Suicídio: Superar a dor ou se entregar

PorLino Magno,29 set 2025 8:07

Teólogo, cronista e colunista
Teólogo, cronista e colunista

​Quando alguém decide pôr fim à vida, é o estágio mais delicado da sua existência. Significa o ponto clímax, o ápice do desdobramento emocional e fenómenos intrapsíquicos.

Nessa linha ténue entre superar a dor ou se entregar é que a existência se torna complexa. Nesse estágio da complexidade atípica, o sentimento lidera o comportamento e este se entrega ao ponto mais frágil do fenómeno intrapsíquico.

O mecanismo da inteligência e todo o seu arcaboiço natural e potencialmente estável reduz-se à servidão implacável do fenómeno emocional. Toda a dor, perdas, o excesso de cansaço de tanto lutar, tentativas frustradas, neutralizam a lucidez, fragilizando os "glóbulos brancos" da imunidade mental e psíquica.

Surge nesta lógica do desespero o autodesprezo, a desvalorização e a dor intensa. Consumidos os estágios preliminares, ultrapassando os limites da resistência, nomeadamente tentativas frustradas, cansaço emocional, o medo de encarar a própria derrota, elementos que formam o preâmbulo antecipatório e concomitantemente dando espaço ao ato inesperado.

As dores não superadas, feridas emocionais camufladas de sorrisos flácidos, dão espaço ao cúmulo da realidade dramática e incompreensível.

Num espaço de tempo entre viver ou "matar a dor" desvanece-se e perece o que de mais valioso deveria ser preservado. Vale a pena viver, vale a pena superar a dor e a frustração cíclica. Refazer uma nova trajetória, dar uma nova chance para nós próprios deve ser o âmago comportamental. Tendo a consciência que cada segundo vale, cada minuto muito mais, e viver é um milagre. Quando menos esperamos, a vida nos surpreende. Entregarmo-nos à mercê da dor, jamais, seguir em frente é a resposta. Um vencedor nunca se entrega ao fracasso, pois depois de toda a luta chega a vitória.

Nesse terreno sombrio e de grandes incertezas se assentam as bases da complexidade mental. Todas as representações internas desabam-se numa queda livre com o assombro da auto- insignificância.

O negativismo radical assume a sua magnitude de expressão máxima.

Esfacelando toda a defesa da imunidade mental, passando por todas as vias da autopreservação. As redundâncias emocionais serão as evidências da desordem interna e do desespero tenebroso. É nesta fase que o socorro deverá chegar o mais rápido possível. Uma voz de aconchego, um abraço meigo, por fim, a empatia que vai além da simpatia. Justamente a empatia é descer no fundo do poço onde a pessoa se encontra muitas vezes e ser a resposta nas horas mais sombrias.

É nesta hora que a voz da esperança deve se emergir de uma forma plena. No contexto profissional, a saúde mental deve ocupar um espaço de preocupação e relevância cimeira.

O suicídio no contexto profissional não é um caso isolado. Já tivemos vários casos em que houve um desfecho dramático. A maioria das vezes o silêncio da família falou mais alto do que reconhecer a perda do familiar por causa de uma situação que alguém poderia ajudar. Estou me referindo ao ambiente profissional e a forma como os colegas tratam um ao outro.

A forma como um colaborador é ignorado muitas vezes. Estamos tão preocupados com as atividades e nossos interesses, que o nosso colega se torna tão invisível aos nossos olhos, mesmo estando numa situação de colapso.

A vergonha, o sentimento derrotista e o desespero estão entre os principais fatores do suicídio. O que deve ser salientado, é o aspeto do cuidado permanente e intencional.

Todos nós precisamos de um cuidado intencional. O que nos preocupa tem a ver com chefias ou "líderes" que simplesmente existem na figura de "carrascos" e autoritários.

Fazem uso exagerado das suas atribuições e abusam dos que são menos "manobráveis".

Não devemos continuar a manter uma postura agressiva e abusiva no ambiente profissional. " A saúde mental dos funcionários é tão importante quanto o desejo de resultados.

O posicionamento menos empático das chefias gera consequências nefastas na mente e no crivo motivacional dos colaboradores. Algo precisa acontecer positivamente, sob pena de termos cada vez mais défices acentuados na excelência da saúde mental.

Precisamos mudar o quadro e reconstruir um novo paradigma. A desmotivação, a tristeza e a falta de motivação, são ecos que bradam e dificultam um profissional de ser excelente.

O assunto é sério e preocupante e dar o devido cuidado nesse aspeto será um passo imprescindível na prevenção do suicídio e promoção de uma boa saúde mental.

A saúde mental não pode ser uma "moda" política, nem um "jogo de interesse" das instituições responsáveis. Precisamos ser sinceros na luta e na real prevenção da "doença mental", que por sua vez representa justamente o descuido na área da saúde mental.

Neste caso, temos a saúde mental e a doença mental. São duas coisas diferentes, mas uma tem relação com a outra. O suicídio é o grau mais agudo do desespero e da absoluta fragilidade emocional e psíquica do indivíduo. Representa o estágio mais profundo da "amnésia existencial", em que tudo se torna escuro e sem sentido. Um enredo no qual nada se encaixa; um total vazio da lógica da existência e da autonomia emocional.

Termino com sincero sentimento a todos aqueles que necessitam de um abraço amigo e manifesto-me com empatia e amor aos que vivem um cenário menos bom. Minha profunda solidariedade. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1243 de 24 de Setembro de 2025.

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Autoria:Lino Magno,29 set 2025 8:07

Editado porAndre Amaral  em  29 set 2025 8:07

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