“Nós condenamos veementemente o golpe de Estado no Mali e pedimos a reposição da ordem constitucional [neste país]”, indicou Luís Filipe Tavares, que, em representação do Presidente Jorge Carlos Fonseca, ausente da Praia, participou na cimeira extraordinária de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que se realizou, esta quinta-feira, por videoconferência.
O chefe da diplomacia cabo-verdiana, que falava à imprensa no final da cimeira, anunciou que uma delegação chefiada pelo mediador e antigo Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, acompanhado de alguns ministros, segue para o Mali, a fim de contactar com os militares golpistas, com vista a encontrar uma solução.
Os Chefe de Estado e de Governo da CEDEAO, revelou o governante, depois da missão da delegação de Jonathan, voltam a reunir-se extraordinariamente na próxima semana para apreciarem o relatório que vai ser apresentado.
“A posição da CEDEAO é uma posição de firmeza em relação à condenação total do golpe de Estado e da alteração da legalidade constitucional [no Mali]” reiterou o ministro.
Instado se o facto de os golpistas se terem manifestado interesse a sentarem à mesa das negociações vai facilitar as conversações, Luís Filipe Tavares ressaltou que o princípio de golpe de Estado “é sempre muito mau”, acrescentando que “não se resolvem os problemas políticos pela via da força e das armas”.
“A CEDEAO tudo fará para que haja reposição da normalidade constitucional e instalação do Presidente IBK [Ibrahim Boubacar Keita] no poder, porque ele foi eleito democraticamente”, precisou.
Relativamente a um possível embargo ao Mali, Luís Filipe Tavares explicou que, a acontecer, haverá excepções, nomeadamente no concernente a combustíveis, bens de primeira necessidade, isto para “proteger as populações”.
Segundo ele, a CEDEAO tem tido um “papel muito importante na estabilidade política e social na sub-região, fazendo um “trabalho notável”.
“Hoje, assistimos a uma cimeira onde houve bom senso “e responsabilidade por parte dos Chefes de Estado e de Governo”, relevou, apelando à CEDEAO que continue firme nos seus propósitos porque, sublinhou, “nunca se pode aceitar que o golpe de Estado seja a via adequada para se resolverem problemas políticos”.
Os dirigentes da CEDEAO exigiram, ainda, a libertação imediata do Presidente, do primeiro-ministro e de todos os ministros depostos, que continuam detidos.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, condenou o golpe de Estado, apelando à CEDEAO, à Organização das Nações Unidas e “toda a comunidade internacional” para que “conjuguem eficazmente os seus esforços para evitar o uso de força” no Mali.
Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alertou que um golpe de Estado “nunca é a solução” para as divergências num país.
“A União Europeia acompanha de perto o que se passa no Mali. Um golpe de Estado nunca é a solução para uma crise, por mais profunda que seja”, escreveu Michel no Twitter.
Os Estados Unidos da América (EUA), através do seu enviado ao Sahel, Peter Pham, opuseram-se a qualquer mudança no Governo que não cumpra a Constituição maliana.
“Estamos a seguir com preocupação o desenvolvimento da situação no Mali. Os EUA opõem-se a qualquer mudança de Governo extra-constitucional, quer seja pelos que estão nas ruas, quer pelas forças de defesa e segurança”, escreveu Pham na plataforma Twitter.
Um dos catalisadores da actual crise política no Mali foi a invalidação, no final de Abril, de 30 resultados das eleições legislativas pelo Tribunal Constitucional, incluindo cerca de uma dezena em favor da maioria parlamentar.
A decisão, aliada a factores como o clima de instabilidade e insegurança sentido nos últimos anos no centro e norte do país, a estagnação económica e a prolongada corrupção, instigaram várias manifestações contra IBK.
O Mali é um país africano sem saída para o mar na África Ocidental. É o sétimo maior país da África. Limita-se com sete estados, a norte pela Argélia, a leste pelo Níger, a oeste pela Mauritânia e Senegal e ao sul pela Costa do Marfim, Guiné e Burkina Faso.