A vida na menopausa

PorSheilla Ribeiro,8 mar 2020 7:11

Calores, aumento de peso, desaparecimento da menstruação, perda de líbido e ressecamento vaginal são alguns dos sintomas que indicam a chegada da menopausa. Isso acontece geralmente nas mulheres com idades compreendidas entre os 45 e os 50 anos. Mas há casos em que este estado chega precocemente ou tardiamente. A verdade é que há mulheres que vivem esta fase de forma severa.

Sílvia Lopes, 54 anos, trabalha numa padaria e está prestes a completar 12 meses sem menstruar, mas nem por isso considera que esteja na menopausa. Entretanto, conta que desde que completou os 50 anos, e por sempre pensar na fase que um dia havia de viver, mudou seu estilo de vida.

“Comecei a praticar desporto com a minha filha, principalmente zumba, além de cuidar da minha alimentação. Talvez seja por isso que, nesses 11 meses, nunca senti nenhum dos sintomas que geralmente são associados à menopausa”, conta.

Calor, irritabilidade ou insónia, além dos outros sintomas não incomodam Sílvia Lopes, que relata que a sua vida seguiu normalmente. A mesma conta que nunca encarou a menopausa como uma doença, nem sentiu medo.

“Tenho amigas, um pouco mais novas, que têm medo desta fase, muito por aquilo que ouvimos, mas eu sempre encarei a menopausa como uma outra fase que eu teria de viver. Mas cada pessoa é uma pessoa e eu, graças a Deus, não sinto nada”, manifesta.

Experiências diferentes

“Em Setembro faço 61 anos de idade, mas vivo a menopausa desde os 45 anos”, é desta forma que Helena Furtado (nome fictí­cio) começou a falar do assunto, quando abordada pelo Expresso das Ilhas. Uma das “consequências” de viver a menopausa a partir dos 45 anos foi a falta de líbido que, segundo Helena, afectou o seu casamento.

“Por causa disso eu e o meu marido vivemos desde essa época separados na mesma casa. Já sofri muito por isso, mas hoje já não me incomoda, acostumei-me (risos)”.

Apesar da falta de líbido, Helena revela que não sente os outros sintomas como calor, irritação ou insónia e, por isso, diz-se não se incomodar com a menopausa. Para Helena trata-se apenas de uma fase como todas as outras que viveu.

Para não se abater com os problemas causados no casamento, Helena diz que começou a preencher o seu tempo com actividades que antes não realizava.

“Até aos 45 anos eu era doméstica, vivia para cuidar da casa, do marido e dos filhos e netos. Depois, arranjei um emprego e desde então, quando não estou a trabalhar, estou com os amigos”, conta.

Ao contrário de Sílvia e Helena, Rosa (nome fictício), de 57 anos, afirma que vive irritada.

“A partir dos 50 anos comecei a sentir bastante irritação por tudo e por nada. Coisas que são possíveis de resolver stressam-me de tal forma que eu acabo por perder o sono”, revela.

Elementos como falta de sono e pressão alta também passaram a fazer parte da rotina da Rosa. Por causa da falta de sono, pressão alta e irritação, Rosa diz que acaba por ouvir dos filhos, marido e amigos que é uma “pessoa chata”.

“Antes até que me incomodava ouvi-los chamar-me chata, mas agora nem ligo… e pensar que antes de viver a menopausa eu sequer pensava no assunto”, conta.

Sem ser os desconfortos, Rosa confessa que achou maravilhoso parar de menstruar. Isso porque, continua, passou a ter um mês inteiro para fazer de tudo.

“Eu sofria muito quando menstruava, sofria muito, mas muito mesmo com as cólicas”, fala Rosa.

Hoje, Rosa aceita as mudanças provocadas pela menopausa e diz procurar encontrar uma forma de lidar com as mudanças de humor e do corpo. “Antes eu gostava muito de sair, mas desde que entrei na menopausa já não gosto tanto assim de sair”, afirma.

Mas afinal o que é menopausa?

A ginecologista-obstetra Margarida Lopes explica que a menopausa é quando a mulher não menstrua num período mínimo de 12 meses.

“É quando a gente diz que a mulher saiu daquela fase da fertilidade, que a mulher já não tem a capacidade de procriar. Chama-se menopausa quando a mulher chega ao período em que não menstrua mais, não ovula”, explana.

Geralmente acima dos 45 anos, conforme explica a ginecologista, a mulher começa a sentir os sintomas da menopausa, como as falhas menstruais. Nessa idade, a mulher pode menstruar em alguns meses e em outros não. Por isso, prossegue Margarida Lopes, é considerado menopausa apenas se a mulher tiver 12 meses sem menstruar.

