Argumenta o sociólogo que o crime é um "medidor da moralidade". Ao gerar respostas sociais, contribui para a evolução moral da sociedade. Para Durkheim não se pode limitar o combate à criminalidade estudando o criminoso, mas procurando as causas inerentes à criminalidade.
É pela via de uma resposta cabalmente sociológica, no pressuposto de uma análise aprofundada em que surgirão as possíveis causas.
As elites das urbes continuam no paradigma do privilégio e do conforto das suas casas sofisticadamente blindadas. Em condomínios intocáveis e com segurança à porta. Um cenário que infelizmente não é a realidade da maioria. Os grandes centros urbanos estão devidamente sinalizados entre bairros pobres e menos pobres. Prédios e condóminos exuberantes. Quando se trata de bairros onde os privilégios e as oportunidades representam uma miragem, a realidade é outra.
Uma política social ampla e uma justiça célere, que consigam evidenciar coerência e dignidade em escala macro, devem fazer eco de uma forma holística e pragmática, criando certeza e equilíbrio, evitando dúvidas, ceticismo e discrepâncias. Quando o eco da injustiça brada, os mais vulneráveis não terão condições para gerenciar o "caos" da ausência, da falta das condições mínimas de vida e realidades lamentáveis em matéria de habitação digna, salário e contexto social saudável. Particularizar a criminalidade urbana sem um olhar holístico é um erro crasso.
Quando falta quase tudo numa família, não há espaço para a mente traduzir seus pensamentos e reproduzir emoções positivas. O ser humano é um todo integrado e não partículas. A mente é um campo que funciona bem quando a situação externa favorece e numa harmonia integrada. Esta dualidade intrínseca não pode ser ignorada.
Num somatório mais que possível teremos gritos silenciosos nas noites turbulentas e inseguras quando não há uma compatibilidade necessária entre os fatores decisivos. Sinais extremos assumirão o comando nos bairros ditos "Periféricos". Portas fechadas com trancas de ferro nas horas imprevisíveis. O medo e o pânico não dão trégua, dançando nas passarelas das ruas frias e inseguras. Bairros em desalento clamam por socorro. Crianças gritando sem saber para onde vão. Urge medidas profundas, fechando ciclos dramáticos e vozes mortais. Um fenómeno que não é novo em tantos centros urbanos no mundo, mas que não deixa de suscitar preocupações profundas e responsáveis, exigindo um combate sem trégua.
Não podemos normalizar este fenómeno urbano e os recursos não podem se esgotar. Uma busca de solução articulada deve ser a tónica urgente.
Os extremos e os meandros em que a situação se encontra, ficar parado ou simplesmente ignorar a situação é condenar a sociedade ao desespero e à mercê da criminalidade urbana.
A situação é profundamente preocupante. O fundo sociológico precisa ser encontrado antes que seja tarde demais. O combate à violência urbana não se faz com base em políticas isoladas, em medidas paliativas e respostas espontâneas. O assunto é sério e precisa de um combate articulado, agindo num compromisso responsável e sincero. "Tapar o sol com a peneira" é brincar com o fracasso.
Os tempos mudaram e a audácia da criminalidade urbana também.
Neste caso, o combate precisa assumir novos contornos e novas medidas.
A justiça social é, e constitui um fator decisivo no combate à criminalidade urbana. As oportunidades precisam ser massificadas, as políticas públicas devem abranger todas as famílias e de uma forma digna e plena. A oportunidade a uma educação de qualidade, o acesso à habitação, a oportunidade ao emprego digno, são fatores que proporcionam um olhar positivo da vida e reduzindo de longe os fatores que incentivam a delinquência. A junção de vários fatores, poderão determinar o combate contra a criminalidade urbana. Numa ótica inseparável, propomos uma justiça social ampla e políticas públicas, educação de qualidade e integral, emprego digno e empoderamento da estrutura familiar.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1232 de 9 de Julho de 2025.