E se o próximo Einstein for cabo-verdiano?

PorChissana Magalhães,27 out 2018 15:25

​A Universidade de Cabo Verde está a acolher a Semana Africana da Ciência (ASW- African Science Week), um programa desenhado pela Next Einstein Forum (NEF) com o objectivo de promover e instigar a curiosidade, interesse e envolvimento para as áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM).

Durante a semana do evento, os estudantes universitários vão beneficiar de mini-cursos em programação e impressão 3D e em Organismos Modelos para Investigação em Ciências da Vida, para além da conferência “Jovens e CTEM em Cabo Verde: desafios e oportunidades” e de uma mini-feira de Tecnologia e Inovação, estas duas últimas actividades na Universidade Jean Piaget.

“Queremos chamar a atenção dos alunos do Secundário para a conferência e a mini-feira de Tecnologia e Inovação, que também são abertas a eles”, explica Mara Aburraya, da Casa da Ciência da Uni-CV, atendendo o interesse de que jovens ainda em fase de escolha de percurso académico possam ter contacto com estas iniciativas.

Também as crianças do ensino Básico são contempladas no programa da Semana Africana da Ciência com sessões de Robótica nos weblabs das escolas da Cidade da Praia e com a actividade Brincar à Ciência promovida pela Casa da Ciência, tanto na Praia como em Mindelo.

“Estaremos a receber diariamente 25 crianças a quem iremos transmitir conhecimentos da área de física, química e biologia através de experiências práticas”. Mara Aburraya explica que as crianças, mobilizadas com o apoio da Delegação Escolar do Ministério da Educação, são oriundas das escolas mais distantes do centro urbano, como forma de promover a inclusão e o acesso.

Desde de 2013 que o Next Einstein Forum (NEF), iniciativa do African Institute for Mathematical Sciences (AIMS) em parceria com o fundo Robert Bosch, estabeleceu-se como uma plataforma que faz a ligação entre ciência, sociedade e política, tendo a África como base principal da sua actuação já que a NEF acredita que o contributo da África para a comunidade científica mundial é fundamental e que os jovens serão a força motora dessa renascença científica de África.

Analistas e especialistas diversos concordam que um dos maiores, senão o principal desafio da África para os próximos anos é levar as ciências e tecnologias no continente a um outro nível. Cabo Verde, situado na região do continente que mais necessidade tem de evoluir neste campo e onde as carreiras nas áreas das Ciências Sociais e Línguas são a tendência dominante, começa a empreender algum esforço no sentido de inspirar as próximas gerações a abraçarem as STEM (em inglês Sciences, Tecnologies, Engineering and Mathemathics).

A Casa da Ciência tem levado a cabo algumas iniciativas, sobretudo voltadas para o público infantil, fazendo com que tomem contacto com as ciências de forma lúdica. Para além de Física, Química e Biologia, também Robótica e Programação. Estas últimas têm sido também promovidas junto a jovens do ensino secundário através dos weblabs, iniciativa governamental que está a instalar nas escolas secundárias do país laboratórios informáticos onde os estudantes possam experimentar estas valências.

Nas escolas secundárias há alguns anos que se busca estimular os jovens para a Matemática através das Olimpíadas da Matemática, competição que leva os mais dotados à arena internacional.

Neste mês de Outubro, o Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI) recebeu o evento internacional de promoção à inovação NASA Space Apps Challenge, uma hackton internacional de 48 horas que acontece em simultâneo em 48 cidades. Na hackton (termo com origem na junção das palavras inglesas hacking e marathon e que, basicamente, é uma maratona de programação) os participantes são convidados a “explorar dados abertos, desvendar códigos e sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projectos de software ou mesmo de hardware”.

(Dis) Paridade de Género

Entretanto, em Cabo Verde como no resto de África e também à escala global, as STEM continuam a ser domínio masculino. A reportagem do Expresso das Ilhas “Mulheres nas STEM: Desigualdades no mundo binário” (ed.nº 845 de 07 de Fevereiro de 2018) focava exactamente esta realidade constatando que, não obstante as Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática serem as áreas com maior taxa de empregabilidade e com empregos com salários acima da média, ainda a preferência daqueles que ingressam nas universidades é para as áreas das Ciências Sociais, Humanas, Letras e Línguas. E quando a comparação tem como variável o género a discrepância ainda é superior, isto é, a desproporção de mulheres nestas áreas é alarmante.

O relatório “The Gender Gap in Science” (“As Disparidades de Género na Ciência”) aponta que, a nível global, das pessoas envolvidas em carreiras nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática apenas 28,4% são mulheres. Restringindo-se à África Subsariana, a média fica-se pelos 30% de mulheres.

Com vista a iniciar um movimento para mudar este cenário têm acontecido, também em Cabo Verde, iniciativas como a “Women in Tech Africa”, uma organização africana criada por mulheres profissionais das áreas de Ciências, Engenharias, Tecnologias e Matemática, com vista a promover o desenvolvimento económico da África, através das tecnologias.

Em finais de Agosto último a ONU Mulheres promoveu a deslocação de duas estudantes cabo-verdianas do ensino Secundário a Adis Abeba para participarem da primeira edição do programa African Girls Can Code, que decorreu em Addis Ababa com o propósito de dotar as raparigas africanas de competências de cultura digital e promover e apoiar a entrada de raparigas no sector das TIC e da codificação.

A este propósito ressalte-se que o Next Einstein Forum tem um programa denominado NEF Fellows destinado a jovens cientistas e engenheiros de tecnologias africanos. 40% dos inovadores seleccionados para este programa são mulheres. Como o nome da organização já indica, esta diz acreditar que o próximo Einstein será africano. E, quem sabe, uma mulher.

A propósito, a Semana Africana de Ciência chega a Cabo Verde através da investigadora cabo-verdiana Sara Baptista, doutoranda na área da Saúde pela Fundação Gulbenkian, que é uma embaixadora da NEF. Através do contacto com a Universidade de Cabo Verde e a Casa da Ciência, e com a parceria de instituições diversas cabo-verdianas e portuguesas, ela organiza o evento que se estende até sexta-feira, dia 26.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 882 de 24 de Outubro de 2018.

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Autoria:Chissana Magalhães,27 out 2018 15:25

Editado porDulcina Mendes  em  29 out 2018 8:08

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