Cabo Verde também vai marchar pelo clima

PorChissana Magalhães,5 set 2018 16:20

Logo criado pelo artista plástico Tutu Sousa
Logo criado pelo artista plástico Tutu Sousa(350 CV)

As ilhas de Santiago e Boa Vista irão representar Cabo Verde no evento global 350. Este sábado, dia 8, Praia e Sal Rei vão acolher a marcha de sensibilização pelo clima, trabalho e justiça ambiental.

Cabo Verde adere este ano à marcha realizada anualmente em vários pontos do globo, iniciativa que nasce em 2008, no seio de um grupo de estudantes universitários que se juntaram ao autor Bill McKibben, autor de um do primeiro livro sobre aquecimento global para o público geral. Juntos tinham como propósito criar um movimento global pelo clima.

O colectivo que organiza a marcha 350 Cabo Verde surgiu a partir da iniciativa de Débora Carvalho, que representa em Cabo Verde o Climate Reality Project do antigo vice-presidente norte-americano Al Gore (ele próprio participante da marcha desde a sua primeira edição). À activista ambiental cabo-verdiana juntou-se um grupo de pessoas ligadas e projectos e associações sensíveis às questões ecológicas, caso da Quercus Cabo Verde, da Associação Cabo-Verdiana de Ecoturismo, do Movimento Contra a Poluição de Cabo Verde, da associação de Surf de Cabo Verde e da Juventude Franciscana.

“Houve essa junção de interesses comuns – a preocupação com o nosso planeta - e formou-se um grupo que aderiu a essa proposta de participar e fazer com que Cabo Verde seja incluído na marcha 350”, diz Paulo Lobo Linhares, que também faz parte do núcleo organizador.

“Nós propomos, pacificamente, que as pessoas olhem para as agressões que o nosso planeta vem sofrendo e, da maneira como cada um puder, vá contribuindo para chamar a atenção. A nossa proposta primeira é interpelarmos a pessoa individual. Quem vive nesta casa global, digamos assim, somos todos nós. Independentemente de sermos os decisores, os governantes, o engenheiro, o cidadão…a mensagem é muito centrada na pessoa. Cada um de nós, individualmente, é que tem que se preocupar em travar o nível de agressão que a terra está a sofrer”, explica sobre os objectivos pretendidos pela organização cabo-verdiana.

Este ano o lema da marcha é Clima, Trabalho e Justiça. Focando na parte que se refere ao trabalho, Linhares aponta o exemplo da fábrica de azulejos, a partir de restos de plástico, criada em Santo Antão e que indica que o investimento na reciclagem industrial também pode contribuir para a criação de postos de trabalho e de uma economia verde, e sobretudo para a diminuição daquela que é uma das maiores preocupações deste núcleo de ambientalistas cabo-verdianos: o lixo.

“Um dos factores que mais contribui para as mudanças climáticas é a poluição. Ela advém dos combustíveis fósseis, produção agrícola, pecuária e industrial que em Cabo Verde não é significativa, mas também advém do lixo que cada um dos nós produz. Em Cabo Verde estamos a normalizar a convivência pacífica com o lixo. Somos ilhas e tudo o que consumimos é importado. Não havendo política de reciclagem, onde para o meu lixo?”, lê-se numa publicação na página criada pela organização para mobilizar os cidadãos a participarem no evento de sábado. Daí que o lema da marcha cabo-verdiana seja “Nha Lixo é Dimeu”.

A mobilização nas redes sociais para a marcha na capital acabou por despertar o interesse de activistas na ilha da Boa Vista que quiseram juntar-se à iniciativa e criar o evento “Marchar Boa Vista pelo Clima, Trabalho e Justiça”.

“Pela primeira vez Cabo Verde integra a causa, e a ilha da Boa Vista também se mobilizará para que seja dada voz à questão da justiça climática e outros problemas ambientais que estão a pôr em risco o ecossistema na ilha das Dunas.”, defendem os impulsionadores da iniciativa naquela ilha.

A iniciativa 350 é assim denominada porque é o número de partes por milhão que é a concentração segura de dióxido de carbono na atmosfera, e neste momento a Terra regista um número acima desta concentração (400 partes por milhão) sendo urgente baixar. A ONG possui uma rede que engloba quase 200 países e trabalha contra o aumento da exploração e uso de combustíveis fósseis e pela criação de soluções com 100% de energias renováveis.

“A mudança climática não é um problema distante e abstracto - está aqui agora. Pessoas de todo o mundo estão a sentir o seu impactos, de nações insulares que estão a submergir, a terras indígenas sendo exploradas para a extracção de combustíveis fósseis. A luta contra as alterações climáticas é uma luta pela justiça”, lê-se no site da 350.org.

Na cidade da Praia, a marcha de sábado parte cerca das 09h30 do Liceu Domingos Ramos, passa pela embaixada dos EUA, rumo à Praça Alexandre Albuquerque onde haverá um mini-concerto com a cantora Lúcia Cardoso, também criadora de uma marca verde de produtos cosméticos, seguindo-se uma série de palestras curtas por parte de especialistas em questões ambientais.

Em Sal Rei, representantes da sociedade civil e várias outras instituições pública e privadas, reúnem-se às 10 horas frente à Shell para marchar pelo clima e  por um planeta menos poluído.

*Notícia actualizada com a correção sobre a origem do movimento 350.

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Autoria:Chissana Magalhães,5 set 2018 16:20

Editado porChissana Magalhães  em  6 set 2018 13:38

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