Regressa o Campus África, por uma ‘Macaronésia do conhecimento’

PorNuno Andrade Ferreira,1 jul 2018 7:19

​Bolseiros debatem desenvolvimento sustentável, património cultural e saúde

De 11 a 26 de Julho, a cidade de San Cristobal de La Laguna, em Tenerife, volta a receber centenas de bolseiros Áfricanos, incluído 60 cabo-verdianos, para mais um Campus África.

Organizado a cada dois anos pela Universidade de La Laguna, Canárias, em parceria com instituições públicas e privadas, o Campus África cumpre este ano a sua terceira edição. O evento quer afirmar-se como um fórum de reflexão especializada sobre o lugar do continente Áfricano no processo de globalização, com as questões da saúde pública e desafios regionais nesta área no topo da agenda.

Para José Gómez Soliño, co-director do Campus, é oportuno pensar-se de forma transversal em problemas que são comuns, em particular no contexto da Macaronésia.

“Da óptica dos arquipélagos da Macaronésia, acreditamos que são fundamentais os desafios relativos à saúde, especialmente as doenças infecto-contagiosas que ameaçam, não apenas, a população autóctone, como também o turismo”, lança.

Em La Laguna são esperados ministros da Saúde de países vizinhos, como Senegal, Mauritânia e Cabo Verde.

“Também nos preocupam os desafios ambientais e ligados às mudanças climáticas, sem esquecer a contaminação dos oceanos e a crescente escassez de recursos hídricos”, acrescenta.

Ao longo de duas semanas, os participantes, oriundos de países tão diversos como Tunísia, Marrocos, Guiné-Bissau, Senegal, Guiné-Equatorial ou Gabão (além de Cabo Verde), também vão trocar ideias sobre o desenvolvimento sustentável e revisitar o património cultural Áfricano, o valor das línguas e o papel da Macaronésia como espaço cultural.

“Não menos importantes são os desafios ligados ao crescimento demográfico, às migrações, aos processos de urbanização”, observa Gómez Soliño.

A UNESCO, que trabalha em parceria com a organização, promoverá sessões especiais sobre diplomacia científica.

No Parlamento das Canárias, na vizinha Santa Cruz de Tenerife, uma conferência sobre “a Mararonésia: um futuro por construir” reunirá os responsáveis políticos que, em Dezembro de 2010, oficializaram no Mindelo a criação da região da Macaronésia.

Conhecimento

O Campus África tem na sua génese a criação de uma comunidade científica transnacional, centrada na Macaronésia, mas que não se limite a esse espaço geográfico. A organização aposta na relevância do conhecimento produzido nas ilhas.

“Constituímos territórios fragmentados e limitados, mas para o talento não há limites e não nos devemos esquecer que, apesar de sermos ‘uns grãozinhos espalhados no meio do mar’, no campo da cultura e da ciência podemos ser grandes e jogar um papel relevante num mundo cada vez mais globalizado”, releva José Gómez Soliño.

“Do ponto de vista universitário, a nossa prio-ridade é a construção de um ‘Macaronésia do conhecimento’ e, sobretudo, contribuir para criar uma consciência da Macaronésia entre as gerações mais novas. As populações dos arquipélagos do Atlântico Médico não estão conscientes que fazem parte de uma região singular, com muitas afinidades que resultam das suas características biogeográficas e do seu desenvolvimento histórico”, explica.

Convencido que o papel das universidades não se esgota nos habituais campos de influência e acção, o responsável pelo Campus África justifica a aposta da Universidade de La Laguna num evento desta dimensão como um passo no caminho da projecção internacional da academia.

“Hoje em dia, as universidades também enfrentam desafios à escala global. Portanto, devem reforçar a sua projecção internacional. A criação de redes académicas torna-se essencial e a Universidade de Laguna, com 226 anos de história, aspira a fortalecer os seus laços de colaboração com as universidades irmãs do Atlântico Médio”, contextualiza Gómez Soliño.

Depois de duas edições bem-sucedidas, o Campus África 2018 quer prosseguir a senda da afirmação de uma “consciência macaronésica” de base científica.

“Damos muita importância ao poder capacitador da ciência, que é fundamental para o desenvolvimento de qualquer sociedade, sendo-o ainda mais no caso das nossas sociedades insulares”, remata.


A Universidade de La Laguna

Fundada por decreto régio, em 1792, a Universidade de La Laguna é uma referência no ensino superior na comunidade autónoma das Canárias. Oferece cerca de centena e meia de possibilidades de formação em diferentes níveis. A comunidade académica é formada por perto de 23 mil alunos, quase 1.700 professores e mais de 800 funcionários administrativos e de outros serviços.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 865 de 27 de Junho de 2018.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,1 jul 2018 7:19

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  2 jul 2018 7:08

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