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Tenho formação em relações internacionais e no Extremo Oriente, e até à minha chegada a Lisboa trabalhei como Diretora Geral do Departamento, que abrange 10 países asiáticos como o Japão e a Coreia, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comércio da Hungria e tendo servido como diplomata de carreira no Japão e na Malásia.
Em 2019, foi assinado entre os nossos países um acordo intergovernamental sobre o desembolso de um empréstimo de ajuda vinculada, com base no qual será implementado um investimento na gestão da água no valor de 42 milhões de euros. Todo o projeto está previsto estar concluído em setembro de 2028. A primeira fase – que inclui a instalação de sistemas destinados à produção de água de rega a partir da água do mar – iniciou-se em fevereiro de 2023, e a entrega cerimonial do primeiro equipamento de dessalinização terá lugar em setembro deste ano. É um prazer especial que com este projeto a Hungria esteja a contribuir para a concretização dos objetivos verdes da República de Cabo Verde, já que o parque solar e os sistemas de irrigação automática necessários ao fornecimento de energia dos sistemas de dessalinização também fazem parte do projeto. Com isto, será construída a segunda maior centro solar do país.
O Stipendium Hungaricum, o mais prestigiado programa de bolsas de estudo superior do governo húngaro, oferece uma vasta gama de cursos para estudantes internacionais com excelentes resultados académicos e um excelente desempenho. O objetivo da bolsa é apoiar a internacionalização e o desenvolvimento contínuo do ensino superior húngaro, fortalecer as relações internacionais da comunidade científica e de investigação e promover a boa reputação e competitividade do ensino superior húngaro em todo o mundo. Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países assinaram no dia 16 de julho deste ano o acordo Stipendium Hungaricum para os anos seguintes, graças ao qual as instituições de ensino superior húngaras continuarão a permitir que 20 estudantes estudem na Hungria todos os anos. Gostaríamos que este programa se tornasse cada vez mais conhecido em Cabo Verde, para que os jovens cabo-verdianos possam tirar o máximo partido das vagas disponíveis.
No dia 10 de maio de 2024, teve lugar na Praia uma negociação bilateral de aviação, durante a qual os diretores da aviação rubricaram uma convenção bilateral de aviação e assinaram um memorando de entendimento. Os acordos assinados proporcionam um quadro jurídico liberalizado para a operação direta, que reflecte a intenção de Cabo Verde de se abrir à Europa. Estamos confiantes de que este passo facilitará o lançamento de voos diretos Budapeste-Praia, o que daria um sério impulso ao desenvolvimento tanto ao nível do turismo como da vida empresarial.
No dia 28 de março de 2019, os Primeiros-Ministros dos dois países assinaram o Acordo de Cooperação Económica e Técnica na Praia. O Acordo criou a possibilidade de criação do Comité Económico e Técnico Misto, cuja reunião inaugural se realizou a 9 de dezembro de 2021 em Budapeste. Aguardamos com expectativa a próxima reunião do Comité que terá lugar na Praia este ano, no dia 11 de dezembro, onde esperamos poder explorar muitas outras possíveis oportunidades de cooperação.
Um dos projetos culturais e educativos mais ambiciosos da Hungria em África foi realizado nas ilhas de Cabo Verde. Neste quadro, um projeto de três anos com um orçamento de cerca de 30 milhões de florins (mais de 75 mil euros) destinado a introduzir o método Kodály de educação musical húngara a nível nacional começou em 2019 e terminou em 2023 em Cabo Verde. O programa criado e implementado com a participação do Ministério da Educação de Cabo Verde, da Embaixada do nosso país em Lisboa, do Instituto Kodály em Kecskemét, e de reconhecidos especialistas portugueses da Kodály proporcionou formação intensiva em contexto de trabalho a professores de música cabo-verdianos na Praia, Mindelo e Kecskemét. Além disso, os vídeos educativos dos seminários foram também disponibilizados em formato digital. Cristina Brito da Cruz, diretora do Centro Kodály de Lisboa, o Dr. Norbert László Nemes, então diretor do Instituto de Pedagogia Musical Zoltán Kodály em Kecskemét, tiveram um papel fundamental no projeto; e o especialista português em Kodály João Nuno de Almeida Barros. Embora o programa tenha terminado oficialmente, a cooperação continua: Cristina Brito da Cruz, com o apoio da nossa embaixada, dá continuidade ao trabalho iniciado em 2019 em cooperação com o Ministério da Educação de Cabo Verde.
Além disso, a Hungria assumiu a Presidência do Conselho da UE no segundo semestre de 2024, e num momento de desafios extraordinários: a guerra na Ucrânia está na vizinhança direta da Hungria e da UE, a UE está cada vez mais atrasada os seus concorrentes globais, uma situação de segurança frágil, a migração ilegal, a vulnerabilidade das cadeias de abastecimento internacionais, as catástrofes naturais, os efeitos das alterações climáticas e o impacto das tendências demográficas. Além disso, 2024 é um ano de transição institucional na UE: a Presidência húngara terá de assegurar a continuidade do trabalho no Conselho da UE, em cooperação com um Parlamento Europeu e uma Comissão Europeia recém-criados, e terá de iniciar a implementação do Agenda Estratégica 2024-2029. Antes de mais, enquanto Presidência, a Hungria trabalhará como um mediador honesto, no espírito de uma cooperação sincera entre os Estados-Membros e as instituições, para a paz, a segurança e a prosperidade de uma Europa verdadeiramente forte. Tal como em 2010-2011, partilhamos o trio de presidências com a Espanha e a Bélgica e estamos em contacto estreito com a próxima Presidência polaca.
Definimos as áreas prioritárias no nosso programa da Presidência: (1) a adoção de um Novo Acordo Europeu de Competitividade para restaurar o desenvolvimento económico e criar as condições para o crescimento sustentável; (2) o reforço da política de defesa europeia; (3) uma política de alargamento da UE consistente e baseada no mérito; (4) luta contra a migração ilegal; (5) uma política de coesão da UE bem estruturada para garantir um desenvolvimento equilibrado; (6) uma política agrícola da UE orientada para os agricultores; e (7) enfrentar os desafios demográficos da UE. Isto inclui também muitas consultas com os nossos parceiros – especialmente no âmbito da Cimeira UE-Balcãs Ocidentais e da Cimeira da Comunidade Política Europeia.
Contudo, começo aqui o meu serviço com otimismo e grandes ambições, e estou confiante de que tendo uma equipa de excelência, seremos capazes de encontrar projetos conjuntos em tantas áreas quanto possível, o que aprofundará a relação entre os nossos países e os nossos povos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1185 de 14 de Agosto de 2024.
