Em terreno seguro, perante uma plateia de militantes, no jantar de abertura do ano político, Ulisses prometeu, sem aprofundar nenhuma promessa: além de aumentos salariais, enquadramento de trabalhadores precários, actualização da pensão social mínima, crescimento da economia na casa dos 7%, habitação social e investimentos na saúde, só para exemplificar. Mas vamos por partes.
A intervenção do líder foi servida antes do jantar, antecedida de uma única outra declaração, de Maria Trigueiros, presidente da Comissão Política Concelhia do MpD, em São Vicente.
Sobre aumento de salários, pouco adiantou, pelo que a ideia se resume numa frase: “vai haver actualização salarial para os funcionários do quadro comum da administração pública”. Os detalhes deste aumento deverão chegar depois, em sede de Orçamento de Estado para 2019.
Também no Orçamento deverá vir inscrita a subida da pensão social mínima, dos actuais cinco mil para os seis mil escudos. Em perspectiva, isto significa um aumento de 20 por cento.
Os funcionários públicos, em particular aqueles que têm vínculos precários, regressaram ao discurso, com a promessa de resolução da sua situação .
Por esta altura, já o presidente do MpD tinha sido aplaudido várias vezes pelos militantes do seu partido. Mas a primeira ovação da noite acontecera mais cedo, quando Ulisses, que quer voltar a ganhar tudo, a partir de 2020, disse esperar que a abertura do ano político servisse de projecção para “novas vitórias”. E não fez por menos: “nas autárquicas, nas legislativas, com o candidato às presidenciais”.
“Temos razões para estarmos confiantes”, garantiu.
Embalado pelas palmas, Ulisses Correia e Silva jogou, então, uma cartada esperada. Pegou nas contas do PIB, divulgadas na véspera pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e fez delas pretexto para retomar uma das bandeiras eleitorais: a economia a crescer 7%,
“O aumento está em linha com aquilo que é meta da nossa governação, que é chegar aos 7%”, relembrou.
O INE publicou sexta-feira as Contas Nacionais Trimestrais relativas ao segundo trimestre de 2018. Em comparação com o mesmo período do ano passado, o PIB cresceu 5,9%.
Sobre a Binter, nada. Sobre a TACV, breve referência, a meio de uma outra ideia. “Enfrentámos grandes problemas, como a deterioração da segurança urbana, o descalabro da TACV, a estagnação da economia e a seca”.
Ulisses garantiu ter a receita do sucesso: mais financiamento, melhor fiscalidade, mais transportes e melhoria do ambiente de negócios.
Num discurso virado para o país, o presidente do partido da maioria não evitou falar da oposição. A primeira referência apareceu quando assegurou que ele, o Governo e o partido estão “de pé, a seguir em frente, a melhorar o país, para desespero daqueles que estão com sede de vingança e são negativistas”. A segunda, quando lembrou o processo do Fundo do Ambiente - “que as investigações sobre o Fundo do Ambiente sejam concluídas e todas as responsabilidades sejam apuradas, para que se saiba quem é quem, quando se fala de corrupção”, fim de citação.
São Vicente
A cada instante, uma referência a São Vicente, não fosse Mindelo palco da acção política, não fosse esta a ilha que mais vezes reclama maior atenção da Praia.
A justiça. “Prioridade das prioridades para o próximo ano, em São Vicente, é melhorar os serviços de registos e notariado”, frisou, depois das críticas do PAICV ao funcionamento do cartório notarial.
A saúde. “As obras para a construção do centro de hemodiálise [no HBS] arrancam já no próximo mês de Outubro. O concurso foi lançado para um bloco ambulatório, no montante de 380 mil contos. Concurso também já lançado para transformar o Centro de Ribeira de Vinha numa comunidade terapêutica de referência na zona norte. A nova maternidade está incluída nas prioridades da nossa cooperação com a China”, enumerou.
A segurança. “A segurança urbana melhorou significativamente graças às medidas adoptadas”, disse Ulisses, antes de anunciar que em 2019 chegará a Mindelo o projecto de videovigilância Cidade Segura, este ano inaugurado na Praia.
E o resto. Correia e Silva contabilizou investimentos globais de 613 mil contos nos próximos três anos – sem contar com a asfaltagem Mindelo-Baía das Gatas – e prometeu a construção de 300 habitações sociais, em parceria com a cooperação chinesa.
Discorria o presidente do MpD sobre São Vicente quando abriu um parêntesis para falar de amizade. “Todas as câmaras municipais são amigas do Governo e o Governo é amigo das Câmaras, independentemente da cor política”. Parêntesis fechado.
Na plateia, a escutar o seu presidente, dirigentes e militantes do MpD, entre os quais alguns membros do Governo. Público que ouviu Ulisses confirmar que a proposta de lei sobre a regionalização vai a debate e votação, no parlamento, antes que o mês acabe.
“Assim vamos saber quem está a favor e quem está contra a regionalização”, disse, em mais uma farpa à oposição.
“Fazemos diferente”, garantiria antes de terminar. “Estamos no caminho certo, estamos a cumprir, estamos a realizar Cabo Verde”.
Pouco depois, Ulisses abandonaria o palco, depois de 25 minutos de um discurso em que, por duas vezes, fez questão de recordar que a legislatura ainda só vai a meio.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 879 de 03 de Outubro de 2018.