Os consumidores estão a pagar um preço justo pelos combustíveis

PorAndre Amaral,16 jun 2019 8:27

Moussa Konate
Moussa Konate

A situação actual do mercado nacional de combustíveis, a ascenção de novas fontes de energia e o negócio do bunkering são alguns dos temas desta entrevista com o Director Geral da Vivo Energy, Moussa Konate.

Para o responsável desta empresa a situação geográfica de Cabo Verde pode transformar o papel que o país tem no mercado do bunkering. “Espero um dia ver Cabo Verde a ter o mesmo papel na África Ocidental que as Maurícias têm na zona sul do continente”, defende.

Como está actualmente o mercado cabo-verdiano de combustíveis?

É um mercado muito interessante por diversas razões. É um mercado amadurecido com clientes igualmente amadurecidos e que sabem aquilo que lhes oferecemos. Eles dão valor à qualidade e a experiência que lhes damos. Isso é muito importante e, para nós, que estamos cá há 100 anos. Penso que, especialmente para nós que somos uma empresa muito conhecida, podemos dizer que somos uma empresa que ninguém pode dizer que não conhece. Se falar com qualquer pessoa ela vai-lhe dizer que Shell significa estação de abastecimento. Isso é muito importante. Somos uma marca forte, estamos presentes em todas as ilhas. Independentemente do tamanho de cada ilha temos pelo menos um depósito e uma estação de abastecimento e estamos presentes em todos os aeroportos de Cabo Verde. Temos os nossos navios que transportam produtos entre todas as ilhas, isso também é muito importante. Em termos de segurança estamos na liderança, porque trabalhamos baseados em standards internacionais e isso é algo que não podemos colocar em causa. Por isso, por causa da maturidade do mercado, é mais fácil comunicar com as pessoas e fazê-las entender o conceito e do que falamos. Nós oferecemos um conceito completo, não apenas um produto. Como disse, já cá estamos há cem anos e queremos continuar a ter esse papel de liderança no mercado. É muito importante. Em segundo lugar, se olharmos para Cabo Verde e a sua posição geográfica, vemos que estamos a quatro horas de todo o lado. É um hub. Espero um dia ver Cabo Verde a ter o mesmo papel na África Ocidental que as Maurícias têm na zona sul do continente. E Cabo Verde tem todos os ‘ingredientes’ para tornar isso realidade.

Mas ainda faz sentido, ainda compensa esse negócio? Hoje em dia os navios já são capazes de fazer longas viagens sem parar.

Faz, porque temos vindo a desenvolver este negócio do bunkering ao longo dos últimos cinco anos. Vimos mercados a crescer mais de 100%. O negócio do bunkering é sobre relações e preços. Se juntarmos esses ingredientes aumentamos a nossa competitividade. As pessoas vêm cá. Nós abastecemos grandes navios, porque o que eles não querem é ir aos portos, porque perderão tempo. E nós temos a capacidade para nos encontrarmos com eles no alto mar e abastecê-los para que eles continuem a sua viagem. E com isto Cabo Verde irá sempre beneficiar, porque os produtos saem de cá, são entregues. Hoje sabemos que se pode fazer isso e temos todos os produtos, porque somos suficientemente competitivos para eles decidirem passar por aqui.

Quais são os vossos planos para o futuro do bunkering?

Nesta área, como disse, para termos a certeza que oferecemos o preço correcto para o mercado do bunkering há investimentos que temos de fazer para atrair mais clientes. Porque hoje, se formos para além de um limite, não teremos capacidade suficiente para elevar o nível do mercado de bunkering. Obviamente que estamos a estudar formas de aumentar a nossa capacidade.

Num mercado pequeno como este há duas empresas na área dos combustíveis. É suficiente? Há espaço para mais?

Não quero estar a dizer muito sobre isso. Mas se alguém quiser vir para cá será muito bem-vindo. Caberá a esse operador decidir. O mercado interno é realmente pequeno, mas Cabo Verde está bem localizado. As pessoas não têm de ter os mesmos requisitos em termos de retorno de investimento. Nós estamos cá e continuaremos. O tamanho não é realmente grande. É uma escolha, nós decidimos vir para cá e queremos continuar cá, por isso é que temos um mix de mercado interno e mercado internacional, para termos a certeza que conseguimos atingir um ponto de equilíbrio.

