Cancro da próstata. Um tabu que pode custar vidas

PorChissana Magalhaes,20 nov 2016 6:00

O Cancro da Próstata é o segundo cancro mais comum nos homens a nível mundial, e a quinta causa de morte. Os cálculos mostram que em 2030 serão 1 milhão e 700 mil os novos casos diagnosticados e 499 000 as mortes. O aumento e envelhecimento da população mundial fazem estes números.

 

Cabo Verde segue a tendência global e tem neste tipo de cancro o segundo de maior incidência junto à população masculina, sendo os cancros em geral a segunda maior causa de morte no país. A isto se junta a agravante de se encontrar na lista dos países em desenvolvimento, ainda pouco providos de meios para enfrentar os efeitos da doença. Daí que a campanha preventiva Novembro Azul venha ganhando cada vez mais força no país. A afluência às consultas de rastreio realizadas por esta época comprova o aumento gradual da consciencialização. Mas ainda é preciso mais.

Em Fevereiro do ano passado soou o alerta: a médica oncologista Hirondina Spencer, ponto focal desse departamento do Hospital Dr. Agostinho Neto, na Praia, fez saber que o aumento do número de casos de cancros no país estava a atingir proporções alarmantes. Nas mulheres predominam o cancro da mama e do colo do útero. Entre os homens, são o cancro do tracto digestivo e o cancro da próstata os de maior incidência e mortalidade.

Que o número de casos aumenta com o crescimento e o envelhecimento da população já se sabe. O que não se conseguiu ainda descortinar ao certo são as causas concretas pelas quais alguns homens desenvolvem este tipo de cancro - que basicamente consiste num aumento descontrolado de células na próstata - e outros não. A idade, o histórico familiar e a dieta alimentar têm o seu peso. Mas vários são os casos que escapam a estas balizas.

Foi o caso de R., marido de Luísa (nome fictício), que aos 44 anos foi diagnosticado com um tumor, já em estado relativamente avançado. Embora já dentro da faixa-etária de risco (a partir dos 40 anos recomenda-se a realização de exames rastreio), R. estava ainda a boa distância da faixa com maior incidência, mantinha hábitos de vida saudável q.b. e na família ninguém, nem da parte masculina e nem feminina, teve alguma vez diagnóstico de qualquer tipo de cancro. 

 

Qual é a graça?

O cancro de R. foi detectado na sequência do surgimento de alguns sintomas [ver os sintomas da doença na Caixa]. Não lhe ocorrera ainda a necessidade de fazer o exame de rastreio recomendado a quem já tenha chegado ou ultrapassado a barreira dos 40. Mas a esposa conta que, por comentários feitos em uma ocasião ou outra, em tom jocoso, sabia que o toque rectal não fazia parte da lista de exames de check up que o marido pretendesse alguma vez realizar. Pelas mesmas razões que levaram a que fosse Luisa (e sob anonimato), e não R., a relatar-nos parte da  sua experiência enquanto doente diagnosticado com cancro da próstata: o tabu à volta desta doença masculina.

A questão do exame do toque rectal provoca um desconforto que é disfarçado através de piadas. É só ver como, quando acabou o mês de Outubro, e com ele o muito barulho (bom) que se fez à volta da prevenção ao cancro da mama, começaram as piadas relativas ao Novembro Azul. Aliás, nas redes sociais cartazes e imagens a incentivar a realização do exame foram partilhados com piadinhas pelo meio e provocaram riso.

Porém, à parte das piadas de gosto duvidoso, o assunto é sério. O preconceito, o medo e a vergonha levam a que muitos homens fujam do exame, fazendo com que o número de casos sem diagnóstico ou tardiamente detectados seja elevado. Os custos dessa fuga pagam-se em vidas humanas, mas também em recursos financeiros e humanos que o Estado tem que investir no tratamento da doença, e que tanto mais caro é quanto mais agressiva esta se apresenta. Afinal, em casos já avançados e que demandam tratamento mais intensivo, o caminho é a evacuação dos pacientes para o exterior.

 

Mudança de comportamento

O presidente da Associação Caboverdiana de Luta Contra o Cancro, o médico Henrique Vera Cruz, não se cansa de alertar para os custos sociais e também económicos que a não prevenção e a insistência no diagnóstico tardio acarretam. Por isso mesmo o grande esforço que a associação que preside tem feito para informar e sensibilizar a população sobre a doença e também realizar o rastreio, por forma a encaminhar os casos suspeitos para a realização de outros exames que possam confirmar ou não a presença do tumor (apenas a realização da biopsia atesta em definitivo a presença doença).

É que, segundo dados de um relatório sobre a situação da doença a nível mundial, diagnosticar este cancro em fase inicial possibilita que o tratamento tenha sucesso em 9 entre 10 casos. Uma taxa de sucesso bastante positiva.

“ Felizmente, nós temos notado que começa a haver uma mudança de comportamento e já vimos aumentar o número de homens que afluem aos locais onde temos realizado as nossas campanhas. Por exemplo, da primeira vez que fomos aos Tarrafal para realizar consultas e exames de rastreio foram somente 20 homens. Desta vez atendemos cerca de 200”, relata o médico que, no entanto, avisa que grande parte dos homens caboverdianos ainda não ouviram falar do cancro da próstata e atribui os sintomas aos efeitos naturais do envelhecimento.

Para contornar este desconhecimento e vencer os tabus, a estratégia mais recente da Associação passa por associar-se a empresas e serviços de modo a engajar os seus funcionários nas acções preventivas. E ao que parece, confirma-se que, colectivamente, os homens têm respondido mais positivamente à chamada para a prevenção.


Causas e Principais Factores de Risco para o Cancro da Próstata

Ninguém sabe as causas exactas do cancro da próstata. Os médicos muitas vezes não podem explicar por que um homem desenvolve cancro da próstata e outro não. Estudos mostram que alguns homens com os seguintes factores de risco têm mais hipóteses de desenvolver cancro da próstata:

Idade: A idade é o principal factor de risco para o cancro da próstata. Esta doença é rara em homens com menos de 45 anos. O risco aumenta depois dos 50 anos.

História familiar: o risco de um homem ter cancro da próstata é maior se o seu pai ou irmão teve ou tem cancro da próstata.

Dieta: Homens que comem uma dieta rica em gordura animal ou carne podem ter um risco aumentado para cancro da próstata. Homens que comem uma dieta rica em frutas e vegetais podem ter um risco menor.

 

Sinais e Sintomas do Cancro da Próstata

Em muitos casos, o crescimento deste cancro é lento, podendo não evidenciar nenhum sintoma, e o homem não se percebe que está doente. Nos casos mais avançados, os sintomas podem ser:

Jacto de urina muito fraco ou reduzido;

Necessidade frequente de urinar, especialmente à noite;

Sensação de que bexiga não se esvaziou completamente e ainda persiste a vontade de urinar;

Dificuldade de iniciar a urinar;

Dificuldade de interromper o ato de urinar;

Urinar em gotas ou jactos sucessivos;

Necessidade de fazer força para manter o jato de urina;

Necessidade contínua de urinar, ou pode acontecer que a urina saia sozinha;

Sensação de dor na parte baixa das costas ou abaixo dos testículos;

Problemas em conseguir ou manter a erecção;

Sangue na urina ou no esperma (estes são casos muito raros).  

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 781 de 16 de Novembro de 2016.

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Autoria:Chissana Magalhaes,20 nov 2016 6:00

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  21 nov 2016 10:46

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