Confesso que parte da nova geração da nossa música encanta-me. Há músicos desta geração que desde cedo entregam-se à missão de procura da nossa música, sobretudo o que os mais velhos nos deixaram, talvez de forma tão natural que nem o sentem. Deixam-nos a convicção de ter pessoas que responderam ao pedido do poeta: “ka bses dxá morê folklor di nôs tera” …
Não se preocupam tanto com os likes, mas sim com o gostar.
Luís Firmino
A primeira vez que o vi, em vídeo e ainda antes de o conhecer, já transmitia tal essência.
Luís tocava cavaquinho … um dos temas mais bonitos da nossa música – “Nova Aurora”.
Durante seu solo, os sons fluíam harmoniosamente, acompanhados por sorrisos discretos que traduziam a felicidade que sentia ao se entregar à nossa música. Fiz por conhecer mais sobre ele, através de espetáculos, entrevistas e músicas. Percebi que é alguém que naturalmente busca o que já foi feito para se alimentar, também os que não estão nos livros para se enamorar e entusiasmadamente mostrar. Sua conexão com a música é certamente tão profunda que parece que a própria música se aninha nele, impulsionando-o a compartilhá-la com o mundo.
Depois de o conhecer, confirmei. Sobretudo depois de ver como vai traçando devagarinho o seu caminho para descobertas que parecem levar sempre o rótulo de “partilha”. Luís apenas quer partilhar com o outro o que acha belo musicalmente: quer seja através de compositores, músicas ou músicos.
Esteve agora na Praia, e em pouco tempo deixou-nos o enfoque na música que vai passado despercebida ou esquecida por estas bandas. Passeava e procurava encontrava e partilhou. Aí vi que Luís é claramente um tipo de aglutinador: possui propriedades de unir os que como ele também têm a música no seu interior. E quando o consegue, parece estar, sim, em estado de felicidade. Mais do que cartazes, quererá certamente os ases musicais que vai conhecendo e creio que sonhando com o dia em que estará em palco com todos eles…um palco enorme e quase que a saber a mundo.
No tema que escreveu – “manga” diz ter saído de Cabo Verde ainda verde e foi amadurecendo lá fora. Permite-me o atrevimento de te dizer que precisamos deste teu potencial de amadurecimento na nossa música, em artistas da tua idade pela capacidade de tocar nos tais homens-música e juntá-los para o palco que um dia terás certamente.
E quando começares este palco, faz com que ele cresça, tal império Abissínia, quando há anos foi conquistando mais espaço e espaços. Contamos com a tua Abissínia-musical, Luís.
Acredito, que no teu palco … o que estas a construir e nunca haverá de parar…nele caberão todos os músicos ou homens-música que escolheste. Serão muitos, Luís…todos os que quiseste abraçar. Cabo Verde e a sua música, nós - precisamos de ti …aqui.
Até já…no teu Palco Maior
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1169 de 24 de Abril de 2024.