Artigos de César Monteiro no nosso arquivo

O humor de Rocca Vera-Cruz na desconstrução da vida quotidiana mindelense
O quotidiano constituiu-se, sem dúvida alguma, numa fonte potencial do conhecimento, passível de ser tratado pelo humor, este último entendido como processo comunicativo presente em todos os lugares da vida humana e mecanismo eficaz de controlo social.

Nha Vão e o pendor satírico da morna boa-vistense
A música cabo-verdiana, seja ela qual for, abordada na sua dimensão social, constitui-se num dos marcadores e veículos privilegiados de expressão da identidade nacional e é produto da convergência, do encontro e da sobreposição de elementos musicais europeus, mormente de origem portuguesa, com elementos africanos, que se verificaram por ocasião do povoamento do arquipélago, na linha de um processo de miscigenação musical, cuja data, todavia, não se pode precisar.

Música cabo-verdiana, diversidade e centralidade da investigação
Sinto-me muito honrado e privilegiado pela circunstância de ter sido convidado para, primeiro, prefaciar esta notável obra consagrada inteiramente à música cabo-verdiana, e, posteriormente, proceder à sua apresentação pública no emblemático espaço cultural da Biblioteca Nacional, na Cidade da Praia.

Luís Morais, a grandeza humana de um ícone da música cabo-verdiana
“O clarinete, as melodias e os solos de Luís Morais constituem uma ponte emotiva entre ele e o seu povo, entre o hinterland e a diáspora”. (Corsino Fortes)

Um monumento incontornável da música cabo-verdiana, em tempo de festas - a outra face
No contexto de uma família urbana modesta, nasce, a 10 de fevereiro do ano de 1935, na Ribeira Bote, freguesia de Nossa Senhora da Luz, na cidade do Mindelo, São Vicente, Luís Ramos Morais, de nome completo, filho de Raimundo Conrado Morais (Musa) e de Guilhermina Antónia Ramos (Nhá Guilhermina ou Gadjome), ambos solteiros e, também, naturais da ilha do Porto Grande.

A centralidade da morna na música cabo-verdiana: um debate em aberto
“Hipóteses têm sido apresentadas, mas nenhuma delas baseada no estudo técnico e comparativo desta canção, estudo que se nos afigura indispensável para se caminhar com relativa segurança neste domínio das origens”. (Baltasar Lopes)

Celina Pereira, a guardiã das nossas tradições orais
Seja qual for a sua condição ou o seu estatuto como sujeito criador, o artista não se dissocia do contexto sociocultural em que se insere onde, aliás, constrói a sua identidade e o seu próprio estilo, através de sucessivos processos de ressocialização, que atravessam a sua carreira e contribuem, ao mesmo tempo, para o seu aprimoramento artístico, deixando nela marcas visíveis.

Adriano Lima: um notável percurso de vida
As comunidades constroem, nem sempre de forma consciente, dinâmicas próprias protagonizadas por atores sociais portadores de vontades, ambições e desejos legítimos, que se consubstanciam em projetos de vida específicos e de metas inseridas em contextos históricos marcados pela sua singularidade.

Guilherme Chantre: Um Educador carismático
Nas suas dinâmicas de configuração e recomposição socioculturais, a sociedade cabo-verdiana é tributária do valioso contributo de homens e mulheres, nos mais variados domínios, com relevância para os da educação e da cultura, cujas marcas indeléveis transitam de geração em geração.

Na encruzilhada do património imaterial
Marca primordial da cultura nacional e prática musical dançante, a morna, que precede o fado português, em termos cronológicos, não obstante as semelhanças melódicas e líricas entre ambos os géneros, terá nascido na Boa Vista, no primeiro quartel do século XIX.

Manuel Faustino: o médico comprometido com a criação musical (II Parte)
À data da partida de Manuel Faustino para Coimbra, precisamente no limiar do último trimestre de 1965, no intuito de prosseguir os estudos universitários, o ambiente musical em São Vicente caracterizava-se, em linhas gerais, por alguma efervescência, tendo em atenção, por um lado, o crescimento urbanístico da cidade portuária e, por outro, a pujança da ilha, em termos socioculturais, a despeito dos constrangimentos e dificuldades de vária índole. O fértil universo imaginário da infância e adolescência de Faustino, no plano meramente musical, é povoado, entre outras coisas que então o fascinavam, pelas famosas e populares salas de baile de João Tolentino e de Zé de Canda, mas, sobretudo, pelos célebres bailes de viola e bico, à volta dos quais gravitavam figuras musicais sobejamente conhecidas e veneradas do meio mindelense. “O meu pai não tocava nenhum instrumento musical, nem cantava, mas, eu ainda criança, passava-me uma certa amizade, diria, alguma preocupação justificada com a música, que terá ficado inscrita em mim para a vida inteira”.

Manuel Faustino: o médico comprometido com a criação musical (I Parte)
Numa Sexta-Feira da Paixão do dia 26 de Março de 1948, nascia na antiga Rua dos Descobrimentos, mais conhecida por Rua de Papa Fria, na Cidade do Mindelo, ilha de S. Vicente, Manuel da Paixão Santos Faustino, que, já adulto, viria a receber a alcunha de Tilela, no círculo das suas relações de amizade. “O Edgar Silva (Gaia), mais velho que eu, veio de férias a S. Vicente, em 1965, no mesmo ano em que eu partia para Portugal, procedente de S. Paulo, no Brasil, onde vive, há muitos anos, e passou a chamar-me, afectuosamente, de Tilela, pois, por sinal, o seu pai respondia por Lela”.

