Um olhar holístico da criminalidade urbana

PorLino Magno,14 jul 2025 9:26

Lino Magno  - Teólogo, cronista e colunista
Lino Magno - Teólogo, cronista e colunista

​Para o sociólogo Émile Durkheim, o crime é um "facto social", um fenómeno que resulta das relações sociais e da estrutura da sociedade e não apenas de traços individuais. Em Durkheim a criminalidade é considerada como um fenómeno social.

Argumenta o sociólogo que o crime é um "medidor da moralidade". Ao gerar respostas sociais, contribui para a evolução moral da sociedade. Para Durkheim não se pode limitar o combate à criminalidade estudando o criminoso, mas procurando as causas inerentes à criminalidade.

É pela via de uma resposta cabalmente sociológica, no pressuposto de uma análise aprofundada em que surgirão as possíveis causas.

As elites das urbes continuam no paradigma do privilégio e do conforto das suas casas sofisticadamente blindadas. Em condomínios intocáveis e com segurança à porta. Um cenário que infelizmente não é a realidade da maioria. Os grandes centros urbanos estão devidamente sinalizados entre bairros pobres e menos pobres. Prédios e condóminos exuberantes. Quando se trata de bairros onde os privilégios e as oportunidades representam uma miragem, a realidade é outra.

Uma política social ampla e uma justiça célere, que consigam evidenciar coerência e dignidade em escala macro, devem fazer eco de uma forma holística e pragmática, criando certeza e equilíbrio, evitando dúvidas, ceticismo e discrepâncias. Quando o eco da injustiça brada, os mais vulneráveis não terão condições para gerenciar o "caos" da ausência, da falta das condições mínimas de vida e realidades lamentáveis em matéria de habitação digna, salário e contexto social saudável. Particularizar a criminalidade urbana sem um olhar holístico é um erro crasso.

Quando falta quase tudo numa família, não há espaço para a mente traduzir seus pensamentos e reproduzir emoções positivas. O ser humano é um todo integrado e não partículas. A mente é um campo que funciona bem quando a situação externa favorece e numa harmonia integrada. Esta dualidade intrínseca não pode ser ignorada.

Num somatório mais que possível teremos gritos silenciosos nas noites turbulentas e inseguras quando não há uma compatibilidade necessária entre os fatores decisivos. Sinais extremos assumirão o comando nos bairros ditos "Periféricos". Portas fechadas com trancas de ferro nas horas imprevisíveis. O medo e o pânico não dão trégua, dançando nas passarelas das ruas frias e inseguras. Bairros em desalento clamam por socorro. Crianças gritando sem saber para onde vão. Urge medidas profundas, fechando ciclos dramáticos e vozes mortais. Um fenómeno que não é novo em tantos centros urbanos no mundo, mas que não deixa de suscitar preocupações profundas e responsáveis, exigindo um combate sem trégua.

Não podemos normalizar este fenómeno urbano e os recursos não podem se esgotar. Uma busca de solução articulada deve ser a tónica urgente.

Os extremos e os meandros em que a situação se encontra, ficar parado ou simplesmente ignorar a situação é condenar a sociedade ao desespero e à mercê da criminalidade urbana.

A situação é profundamente preocupante. O fundo sociológico precisa ser encontrado antes que seja tarde demais. O combate à violência urbana não se faz com base em políticas isoladas, em medidas paliativas e respostas espontâneas. O assunto é sério e precisa de um combate articulado, agindo num compromisso responsável e sincero. "Tapar o sol com a peneira" é brincar com o fracasso.

Os tempos mudaram e a audácia da criminalidade urbana também.

Neste caso, o combate precisa assumir novos contornos e novas medidas.

A justiça social é, e constitui um fator decisivo no combate à criminalidade urbana. As oportunidades precisam ser massificadas, as políticas públicas devem abranger todas as famílias e de uma forma digna e plena. A oportunidade a uma educação de qualidade, o acesso à habitação, a oportunidade ao emprego digno, são fatores que proporcionam um olhar positivo da vida e reduzindo de longe os fatores que incentivam a delinquência. A junção de vários fatores, poderão determinar o combate contra a criminalidade urbana. Numa ótica inseparável, propomos uma justiça social ampla e políticas públicas, educação de qualidade e integral, emprego digno e empoderamento da estrutura familiar. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1232 de 9 de Julho de 2025.

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Autoria:Lino Magno,14 jul 2025 9:26

Editado porSara Almeida  em  14 jul 2025 9:26

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