Entretanto, pode ocorrer a mulher sentir os sintomas antes dos 45 anos. Quando os sintomas aparecem antes dos 40 anos de idade é chamado de “Menopausa precoce”. Trata-se de menopausa precoce, de acordo com Margarida Lopes, com grandes chances de acontecer quando há, na família da mulher, um historial de menopausa precoces.

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O que ocorre na menopausa?

A partir do momento em que a mulher começa a sentir bastante calor, irritação, inquietação ou insónia, entra na fase do climatério. Margarida Lopes esclarece que o climatério é a fase em que os hormónios começam a diminuir no organismo, provocando os sintomas acima citados.

Margarida Lopes informa que a mulher passa por pré-menopausa, peri-menopausa e pós-menopausa. Na pré-menopausa as taxas de estrogénio e progesterona começam a sofrer alterações, ainda que nem sempre perceptíveis, sendo a característica mais marcante a queda de fertilidade.

Na peri-menopausa, a genecologista explica que ocorrem ondas de calor (chamadas fogachos), suor excessivo, irregularidades no ciclo menstrual, mudanças de humor (irritabilidade, ansiedade e depressão).

Após 12 meses sem nenhum sangramento a mulher entra na pós-menopausa. Na pós-menopausa, a ginecologista avança que a mulher já não engravida, contudo, poderá desenvolver algumas doenças.

“Podem surgir, principalmente, polpo iodometria, que são espessamentos, a proliferativo do endométrico começa a ter um sangramento anormal, uma vez que já teve 12 meses sem menstruar, há casos de mioma, ressecamento vaginal, câncer de mama ou ainda câncer de colo de útero”, diz.

Por isso, alerta que é importante, nessa fase, a mulher fazer o rastreio ginecológico anual, realizando exames de mama, ecografia pélvica (verificação do ovário) e citologia (para fazer o rastreio de colo de útero).

Para aliviar os sintomas, Margarida Lopes recomenda “beber bastante água, comer frutas vermelhas ou ainda arranjar um hobby”.

“A mulher deve ocupar-se com algo que a alegra, faz vontade de viver. Porque se ela fica irritada, não tem ajuda familiar, não tem ajuda social nem no trabalho, acaba por ser uma mulher que se afunda na própria crise, podendo desenvolver a depressão”, comenta.

Por essa razão, a ginecologista fala da importância de uma vida social durante a fase climatérica, uma vez que “quando a mulher está numa fase de insónia ou depressão, se tiver algo para fazer acaba afastando-se dos sintomas da menopausa”.

Causas e tratamento

A menopausa ocorre, principalmente, por causa da diminuição da função hormonal que faz com que o ovário deixe de produzir óvulos para a ovulação. Mas, segundo Margarida Lopes, a menopausa pode ser causada por outros factores como a quimioterapia.

“A quimioterapia causa a disfunção ovariana e a pessoa acaba por entrar precocemente na menopausa. Uma outra causa é a histerectomia que consiste na retirada do útero e do ovário em mulheres mesmo jovens”, aponta.

No caso de mulheres jovens que passaram pela histerectomia ou mulheres que entraram em menopausa espontaneamente, mesmo com útero e ovário e que, entretanto, os sintomas do climatérico atrapalham a sua vida social, podem fazer uma hormonoterapia.

Mas, para fazer hormonoterapia, Margarida Lopes diz que antes é preciso verificar se é ou não indicado à paciente.

“Por exemplo, mulheres que têm um familiar que teve câncer de mama é contraindicado a hormonoterapia. Pode até fazer, mas há que saber os riscos e os benefícios e aqui em Cabo Verde não há o teste genórico para ver se a pessoa pode fazer ou não, ou se pode desenvolver o câncer ou não, a gente simplesmente vê o risco-benefício”.

Mulheres com idade inferior a 35 anos e que porventura perderam o útero ou o ovário, podem fazer a hormonoterapia. Se tiver uma idade superior a 45 anos e perder o útero ou o ovário por motivo de doença, é preciso verificar antes se pode ou não fazer esse tipo de tratamento.

A hormonoterapia, que é feita través da reposição hormonal, pode, contudo, apresentar riscos, como a probabilidade de desenvolver câncer de mama.   

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 953 de 4 de Março de 2020. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,8 mar 2020 7:11

Editado porSara Almeida  em  9 mar 2020 9:36

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