria o seu primeiro grupo de batuque “Bali pena” e, em 4 de julho do ano seguinte, na véspera da independência nacional, “apresento-o ao público praiense, no Chafariz de Tira-Chapéu, num ato muito aclamado”, que assinala o início de uma carreira de sucesso culminada não há muitos anos”. Porém, com a abertura política do país, em 1991,“o grupo de batucadeiras dividiu-se politicamente em 1992, abandonei-o e criei outro grupo que, em 2006, gravou três CD´s com os produtores cabo-verdianos Zé Sucupira, Zeca de Nha Reinalda e Kim Alves, em Achada Grande Traz. Com o Zé Orlando do Som de África, em Portugal, gravei e editei um DVD”. As atuais condições de vida de Nha Balila são precárias e, de acordo com ela própria, resumem-se à uma “pequena pensão que o Governo me concedeu, no valor mensal de cinco mil escudos, e a outra pequena pensão de sobrevivência no valor de seis mil escudos que, desde 2013, me foi atribuída pela morte do meu marido, totalizando onze mil escudos. Com esse dinheiro, que não dá para nada, tenho de comer todos os dias e pagar algumas despesas. Passo muitas dificuldades. A minha filha manda-me todos os dias refeições e lava a minha roupa. A minha vida já foi de toda a maneira: amargurada, injuriada, sofrida com dor e mágoa, mas espero antes que eu morra eu possa vira a ter uma pensão condigna”. Vivendo, atualmente, de apoios solidários e pontuais e da generosidade das pessoas que a conhecem, no país e no estrangeiro, Nha Balila, viúva, mãe de duas filhas, avó, bisavó, tetravó e católica não praticante,não se sente, contudo, abalada pelos múltiplos problemas que a afligem. Além de cantadeira de batuque e finaçon, através do qual contou a história da sua emigração para Angola e São Tomé e Príncipe, Nha Balila, figura pública mediática e carismática ligada à Rádio e à música tradicional cabo-verdiana, que, não obstante as múltiplas dificuldades, se diz sentir feliz, através da sua fé, e cheia de alegria e esperança, é uma compositora especial, que traz tudo nasua prodigiosa cabeça e no seu generoso coração e, sem saber ler nem escrever nenhuma letra, “faço tudo por inspiração, socorrendo-me da minha memória e das minhas ideias”.