Quarta-feira de Cinzas sem o tradicional almoço familiar

PorSheilla Ribeiro,17 fev 2021 9:18

Sem o bater do pilão, menos couve, assim como peixe seco e mel. Desta forma será a Cinza de 2021, devido às restrições impostas pela pandemia da COVID-19. Nesta reportagem o Expresso das Ilhas falou com quem costuma receber os familiares em casa para assinalar a data e com quem se desloca habitualmente para interior da ilha de Santiago, onde as comemorações são mais fortes, de modo a saber como vai ser a Quarta-feira de Cinzas deste ano.

Tradicionalmente, a semana que antecede as Cinzas é bastante agitada, pois é quando as donas de casa vão para o mercado à procura do peixe seco, couve, batata-doce, mandioca, banana verde e coco, dentre outros.

Depois do Carnaval, o dia que o sucede começa logo de manhã com o som do pilão, onde é extraída farinha para o cuscuz e xerém. Duas especiarias que não podem faltar à mesa.

Na Ilha de Santiago, a tradição das Cinzas é vivida de forma intensa. Quem é do interior prepara a casa e a mesa para receber os familiares que vivem na Praia. Já aqueles que vivem na cidade da Praia enchem o carro com compras para auxiliar no preparo do almoço.

Este ano porém, devido à COVID-19, o governo decidiu não conceder tolerância de ponto nem no Carnaval, nem na Quarta-feira de Cinzas. Por esta razão, famílias relatam que gastaram menos em compras, e tristeza por não assinalar a data com a casa cheia.

Helena Ferreira, que vive em Milho Branco, no concelho de São Domingos, revela ao Expresso das Ilhas que ao contrário dos outros anos, este ano não vai receber familiares em casa e que por esta razão fez menos compras.

“Hoje, ninguém virá, contrariamente ao habitual. Estão todos a trabalhar, na Praia, mas ainda assim compramos o peixe seco, couve, batata, só que numa quantidade muito menor já que vai ser apenas nós cá de casa, relata.

Com apenas cinco pessoas para o almoço, esta dona de casa optou por não fazer o tradicional xerém. Apenas o mel foi produzido na mesma quantidade dos anos anteriores, de modo a ser enviado para os familiares na Praia.

“Resolvi fazer o mel e enviar para a casa de cada familiar porque eu sei que se não der para fazer o almoço de Cinzas, vão comer um cuscuz com mel no final da tarde. Infelizmente, este ano as coisas não estão boas, eu particularmente, estou triste, desanimada. Nos meus 60 anos de idade nunca passei umas Cinzas com pouca gente”, lamenta.

Em Achada Falcão, Fátima Sanches conta que ainda que quisesse não poderia receber os familiares em casa este ano, uma vez que, assim como eles, tem de trabalhar.

“Nem parece Cinzas, não comprei o mel, não há farinha para o cuscuz, nem para o xerém e muito menos peixe seco e couve. Não tenho como preparar esse almoço tão especial uma vez que tenho de ir trabalhar”, lastima.

Assim como Helena, Fátima diz sentir-se triste com a falta dos familiares em casa, contudo entende que é por um “bem maior”.

E os que vão?

Todos os anos, logo de manhãzinha, a família de Landa Ortet enche a bagageira do carro com bebidas e ingredientes para o almoço de Cinzas e partem para o interior. Ao chegar à casa da sogra, revela ao Expresso das Ilhas, preparam o milho no pilão, ao mesmo tempo em que os cocos são abertos para extrair o leite que depois será usado no xerém.

Para além da família de Landa, a sogra recebe ainda a família dos outros filhos, irmãos e sobrinhos. Conforme narra, a casa está sempre cheia e com música alta.

“Este ano é tudo na Praia: eu, o meu marido e os nossos filhos. Então combinamos que quem não for trabalhar irá fazer a comida de Cinzas só para não passar em branco. Então vou cozinhar pouco, nem sequer comprei muita coisa”, menciona.

Segundo esta entrevistada, os gastos foram menores não só por ter comprado menos produtos, mas também porque os preços que geralmente são “altos” nesta época, "mataram".

Por seu turno, outra entrevistada, Cisa Furtado frisa que este dia é marcado pela tristeza de não poder ir ao interior ter com a mãe e os irmãos. A solução foi comprar, cozinhar e comer na Praia.

“Vai ser normal, mas não será a mesma coisa, não vai ter o mesmo gosto. Mas, também entendo podemos estar infectados sem saber, então é preferível ficar aqui e não correr o risco de contaminar ou ser contaminado”, afirma.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,17 fev 2021 9:18

Editado porSheilla Ribeiro  em  17 fev 2021 18:20

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