CENORF com segunda fase do projecto “Acção Solidária” em modalidade gratuita

PorSheilla Ribeiro,23 mai 2021 7:29

O Centro Nacional Ortopédico e de Reabilitação Funcional (CENORF) abre, no próximo dia 26, a segunda fase do projecto “Acção Solidária”. O projecto visa contemplar pessoas de todas as faixas etárias sem a cobertura do Instituto Nacional de Providência Social (INPS) e, por isso, é 100% gratuito.

No início de 2020, o CENORF lançou a campanha “Acção Solidária” que beneficiou 24 pessoas com próteses e outros aparelhos ortopédicos. Dentre as pessoas beneficiadas estão duas crianças da ilha do Fogo e uma jovem de São Vicente.

“Deparamos com vários pacientes que vinham para o Centro, mas que por dificuldades financeiras não conseguiam pagar os seus tratamentos. Então, acabamos por criar esse projecto que foi apresentado à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que financiou a primeira fase”, conta ao Expresso das Ilhas o administrador do Centro, Alberto Afonso.

A primeira fase do projecto abrangeu especialmente pessoas da ilha de Santiago. Este ano, o projecto está orçado em 1.700 contos e é mais voltado para as outras ilhas do arquipélago.

“Nas outras ilhas as pessoas não foram beneficiadas porque têm dificuldades em se deslocarem à ilha de Santiago. As pessoas não pagam nada, salvo se tiverem alguma condição de pagar, por exemplo se quiserem apoiar para que nós possamos apoiar um maior número de pessoas”, garante.

Conforme Alberto Afonso, o projecto é essencialmente para aqueles que não têm a cobertura do Instituto Nacional de Providência Social (INPS) e que não têm condições financeiras para adquirir os aparelhos.

Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária pode ser contemplada, independentemente do aparelho que necessita. Mas, adverte Alberto Afonso, tem de apresentar provas de que realmente não tem condições de adquirir os aparelhos.

Beneficiados

Alberto Afonso diz que na ilha de Santiago as inscrições estão praticamente fechadas por encaminhamento das instituições, igrejas e outros parceiros.

“Estamos agora em contacto com as outras ilhas, o que é um pouco mais difícil por causa da pandemia. A nossa ideia era que o próprio Centro se deslocasse às ilhas para fazer avaliações locais através de um outro projecto nosso, o CENORFMÓVEL. Mas, infelizmente, a pandemia não nos permite viajar”, refere.

Por impossibilidade de viajar, o CENORF entrou em contacto com as Delegacias de Saúde e Hospitais Regionais de modo a fazerem o encaminhamento das pessoas.

“Por exemplo, na sexta-feira estivemos em contacto com o delegado de Saúde de São Nicolau que nos vai encaminhar pacientes para fazerem o tratamento. Porque é preciso, além de identificar, fazer o encaminhamento”, profere, acrescentando que o principal objectivo este ano é duplicar ou triplicar o número de beneficiados.

Segundo o administrador do CENORF, o contacto e o valor de cada aparelho é o que impede que o Centro tenha um grande número de beneficiados.

A título de exemplo, o preço de uma prótese pode variar entre 89 e 248 mil escudos, sendo a mais cara destinada às pessoas diabéticas.

“Essa prótese leva silicone e o silicone tem um custo elevado. Um silicone custa 79 mil escudos para dar mais conforto ao paciente. Aí, se aparecer um número razoável de pessoas amputadas o número de beneficiados diminui. Mas, por outro lado, proporciona a qualidade de vida que é o que queremos das pessoas”, reconhece.

Com excepção do gesso e cola platex toda a matéria-prima para o fabrico dos aparelhos é importada.

“O objectivo do projecto é essencialmente a aquisição de matéria-prima para a produção de aparelhos que serão doados. O projecto não paga nada na alfândega para retirar os materiais”, menciona.

Motivos

Alberto Afonso narra que ao longo da existência do CENORF vários pacientes deixam de ir ao Centro depois de serem informados sobre o preço de alguns aparelhos, por falta de recursos.

“Por vezes até mesmo pessoas com INPS deixam de vir. Quando é preciso uma prótese de 175 mil escudos, o INPS paga apenas 50 mil escudos. O restante a pessoa pode não ter condições de pagar”, exemplifica.

Uma vez que o Centro não tem condições de oferecer gratuitamente todos os aparelhos, lançou o projecto “Acção Solidária”. Actualmente, além da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o CENORF está à procura de outros parceiros para reforçar o projecto.

A finalidade em reforçar o projecto, prossegue, visa sobretudo abranger mais crianças que necessitam de um tratamento o quanto antes, como forma de evitar deficiências com o passar do tempo.

“O nosso objectivo não é apenas dar uma prótese, é lutar na prevenção e evitar deficiências que possam surgir mais tarde”, afirma.

Desde que a pessoa apresente uma prescrição, o CENORF doa, além das próteses, cadeiras de rodas adaptadas às pessoas com paralisia cerebral que passam o dia na cama, palmilhas, próteses e outros aparelhos ortopédicos.

“Temos um outro lado que não está contemplado neste projecto que é o da reabilitação funcional, sessões de fisioterapia que temos beneficiado pessoas que não têm condições. Até porque para colocar a prótese é preciso fisioterapia e, geralmente, sem dinheiro para prótese, não há dinheiro para a fisioterapia. Temos criado internamente um departamento de acção social para beneficiar essas pessoas que colocam prótese”, informa.

Principais desafios

Segundo Alberto Afonso, o Centro Nacional Ortopédico e de Reabilitação Funcional vive de parcerias nacionais e internacionais.

“É claro que hoje estamos em melhores condições, temos um grande parceiro que é o Ministério de Família e Inclusão Social. Não tem sido fácil, mas o desafio de todos os dias é vencer”, apontou.

Nesse sentido, prossegue, o administrador do CENORF espera que o novo governo, mais precisamente, o Ministério da Saúde, continue a trabalhar com o Centro e que financie a aquisição de matérias-primas para o projecto.

“Quanto mais matéria-prima, mais apoio poderemos dar e mais pessoas poderão ser contempladas. Valeu e tem valido a pena continuar com o Centro a apoiar as pessoas”, frisa. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1016 de 19 de Maio de 2021. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,23 mai 2021 7:29

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  24 mai 2021 16:23

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