A conferência de imprensa que marcou o arranque do evento, co-organizado pelo Ministério da Defesa e pelo Comando dos Estados Unidos para África (US AFRICOM), foi presidida na segunda-feira, pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que chamou a atenção à “utilidade” de Cabo Verde em acolher eventos desta natureza.
“Trata-se de um momento alto, não só para a nossa relação com o Estados Unidos da América como para a nossa importância enquanto país africano, localizado nesta região que deve ser valorizada pelas oportunidades, e por isso, no que comporta a ameaças temos sempre interesse estratégicos em tudo que diga respeito à segurança do nosso país e da nossa região”, aclarou o primeiro-ministro.
Ulisses Correia e Silva entende ainda que os países para fazerem face às ameaças, mesmo que sejam remotas, devem ter instituições fortes, bem preparadas que possam partilhar aquilo que se faz de melhor relativamente ao uso das comunicações e acções de informação que facilitem e permitem tomar medidas acertadas e em tempo útil.
Em representação do Comando dos Estados Unidos para a África, o General do corpo de fuzileiros navais dos EUA, Thomas D. Waldhouser explicou a motivação dos EUA na promoção deste simpósio, visando desenvolver a segurança e a telecomunicação com os seus parceiros e “equilibrando aquilo que deverá ser uma interpretação comum para uma melhor resposta em caso de ameaças ou catástrofes”.
O principal objectivo do evento, ajuntou, é o de aumentar as capacidades de comando, controlo e comunicação das nações africanas, encorajando tácticas, treino e procedimentos interoperáveis e criando documentos normativos que suportam a interoperabilidade, permitindo que esses países possam oferecer apoio nesta matéria às forças da União Africana e às forças de alerta africanas envolvidas em missões de assistência humanitária, desastres e manutenções de paz etc.
Nos debates que vão decorrer num dos hotéis de Santa Maria, os participantes vão focar e discutir, até 03 de Agosto, questões relacionadas com a segurança cibernética e ciber-defesa, operações contra organizações extremistas violentas, operações marítimas de combate ao tráfico ilícito e operações de manutenção da paz.
Já o embaixador dos Estados Unidos em Cabo Verde, Donald L. Helfin, deixou claro que não haverá expectativas de acordos bilaterais a sair do simpósio, já que este contempla apenas esta partilha de experiências estratégicas e de segurança e telecomunicações, deixando elogios a Cabo Verde no que toca a organizações de conferências desta natureza.
“Quero agradecer a Cabo Verde pela ‘morabeza’ e dizer que têm um futuro brilhante no que toca a centros de conferência, no Sal, São Vicente e Praia, e se esta conferência tiver sucesso será um pouco por causa desta preparação”, acrescentou o diplomata.
Com uma base no Senegal, Camp Cisse, localizada numa pequena parte das instalações do antigo aeroporto de Dakar, os EUA têm ali uma base operacional onde podem aterrar aviões para reabastecimento, mas também uma base de suporte logístico e de armazenamento de materiais que permite uma rápida resposta a situações de crise como a que aconteceu com a epidemia de ébola.
O comandante do AFRICOM destaca que o papel da força militar norte-americana no continente africano é de “construção e reforço de capacidades das forças militares dos seus países parceiros”.
“A maioria, se não mesmo todas as operações de combate, serão lideradas pelas forças militares desses países, não pelos EUA. Por isso o nosso grande objectivo é ajudar a atingir um nível em que possam lidar eficazmente com os desafios que enfrentam”, referiu Waldhauser.
“Não queremos, de maneira nenhuma, assumir o controlo e a liderança dessas operações. Em caso nenhum quereremos ser senhores do problema. Na realidade o que queremos é ter disponíveis diversas soluções, sejam eles ataques cirúrgicos em países como a Somália ou negociações bilaterais com os países do G5”, disse referindo-se ao grupo de cinco países (Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger) que participam na força militar contraterrorista da África Ocidental.
Assim, assegura Waldhauser, quando os EUA “participarem em ataques vão fazê-lo apenas quando tiverem certeza absoluta sobre o inimigo que vamos enfrentar”.
Actualmente, segundo o AFRICOM, os EUA têm autorização para realizar ataques aéreos usando drones em apenas dois países africanos: Líbia e Somália. No entanto, Waldhauser confirmou à Reuters que “vamos começar a armá-los no Niger e vamos usá-los se assim acharmos necessário” a partir da capital daquele país, Niamey.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 870 de 01 de Agosto de 2018.