Mau tempo causa danos um pouco por todo o país

PorAndré Amaral,15 set 2018 7:05

Chuva, vento, muito vento, mar agitado com ondas poucas vezes vistas em Cabo Verde causaram danos um pouco por todo o país. Agitação marítima destruiu a orla costeira da Cidade Velha.

Em Santiago, Serra da Malagueta, o vento provocou a queda de dois postes de electricidade, já reparados. Na Praia, registou-se a queda de algumas árvores, um pouco por toda a cidade, e de um poste de electricidade em Quebra Canela, a principal praia da capital.

Em Santiago, os danos maiores foram provocados na Cidade Velha. A orla costeira da cidade que é Património Mundial foi destruída pelas ondas do mar.

Em declarações à Inforpress, uma moradora daquela cidade explicou que já na noite de domingo para segunda-feira começaram as ondas altas, mas só na manhã de segunda-feira é que estas conseguiram derrubar o muro de protecção entrando até perto das moradias, bares e restaurantes existentes nesta zona.

“A força do mar provocou estragos no piso e em alguns restaurantes e bares, enquanto nós, os moradores, tivemos que tirar tudo o que tínhamos ao pé da casa, pois, caso não o fizéssemos ia tudo para o mar. Já estamos habituados com a subida do mar nesta encosta, mas nunca como nesta manhã”, disse.

Dono de um dos espaços de restauração na zona costeira da Cidade Velha, Luciano Barbosa era, na segunda-feira, um homem resignado.

“Não podemos lutar contra a força da natureza. Só podemos lamentar”, dizia este empresário ao Expresso das Ilhas quando a maré começava de novo a subir e as ondas ameaçavam invadir uma vez mais o pouco que sobrava da rua em frente aos bares da cidade.

“Isto começou esta manhã [segunda-feira]. Depois de me levantar fui avisado que tinha havido um desastre aqui em baixo e quando cheguei vi que o mar já tinha levado toda a protecção que existia aqui à frente”, relatou.

O restaurante de Luciano Barbosa não sofreu danos materiais “mas a situação é que com o desaparecimento daquele arruamento quase por inteiro agora ficamos sem protecção e estamos inseguros. A qualquer momento qualquer onda pode entrar aqui com facilidade”.

Com o autarca da Cidade Velha ausente do país, coube a Cláudia Almeida, vereadora daquela autarquia, avaliar os danos causados pela agitação marítima de segunda-feira e do mau tempo do fim-de-semana.

Depois de passar o mau tempo e depois dos técnicos da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago terem saído para o terreno para identificar locais onde se registaram estragos, Cláudia Almeida explicou que a autarquia contactou os serviços da Protecção Civil, o Instituto de Estradas, a Polícia Nacional e as Forças Armadas.

“Depois de irmos para o terreno concluímos que a situação mais grave é a orla marítima da Cidade Velha onde estão em causa moradias e estabelecimentos comerciais. Também fomos a Porto Mosquito e a Santana onde se verificaram estragos significativos na estrada. Ontem terça-feira o trabalho continuava. Vamos para as zonas altas do concelho onde há relatos de casas afectadas, vias obstruídas, queda de postes de electricidade e também de rochedos”, acrescentou.

Com o evoluir dos trabalhos de recuperação a Câmara Municipal vai recebendo mais informações. “Quanto às intervenções, o IE estava segunda-feira a fazer limpezas e a desobstruir passagens que ficaram condicionadas com a passagem do mau tempo em Pico Leão e Belém”.

Mas não foram apenas as estradas e a orla costeira que sofreram danos. “Em Santana há uma habitação em risco devido ao deslocamento de terras”, disse Cláudia Almeida ao Expresso das Ilhas.

Agora, com o mau tempo a dar tréguas é tempo de avaliar quanto vai custar recuperar as zonas afectadas, especialmente a zona costeira da Cidade Velha. Um trabalho que, explica a vereadora da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, ainda não está concluído.

“A avaliação dos danos causados na orla costeira ainda não está concluída. Com certeza que vai ter um custo enorme mas não sei precisar os custos, neste momento”.

Tal como avisou o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica as ilhas do sul do arquipélago foram as mais afectadas pelo mau tempo que atingiu Cabo Verde durante o fim-de-semana.

