Comércio em 2021 : Comerciantes esperam por melhores dias

PorSheilla Ribeiro,9 jan 2021 9:52

Para os lojistas e comerciantes, o ano 2020 ficou marcado pela falta de clientes e das restrições impostas pela pandemia, mas mostram-se esperançosos de que em 2021 haja um aumento do volume de negócios. Embora os comerciantes estejam optimistas, a Câmara de Comércio de Sotavento (CCS) não prevê nenhuma retoma positiva até o mês de Julho.

Muitos dos espaços comerciais fecharam as portas durante o primeiro estado de emergência declarado pelo Presidente da República em 2020, o que se reflectiu nos negócios. Por isso, mais emprego para gerar mais clientes é o que os comerciantes ouvidos pelo Expresso das Ilhas almejam no novo ano que inicia.

Ariana Silva, dona de uma butique nos Espargos, Sal, diz que para 2021 o mais “importante” é a vacina para o novo coronavírus, para que todos possam retomar ao normal, pois “só assim”, se torna possível recuperar os negócios.

“Eu alugo o espaço onde tenho a butique, mas o meu senhorio, que é uma boa pessoa, baixou o preço da renda porque sabe que as vendas diminuíram. Por isso, ainda mantenho o espaço e estou a fazer todos os esforços para o manter. Mas, se as coisas não melhorarem em menos de seis meses vou ter de fechar as portas”, declara.

A comerciante abriu a butique há cerca de dois anos, mas, está neste ramo há 9 anos. No início, conta, colocava os produtos num saco e vendia porta-a-porta. Actividade que deixou de fazer quando abriu um espaço próprio.

“Depois que veio a pandemia, o movimento diminuiu e tive de voltar ao início. Coloco as coisas num saco e vou vender porta-a-porta. Aliás, penso que tem sido melhor. Mas, quando é assim tenho de vender a um preço muito inferior. Mesmo na loja tive de baixar o preço dos produtos, não só eu, mas também outros colegas fizeram o mesmo”, relata.

Para Ariana Silva, de Janeiro a Março as vendas foram boas. Entretanto, de Março em frente, as coisas “desandaram”.

“Em Fevereiro fui ao Brasil fazer compras, algo que sempre faço. Ao regressar estive durante uma quinzena em quarentena e por isso a butique esteve sempre fechada. Desta vez nem sequer foi possível tirar o lucro da viagem”, narra.

Num balanço, Ariana Silva diz que o dinheiro ganho durante o ano de 2020 não se compara ao que ganhava num mês. O valor, revela, “é bastante inferior”.

Por causa da crise, teve de demitir a única funcionária que tinha, uma vez que não possui, actualmente, meios para pagar salário.

Ariana Silva conta que tinha esperança que durante o mês de Dezembro o volume de vendas aumentasse, porém, assim como o resto do ano, foi um mês atípico.

“Durante o ano inteiro não teve vendas então eu, pessoalmente, já sabia que nem em Dezembro teríamos sucesso. Até porque não viajei para nenhum lugar, não abasteci a loja. Foi uma tristeza que em pleno dia 24 ou 23, vésperas do Natal, quando normalmente a venda aumenta, ver as ruas vazias”, lamenta.

Um ano “péssimo”

Eduíno Rodrigues possui na cidade da Praia uma loja retalhista desde 1992. Contudo, devido à fraca venda durante 2020, o comerciante prepara-se para suspender a licença por não ter como pagar o Fisco.

“Além do Fisco, tenho de pagar a electricidade, o meu funcionário e a venda que tenho feito não é suficiente para sustentar a loja. Eu vou pagar a licença do ano 2020 e suspendê-la, o ano que passou foi um ano grave, gravíssimo”, frisa.

Ao Expresso das Ilhas Eduíno Rodrigues diz que depois do primeiro estado de emergência passou a ganhar no máximo seis mil escudos por dia. Há dias em que ganha apenas três mil escudos. Um valor que, de acordo com este comerciante, é “insuficiente”.

