China, Estónia, Singapura. Estes três países, que têm vindo a garantir um lugar nos Tops do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da OCDE, e por isso, o mesmo, destaca os seus perfis.
Começando pela China. Esta aparece várias vezes nos lugares cimeiros da tabela PISA, uma vez que o programa discrimina regiões autónomas e regiões administrativas especiais. Sendo o país mais populoso do mundo é tem também, sem surpresa, o maior sistema educativo do mundo. Um sistema que não só tem um padrão de qualidade de ensino elevado, como tem vindo a proporcionar acesso a esse ensino de qualidade a todos os cidadãos, de qualquer região. Salienta-se ainda, no perfil, a aposta no pré-escolar, na educação primária de áreas rurais e na chamada educação vocacional.
Na China, a educação é obrigatória até ao 9.º ano, findo o qual os estudantes têm de realizar exames para ter acesso a níveis superiores de ensino. E a enfase da reforma educativa na escolaridade básica, em curso desde 2001, tem sido colocada, entre outras coisas, na resolução criativa de problemas, práticas de aprendizagem activa, mas também na avaliação formativa e nas avaliações abrangentes (incluindo qualidades morais, saúde física e mental ou envolvimento na comunidade).
Mas e quanto aos professores? Como não podia deixar de ser, a ênfase é também colocada neles, nomeadamente no que toca à “formação e desenvolvimento profissional”.
Aceder à carreira de docente (e mantê-la) pressupõe um conjunto de requisitos. Para ser professor, como explicam os documentos do PISA, é necessário não só um diploma como a realização de um Exame de Qualificação do Professor, que inclui um teste escrito e uma entrevista, e que avaliam entre outras coisas, conhecimentos, mas também a ética profissional e as habilidades pedagógicas.
Ser professor não é garantia de trabalho para a vida, na China. Há um conjunto de inspecções e avaliações regulares a que são sujeitos e que determinam a sua permanência no cargo. Além disso, explica o PISA, os professores têm de renovar o seu certificado de qualificações e ter mais de 360 horas de “treinamento” a cada 5 anos. Também o seu salário depende do seu desempenho, sendo composto por: salário base, subsídios e bónus por desempenho (que é determinado por um sistema de avaliação de desempenho).
Estónia
Tamanho e Riqueza (económica) do país parecem ter pouco a ver com a qualidade da educação. Do gigante China, passamos para a Estónia, pequeno país do Leste europeu. Pequeno em área e com uma população de 1,3 milhões de pessoas, a Estónia é também um dos países mais pobres da OCDE. Mas isso não a tem impedido de estar no Top 5 do PISA 2015 (aliás, é o único país europeu a conseguir esse feito.)
Sobre o sistema de ensino deste país da ex-URSS a OCDE destaca a “considerável autonomia” dada aos directores das escolas que têm inclusive a autoridade “para contratar e demitir funcionários, negociar condições de trabalho e contratos de trabalho e tomar decisões sobre finanças escolares, prioridades educacionais e planos de desenvolvimento para a escola”. As escolas também realizam auto-avaliações pelo menos uma vez a cada três anos. A Estónia foi um dos países que foi beber da experiência Finlandesa, país “modelo” que ainda integra o Top 10, mas tem vindo a perder algum terreno. Terá sido do currículo finlandês que importou características como essa autonomia curricular e definição de resultados de aprendizagem proporcionada às escolas.
Então, os professores são recrutados pelo chefe da escola, que apoia o seu desenvolvimento e pode despedi-los. Estamos a falar das escolas públicas. Na sua estratégia 2020 para o ensino enfatiza-se a importância de ter “professores e directores competentes e altamente motivados”.
Na verdade, um dos problemas mais críticos no sistema estónio tem a ver com a classe docente. Isto porque, no país, professor não é uma profissão actrativa. Entre outras coisas, ganham pouco e têm um estatuto social “baixo”, o que tem dificultado a contratação de candidatos de qualidade. Para colmatar esta falha, estão em curso medidas como o aumento de salários, a criação de um modelo de carreira baseado na competência, a criação de centros nas universidades “para apoiar o desenvolvimento profissional e a pesquisa sobre práticas de ensino”, e ainda medidas “para encorajar a cooperação entre professores dentro e entre escolas”.
Singapura
Um outro exemplo de sucesso na educação é Singapura. Aliás, o país é tido como um caso de sucesso a vários níveis pelo percurso trilhado desde a sua independência, em 1965. Vale a pena rever. Começou por ser um país pobre, sem recursos naturais, alta taxa de desemprego, problemas sanitários e de habitação para além da tensão entre diferentes grupos étnicos. É hoje, como aponta a OCDE“ um vibrante hub global de comércio, finanças e transportes. E tem uma das populações com melhores resultados académicos, como o PISA comprova.
Como o conseguiu? Numa primeira fase através da massificação do ensino básico, bilingue (na verdade, trilingue: inglês, língua nacional e língua materna). Na segunda “vaga”, a prioridade foi a qualidade do ensino técnico-profissional. Depois, entre 1997 e 2011, o “surgimento de uma economia baseada no conhecimento” levou o país a desviar o foco, de uma “economia baseada na manufactura altamente qualificada para uma baseada na alta criação de valor em serviços e produtos”. Essa aposta económica no alto valor acrescentado, determinou uma nova filosofia educacional, que flexibilizou e trouxe maior variedade ao sistema: o currículo foi reduzido por forma a “criar espaço para actividades mais baseadas em pesquisas” e estabeleceu-se um “tempo comum para os professores colaborarem no planeamento de lições e actividades de aprendizagem activa para os alunos”, recorda o PISA.
Neste momento, e desde 2012, o país está na fase “centrada no estudante, orientada por valores”. O centro do sistema educativo são os estudantes, mas os pilares são, definitivamente, os professores, incentivados sempre a “estarem em seu melhor nível profissional”. Como se explica, após estágio inicial no Instituto Nacional de Educação (NIE), os professores devem continuar a desenvolver as suas capacidades como profissionais de ensino no “terreno”. E espera-se “que a cultura de dedicação, aprendizagem colaborativa e excelência profissional seja reforçada pelas academias de professores, institutos de idiomas e comunidades de aprendizagem profissional”.
Um artigo da The Economist sobre este sistema de ensino acrescenta informação sobre essa aposta na excelência do professorado. Por ano, os docentes de Singapura recebem 100 horas de formação para se manterem actualizados com as técnicas mais recentes. O salário é bom, e há um bónus substancial dado aos melhores, mediante avaliações rigorosas de desempenho. As turmas são bastante maiores do que a média da OCDE (36 contra 24) pois o Ministério considera que é melhor ter turmas grandes ministradas por professores excelentes do que menores ensinadas por professores medíocres.
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da OCDE, avalia a cada três anos, milhões de alunos de 80 países e economias, nas áreas de Leitura, Matemática e Ciências. Os dados mais recentes são de 2015. Em 2018, foi feita nova ronda do PISA, que será divulgada a 3 de Dezembro de 2019. Cabo Verde não participa no PISA.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 908 de 24 de Abril de 2019.