Ainda dentro do tema do mercado. O preço dos combustíveis, em Cabo Verde, é elevado. Como se estabelecem os preços? O regulador fala convosco antes de se decidirem os preços mensalmente?

Não concordo que os preços sejam elevados. São preços normais e pode-se comparar os preços em Cabo Verde com os preços na Europa ou em qualquer país africano. A qualquer altura os preços estão sempre próximos. Nós não somos produtores de combustíveis. Em Cabo Verde não falamos todos os meses com o regulador porque não precisamos. Há um mecanismo acordado. O que é interessante aqui é que os consumidores estão a pagar um preço justo. Não acho que os preços sejam altos. Se formos comparar com qualquer outro país do mundo veremos que é um preço correcto.

E como é a relação com o regulador do mercado?

Temos uma boa relação. Não precisamos estar sempre a falar com eles, porque a governação em Cabo Verde é muito boa. Temos instituições fortes, a lei é cumprida, os mecanismos são acordados, existe uma lei para isso. Há uma relação cordial. De tempos a tempos há conversas sobre o sector, para se ver como a indústria está e o que se pode fazer para melhorar um ou outro ponto. Além disso não temos qualquer problema com o regulador.


E como são as relações com a concorrência?

Somos competidores. É uma relação de competição. Estamos a colocar muita energia no mercado, porque achamos que os nossos clientes o merecem. Em termos de indústria, temos algumas conversas para ver como podemos trazer as melhores práticas em termos de negócio.

Num nível global... Como se está a comportar o mercado petrolífero e de combustíveis?

Ninguém pode dizer nada. Há muita incerteza no mercado global. Há tensões no Irão, há tensões comerciais com a China. Discute-se muito, mas apesar de tudo os preços têm oscilado normalmente. Ninguém pode fazer projecções, não se sabe como o mercado irá evoluir nos próximos tempos. Para lhe dar um exemplo: no início do mês o preço do barril de crude era de 75 dólares, ontem fechou a 68. Não sabemos como o mercado evolui. Entre um dia e outro os preços sobem e descem. A realidade é que, hoje em dia, os Estados Unidos da América consomem toda a sua produção, por isso, a tensão no Irão não irá afectar o consumo nos EUA. Não sabemos dizer como vai ser a evolução do mercado.

Mas, numa análise pessoal, acha que poderemos assistir a uma escalada dos preços do petróleo?

Acho que não. É uma análise pessoal baseada na minha experiência. Os preços vão estabilizar, acho que os preços não vão subir muito, porque há muitas alternativas a surgir.

Vai ser difícil voltar a chegar aos 100 dólares por barril?

Não acho que seja possível chegar lá. Será difícil ir além dos 75 dólares por barril.

Como vê o surgimento de novas fontes de energia? Num país como Cabo Verde, que sempre dependeu do petróleo para produção de electricidade, o que acha que vai acontecer num futuro próximo?

Acho que o futuro próximo – é verdade que em Cabo Verde há muitas oportunidades, porque há sol e vento – e como as coisas estão actualmente, nos próximos vinte anos o petróleo continuará a reinar. A mudança será lenta, porque hoje ainda temos assuntos pendentes. Por exemplo, os carros eléctricos, como vamos lidar com as baterias? No negócio dos combustíveis acho que a Shell está a liderar essa transição. A Shell está a desenvolver soluções alternativas e estamos também a desenvolver soluções que são extremamente amigas do ambiente. Por exemplo, muitas pessoas não sabem disto, mas um dos nossos lubrificantes – Shell Helix, é o único feito a 100% a partir de gás natural e o nível de emissões é quase zero. Este tipo de soluções vai continuar a ser desenvolvido combinado com carros eléctricos. Se for ver às nossas estações de serviço, vai ver que somos a primeira empresa a colocar painéis solares no topo das nossas instalações. Em alguns países já temos estações de carregamento nas nossas estações de serviço. Em Marrocos, por exemplo, na Europa, já se podem ver pontos de carregamento.

Isso também vai ser uma realidade em Cabo Verde?

Será. Estamos a caminhar para isso. Quantos carros eléctricos há em Cabo Verde? Estamos cientes do calendário do Governo quanto a esse assunto. E estamos a fazer o nosso papel para o acompanhar nessa viagem. Faremos as coisas no seu tempo certo.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 915 de 12 de Junho de 2019. 

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Autoria:Andre Amaral,16 jun 2019 8:27

Editado porFretson Rocha  em  17 jun 2019 7:41

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