“Há uns dias fiz as contas e tenho de gastar pelo menos, por dia, 5 mil escudos em despesas gerais como combustível de carro, luz e água. Esses cinco mil escudos devem ser sustentados pela venda que teria de ser de pelo menos 50 mil escudos por dia. Agora, uma pessoa que numa semana não vende 50 contos não dá para manter o negócio”, afirma.

O que tem “mantido de pé” os negócios, segundo o comerciante, são as verduras que cultiva em Ribeirão Chiqueiro, ovos de terra e leite fresco de cabra. Conforme garante, para estes produtos não há concorrência na Praia.

Além desses, a venda de bebidas a retalho, como por exemplo, cálice de grogue, têm ajudado a ganhar algum troco.

“Nem o mês de Dezembro 2020 se salvou. Durante os dias 24 e 25 vendi 25 mil escudos. No final do ano vendi 11 mil escudos e no dia do Ano Novo vendi 10 mil escudos. Eu enchi a arca de cervejas e não saiu uma sequer. Tive de tirar tudo outra vez”, lamenta.

Em 28 anos, Eduíno Rodrigues diz que é a primeira vez que passa por uma situação semelhante. Por esta razão, decidiu suspender a licença até regularizar as despesas.

“Até lá, vou dedicar-me ao cultivo de verduras no meu terreno, vou usar o carro para alguma coisa, como vender água, isso ainda vou pensar. Vou pensar em algo que dê de comer. A esperança de todos é que 2021 seja melhor que 2020, mas não sei se vai melhorar. Porque para melhorar é preciso que se criem condições de trabalho. Se não houver trabalho não haverá nada e só nos resta aguentar. Kel ki dá, dá”, enfatiza.

Ailton Fernandes é proprietário de uma carrinha comercial que fica estacionada na Fazenda, Praia, ao lado de Sucupira. Há oito anos o comerciante vende produtos de higiene e beleza oriundos dos EUA.

No que tange ao ano de 2020, considera que não foi “mau de todo”, mas que poderia ter sido melhor não fosse a pandemia. Conforme revela, o dinheiro ganho durante o ano que passou deu para pagar as dívidas e os empregados.

“Eu não parei nem durante o estado de emergência porque esta é a única forma de sobrevivência que tenho. Eu vinha, parava o carro, os clientes tinham o contacto e ligavam e eu fazia entrega ao domicílio. Se não houvesse pedido, aí eu ficava parado”, descreve.

Mesmo sem parar de vender, Ailton Fernandes relata que teve de demitir uma das duas empregadas que tinha e que teve de começar do zero a partir de Junho.

“Cheguei ao ponto de mexer na poupança porque tinha de comer. Para reabastecer o estoque foi complicado. O carro ficou vazio e eu não tinha como reabastecer e era preciso pelo menos 200 contos. A minha mãe fez-me um empréstimo e comecei de novo”, narra.

A esperança de Ailton Fernandes era que em Dezembro, com as festas do Natal e do final do ano ganhasse mais do que nos restantes meses do ano. Mas, foi um mês “como outro qualquer de 2020”.

“Antes da pandemia, ganhava por vezes 40 ou 50 contos num dia bom. Noutros dias ganhava entre 10 e 30 contos. Agora, com a da pandemia ganho muito menos. O que facturo não dá para pagar a compra que levanto. Por exemplo, se eu levanto hoje uma compra de 50 mil escudos para pagar no fim do dia tenho de acrescentar, do meu bolso 15, por vezes 20 mil escudos”, conta.

Para 2021, o comerciante espera que o negócio melhore e que possa ganhar igual ou pelo menos perto do que ganhava anteriormente.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 997 de 6 de Janeiro de 2021. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,9 jan 2021 9:52

Editado porJorge Montezinho  em  10 jan 2021 10:53

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