Pedro Gregório: o sentido musical da Arquitectura (parte II)
A dupla pertença a meios socioculturais diversos - o de nascimento e o da terra dos ancestrais -, na perspectiva da estratificação, não coloca a Pedro Gregório, de modo algum, questões de índole identitária e comportamental, que tenham, no essencial, inibido a sua trajectória de vida. Ainda na fase da infância, num contexto marcadamente rural, revela, outrossim, notáveis habilidades para trabalhos de barro, expressão maior da sua relativamente fácil integração comunitária. Lembra-se, com alguma nostalgia, de “quando chovia, havia lama, brincava como todas as outras crianças da minha geração e, para além do desenho, construía bonecos com o barro e outras coisas” indiciadoras da sua prematura inclinação ou propensão artísticas.

Pedro Gregório: o sentido musical da Arquitectura (parte I)
Na acolhedora Cidade do Mindelo, nasce, a 15 de Julho de 1932, Pedro Gregório Lopes, de nome completo, no seio de uma família rural “modesta normal” sanicolaense, de parcos recursos, relativamente numerosa, que emigrara para a ilha de S. Vicente no ano precedente à data do seu nascimento.

Tonecas Marta: A força de uma voz melodiosa no fulgor do tempo (parte II)
Na senda da sua vocação pedagógica, a Igreja do Nazareno da Praia terá constituído, seguramente, um dos espaços privilegiados de socialização musical de Tonecas Marta onde, para lá da aprendizagem rudimentar do canto, aprende a interpretar hinos e faz parte do coro que, de forma regular, actua em actividades de cariz religioso.

Tonecas Marta: A força de uma voz melodiosa no fulgor do tempo (parte I)
Tonecas Marta, nome artístico de António Augusto Correia Gomes Marta, nasce a 09 de Abril de 1945, no Hospital da Praia, e cresce na Rua Serpa Pinto, até 1962, no seio de uma família numerosa. O pai, Mário Gomes Marta, nascido nos Picos, na ilha de Santiago, enfermeiro de profissão, trabalha, sucessivamente, na Praia, em São Vicente e em Santo Antão, antes de, finalmente, ser transferido para a então Guiné Portuguesa, em 1950, onde, aliás, viria a falecer, em 1990, aos 73 anos, após ter prestado serviço, na respetiva área de formação técnica, em Bissorã, Catió, São Domingos e Bissau. A mãe, D. Ana Correia Tavares, nascida, na Praia, era doméstica, e, precocemente, morreria aos quarenta e tal anos.

Eduarda Vasconcelos: o Ritmo Musical da Ginástica Dançante (parte II)
Os múltiplos e sucessivos esforços consentidos pela Professora Eduarda Vasconcelos, Presidente da Associação de Ginástica de S. Vicente, nos jardins infantis e nas escolas, ainda no limiar da segunda metade da década de 70, assinalariam, finalmente, em 1988, a implantação e a expansão, na ilha do Porto Grande, faseadas da Ginástica Rítmica, adiante designada, abreviadamente, por GRD, que abrange, na actualidade, meninas, maioritariamente, e todas as camadas sociais. Hoje em dia, na composição da GRD, em S. Vicente, participam pessoas de todas as condições sociais, sem qualquer distinção,e só pagam aquelas que, na verdade, tenham meios financeiros para o fazer.

Eduarda Vasconcelos: O Ritmo Musical da Ginástica Dançante (parte I)
Maria Eduarda Neves Almeida Vasconcelos nasce a 23 de Outubro de 1952 na Cidade do Mindelo, na Freguesia de Nossa Senhora da Luz, e é filha de Manuel Duarte Almeida (Manel Djinha) e de D. Amândia Maria Neves Almeida, ambos nascidos, também, na ilha de São Vicente.

Retratos do Quotidiano: Tony Lima, Kaoguiamo e a música de intervenção (parte II)
Descendente directo de uma família de músicos, António Pedro Monteiro Lima inicia o processo de socialização musical primária com o pai que, na longínqua década de 50, “acompanha a fadista lusa Amália Rodrigues na sua primeira deslocação ao Senegal com uma banda constituída por cabo-verdianos”. Afora o genitor, por sinal, “bom basquetebolista e voleibolista”, ao tempo,e de quem o filho herda a fortíssima veia musical, Tony é, igualmente, irmão mais velho de Jorge Lima (codé), músico e percussionista do conjunto musical Os Tubarões e, ainda, do lado materno da família Barreto, “parente próximo de Ano Nobo e Orlando Pantera”.

Retratos do Quotidiano: Tony Lima, Kaoguiamo e a música de intervenção (parte I)
António Pedro Monteiro Lima (Tony Lima), filho varão de pais cabo-verdianos, nasce a 05 de Janeiro de 1948, no Hospital Aristide Le Dantec, na cidade de Dacar, na República de Senegal, onde decorrem a infância e a adolescência, numa sociedade maioritariamente muçulmana (95%), marcada pela sua diversidade étnica (lébous, peuls e toucouleurs) e, ainda, pela presença do wolof como língua franca de comunicação mais falada em todo o território senegalês. A mãe, D. Fortunata Alfama Barreto, filha de bravense e descendente do ramo da família Pereira Barreto estabelecido na ilha de Santiago, “pertencia, também, à família abastada dos Barreto de Cacheu”, que se torna conhecida graças à sua ligação genealógica ao famoso Capitão-Mor de Cacheu e Governador da então Guiné portuguesa, Honório Pereira Barreto (Cacheu, 24 de Abril de 1813 – Bissau, 16/26 de Abril de 1859), também ele filho de pai cabo-verdiano. O pai, Lino Lima, natural de Santo Antão, mas com costela santiaguense, “por causa da minha avó paterna”, era filho de José da Rosa Lima, também ele nascido nessa ilha, que “vem para São Vicente e, depois, emigra para os Estados Unidos da América”.
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