No alerta de mau tempo emitido no domingo o INMG alertava para a ocorrência de chuva forte e apelava à tomada de medidas de prevenção e segurança “face à possibilidade de enchentes nas zonas baixas e deslizamento de terras nas encostas”.

Quedas de árvores e estradas condicionadas no Fogo

Fogo e Brava foram também atingidos por esta tempestade tropical que acabou, depois de deixar Cabo Verde, por se transformar em furacão.

Em São Filipe, no Fogo, caiu um poste de telecomunicações e várias árvores sendo que algumas derrocadas de pedras foram também registadas, condicionando a circulação em algumas estradas.

O concelho de Mosteiros foi outro dos atingidos pelo temporal mas o autarca daquela localidade da ilha do vulcão mostra-se esperançado no futuro. “Os ganhos que a agricultura vai ter no futuro vão ser superiores aos custos” dos danos causados pelo mau tempo, disse Fernandinho Teixeira ao Expresso das Ilhas.

Ainda assim, a tempestade fez-se sentir e ainda condiciona a vida dos habitantes daquele concelho do Fogo.

“Houve quedas de árvores em todo o município, enxurradas na zona alta com prejuízos sobretudo em produtos da agricultura de sequeiro e de produção de fruteiras”, começou por contar Fernandinho Teixeira.

Também as habitações foram atingidas pelo mau tempo. “A fragilidade das habitações acontece em todo o Cabo Verde e Mosteiros não foge à regra”, aponta o autarca confirmando de seguida que algumas famílias “necessitam de colaboração no sentido de melhorarem a sua situação. A água entrou em algumas casas”.

Além da chuva intensa, também o vento forte se fez sentir durante o fim-de-semana causando a queda de algumas árvores o que levou a câmara municipal a accionar “os seus mecanismos e com a ajuda de voluntários acabamos por colocar o município na sua normalidade”.

Para Fernandinho Teixeira o grande problema, no entanto, acabaram mesmo por ser as falhas de electricidade e de telecomunicações que obrigaram os serviços públicos daquele concelho a pararem quase por completo.

“O problema maior foi a falta de energia. Durante todo o dia de ontem, segunda-feira, estivemos com problemas de energia, estivemos com problemas de rede de telecomunicações móveis. Os serviços públicos praticamente não trabalharam porque o serviço de internet não funciona. Tudo isto condicionou a vida dos mosteirenses”.

Com o mau tempo os clássicos problemas de acessos e acessibilidades acabam por se agravar. Mosteiros não foi excepção como explica Fernandinho Teixeira que destaca a dificuldade de acesso à zona do seu município.

“Para se chegar lá é preciso fazer o percurso de Mosteiros a Santa Cataria e de lá a São Filipe para entrar de novo nos Mosteiros via Norte para chegar, por exemplo, a Rocha Fora. Tudo isto é uma condicionante que não facilita a vida das pessoas dos Mosteiros”.

Brava também foi afectada

O mau tempo condicionou igualmente a navegação marítima e na Brava o porto da Furna chegou mesmo a estar encerrado.

Francisco Tavares, presidente da Câmara Municipal da ilha das flores, falou com o Expresso das Ilhas numa altura em que pela primeira vez, “desde sábado”, como disse, ia haver ligação entre Fogo e Brava.

“Não houve muitos danos. O mau tempo, se fizermos um balanço geral, diria até que foi positivo porque trouxe muita chuva”, avançou o edil bravense.

“No entanto, trouxe também muito vento que causou a queda de algumas árvores, a obstrução de algumas estradas, mas em dois dias estava tudo resolvido. Não houve situações alarmantes”. Ainda assim, com a tempestade, registou-se a queda “de muros em casas muito velhas, mas a situação não é grave”.

Quanto ao porto da Furna, a agitação marítima sentida acabou por não causar danos. “Neste momento estou no barco e daqui a nada vamos partir para a Brava [Francisco Tavares, no momento que falou com o Expresso das Ilhas estava no Fogo]. O barco, ontem de manhã fez a primeira ligação desde sábado, mas agora o mar está calmo havendo a possibilidade de não poder pernoitar na Brava por causa daquilo que os tripulantes chamam de calema”.

Para hoje, quarta-feira, o autarca está certo que a ligação será retomada.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 876 de 12 de Setembro de 2018.

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Autoria:André Amaral,15 set 2018 7:05

Editado porChissana Magalhães  em  16 set 2018 11:21

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