“Infelizmente, os últimos dados não são tão promissores”, referiu Maria Helena Semedo, em declarações à Lusa à margem de uma cerimónia em Lisboa, tendo acrescentado que a “fome continua a aumentar”, a nível global.
A directora-adjunta da FAO referiu ainda que é necessário “um esforço maior” no combate à fome, mas também uma integração a nível político e intelectual para que em 2030 “os objectivos [das Nações Unidas] de desenvolvimento duráveis possam ser atingidos”.
Maria Helena Semedo recebeu ontem, no Auditório Camões, o grau de Doutora ‘Honoris Causa’ pela Universidade Aberta, tornando-se na primeira mulher cabo-verdiana a ser agraciada com esta distinção académica.
As Nações Unidas consideram que alimentar um planeta faminto é cada vez mais difícil, porque as mudanças climáticas e o esgotamento dos solos e outros recursos estão a enfraquecer os sistemas alimentares.
Um relatório da FAO divulgado em 28 Novembro diz que são necessárias melhores políticas para alcançar a “fome zero”, acrescentando que o aumento da população exige o fornecimento de alimentos mais nutritivos a preços acessíveis.
Mas, prossegue o documento, o aumento da produção agrícola é difícil, tendo em conta o “estado frágil da base de recursos naturais”, uma vez que os seres humanos ultrapassaram a capacidade de carga da Terra em termos de solos, água e alterações climáticas.
Cerca de 820 milhões de pessoas estão desnutridas, refere o relatório, divulgado pela FAO e o Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares numa conferência global destinada a acelerar os esforços para alcançar a fome zero em todo o mundo.
A segurança alimentar continua fraca para muitos milhões de pessoas que não têm acesso a dietas acessíveis e adequadamente nutritivas por uma variedade de razões, sendo a mais comum a pobreza.
De acordo com o relatório, a segurança alimentar está igualmente ameaçada por conflitos civis e outro tipo de disputas.
A FAO estima que a procura global por alimentos crescerá 50% entre 2013 e 2050. Os agricultores podem expandir o uso da terra para ajudar a compensar parte da diferença, mas essa opção é restrita em lugares como a Ásia e o Pacífico e a urbanização está a consumir ainda mais terras do que aquelas que poderiam ter sido usadas para agricultura.
Aumentar a produção agrícola além dos níveis sustentáveis pode causar danos permanentes aos ecossistemas, segundo o relatório, que sublinha a erosão do solo, a poluição com cobertura de plástico, os pesticidas e fertilizantes e a perda de biodiversidade.
De acordo com o documento, a China destrói 12 milhões de toneladas de sementes contaminadas por ano, com uma perda de quase 2,6 biliões de dólares.