Maria Gonçalves, trabalhadora doméstica há mais de três décadas, explicou à agência Lusa que a Associação das Empregadas Domésticas de Cabo Verde (ASED-CV) nasceu com o objectivo de valorizar uma carreira que ocupa o quarto lugar no ranking das profissões das mulheres cabo-verdianas.
“É a primeira associação do género em Cabo Verde. A profissão está regulada pelo Código Laboral desde 2008, mas ainda não existia uma organização que falasse por estas profissionais”, adiantou.
Desafios não faltam a estas profissionais que representam seis por cento dos empregados activos em Cabo Verde.
As mulheres representam 94% dos trabalhadores domésticos neste país africano e são muitas as disparidades com que se deparam, nomeadamente de ilha para ilha.
Segundo Maria Gonçalves, o salário mínimo nacional em Cabo Verde, de 13 mil escudos, não é atribuído a todas as empregadas domésticas e existem ilhas onde estas não auferem mais que 5.000 escudos mensais. Em média, o ordenado de uma empregada doméstica ronda os 10 mil escudos.
“Há muitas coisas onde podemos melhorar. Um inquérito nacional revelou que a maioria das trabalhadoras domésticas trabalha mais horas do que o previsto, muitas não têm férias e até há quem desconheça o seu direito a férias ou a folgas”, disse.
Outro dado que preocupa Maria Gonçalves é a “percentagem reduzida” (10%) de domésticas que desconta para o regime da segurança social.
“É preciso valorizar a classe, pois esta não é valorizada como devia, apesar de ter uma importância muito grande no país. Queremos dar-lhe mais visibilidade”, afirmou.
A ASED-CV foi constituída no dia 29, na Cidade da Praia, tendo Maria Gonçalves sido eleita a primeira presidente. A organização conta com o apoio da Associação Cabo-verdiana de Luta contra a Violência Baseada no Género (ACLVBG) e tem um âmbito nacional.