A informação é da secretária executiva da Comissão de Coordenação do Álcool e Outras Drogas (CCAD), Fernanda Marques, em entrevista à Inforpress no âmbito Dia Mundial contra as Drogas, que se assinala hoje, 26 de Junho, sob o lema “Melhor Conhecimento para Melhores Cuidados”.
“De acordo com os dados de 2019, as estruturas estatais especializadas no tratamento das dependências em Cabo Verde admitiram 468 pessoas, sendo 86% do sexo masculino e 14% do sexo feminino. Do total dos utentes, em 68% dos casos, a substância de iniciação foi o álcool, seguindo-se a cannabis em 23% e a cocaína em 4% dos casos”, disse.
Segundo aquela responsável, dados indicam que a dependência da substância que esteve na origem da procura de tratamento, 53% foi devido ao álcool, 21% à cocaína e 10% à cannábis.
“Nos últimos anos, tem-se registado um aumento de utentes que procuram as estruturas especializadas de tratamento das dependências e, isso deve-se, por um lado, ao aumento do acesso aos serviços de saúde e estruturas especializadas e, por outro, pelo facto das pessoas doentes e seus familiares estarem mais sensibilizados à procura de ajuda, sabendo que se trata de uma doença”, assegurou.
Para a secretária executiva da CCAD, o álcool acaba por ser mais evidente, uma vez que é a droga mais consumida em Cabo Verde pelo facto de ser lícita e, logo, de fácil acesso para o consumo, mas também devido a atitude que a sociedade tem perante essa substância.
Por essa razão, realçou, o álcool é a droga de iniciação da grande maioria dos dependentes de drogas ilícitas.
Questionada sobre se quem começa a consumir com mais frequência é o usuário do álcool ou o do ‘crack’, Fernanda Marques avançou que o abuso e a dependência do álcool, ‘crack’ ou outra droga, não dependem apenas da droga, mas sim é o resultado de uma relação complexa entre a substância, o indivíduo e o meio, em que o indivíduo tem um papel preponderante.
“Tanto o álcool como o ‘crack’ são substâncias que causam dependência, sendo que o ‘crack’ é, cientificamente, considerado uma droga que tem um maior potencial de provocar dependência, com efeitos devastadores imediatos a nível cerebral, e que normalmente mina os valores morais e éticos do consumidor”, acrescentou.
Conforme disse, Cabo Verde, na linha da recomendação do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (ONUDC), tem optado por estratégias abrangentes de redução da procura de todas as drogas e não apenas das lícitas ou das ilícitas.
Quanto a forma de se prevenir o uso de drogas, Fernanda Marques defendeu tratar-se de um processo que deve ter início, desde muito cedo, e incidir ao longo do desenvolvimento pessoal e social do indivíduo.
Por ser uma questão complexa, a secretaria executiva da CCAD admitiu que deve envolver diferentes actores e contextos, ou seja, família, comunidade e escolas.
“Normalmente, há a tendência para focar-se mais na adolescência ao se fazer a prevenção, por ser a fase em que normalmente ocorre a experimentação, mas os pais devem, desde muito cedo, procurar ter uma atitude pedagógica e preventiva trabalhando determinadas habilidades e valores dos filhos, visando o seu desenvolvimento saudável”, acrescentou.
Por isso, acredita que a escola deve ter um papel de “relevo” quando se fala de prevenção do uso de álcool e outras drogas.
A escola, realçou, tem a responsabilidade de implementar programas, adequados às fases do desenvolvimento da criança ou adolescente, que promovam e fortaleçam competências pessoais, como a capacidade de tomar decisões, e competências sociais, como a resistência à pressão do grupo de pares.
“É, igualmente, fundamental que a escola promova conhecimentos sobre as diferentes drogas, os riscos associados às mesmas e desmistifique as falsas ideias que muitas vezes os adolescentes e jovens têm acerca das drogas”, concluiu.
O Relatório Mundial sobre Drogas 2020 divulgado quinta-feira, pelo UNODC mostra que cerca de 269 milhões de pessoas usaram drogas no mundo em 2018 – esse número revela um aumento de 30% em comparação com 2009. Além disso, mais de 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos associados ao uso de drogas.
O documento oferece uma visão global sobre a oferta e a demanda de opioides, cocaína, cannabis, estimulantes do tipo anfetamina e novas substâncias psicoativas (NPS), bem como sobre seu impacto na saúde, levando em conta os possíveis efeitos da pandemia da COVID-19.