​Biosfera suspende actividades no ilhéu Raso por alegadas ameaças de pescadores

PorFretson Rocha, Rádio Morabeza,4 jun 2021 18:00

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ilhéu Raso
ilhéu Raso(Foto da Biosfera)

A Biosfera anunciou a suspensão, a partir de 15 de Junho, de todas as suas actividades de conservação e pesquisa da biodiversidade na Reserva Integral do Ilhéu Raso, 16 anos depois do início dos trabalhos. Em causa, supostas ameaças que os colaboradores têm recebido por parte de grupos de mergulhadores que operam na reserva “perante a inércia das autoridades”, anunciou hoje a organização não governamental.

Em entrevista à Rádio Morabeza, Tommy Melo, presidente da Biosfera, explica que a decisão não foi tomada de ânimo leve, mas que, perante a situação, este é o único caminho a seguir para evitar conflitos que podem ter consequências graves.

O responsável refere que há vários meses que a associação ambientalista tem confrontos com grupos de mergulhadores que operam no ilhéu Raso "com exploração insustentável e ilegal dos recursos marinhos". As autoridades já terão sido alertadas.

“Os mergulhadores continuam a operar. Obviamente que, neste momento, já nos vêem como inimigos. A escalada de ameaças tem vindo a aumentar exponencialmente. De forma a conter uma situação irreversível, a Biosfera decidiu parar com as actividades no ilhéu Raso, para que não haja nenhum acidente e perdas de vidas que possam ocorrer de ambos os lados. A Biosfera não está aqui para isso. A Biosfera está aqui para promover um melhor ambiente, para a conservação, para a gestão sustentável dos recursos. Penso que entrar em luta com aqueles que estão a tentar, ao fim ao cabo, colocar comida no prato, não é a melhor forma de actuação da Biosfera e, portanto, pretendemos cessar todas as funções até que as autoridades tenham uma posição diferente daquela que têm tido até agora, que é a inércia”, explica.

Tommy Melo diz que a ONG que lidera já apresentou várias opções para resolver o problema. Explica que há cerca de dois anos a Biosfera teve um projeto conjunto com a Direção Nacional do Ambiente que, através de um processo participativo com os pescadores que actuam na reserva marinha, consistia na criação de um assentamento com condições sanitárias na ilha de Santa Luzia, numa zona identificada. O projecto não avançou porque, alegadamente, faltou a assinatura da tutela.

“A Biosfera conseguiu reunir fundos para criar esse assentamento, a Direção Nacional do Ambiente levou a cabo todos os estudos de terreno e tudo estava pronto. Apenas não se avançou porque faltou a assinatura do senhor ministro de Ambiente. Até hoje não se sabe porquê. Essa teria sido uma forma de desmobilizar os pescadores do ilhéu Raso, mas que não foi avante. O dinheiro voltou para os financiadores, tendo em conta que o nosso ministro do Ambiente não assinou os documentos para dar a ordem de seguimento dos trabalhos”, refere.

“Já propusemos às autoridades de fiscalização - que dizem não ter meios para fazer uma fiscalização diária na zona da reserva - que colocassem agentes de fiscalização a bordo da embarcação da Biosfera, que a Biosfera cobriria todos os custos das deslocações desses agentes, pagaria salários se fosse preciso, mas por parte das autoridades não é bem visto ter agentes de fiscalização a bordo de uma embarcação de uma ONG. O que é bem visto é não fazer nada da parte deles”, diz.

Tommy Melo lembra que o ilhéu Raso é um ecossistema, uma das zonas mais importantes em Cabo Verde a nível da nossa biodiversidade, a principal zona de nidificação de algumas aves defendidas por leis nacionais e internacionais e que alberga espécies únicas.

“É um ecossistema único que temos em Cabo Verde e muito frágil. A Biosfera, ao longo destes 16 anos, tem vindo a fazer a monitorização e o seguimento de todas as espécies existentes, juntamente com parceiros internacionais, universidades, centros de pesquisa, e todo esse trabalho vai ser colocado em risco”, alerta.

Para Tommy Melo, asuspensão das atividades por parte da Biosfera pode significar um retrocesso de 16 anos, ao "ponto em que Cabo Verde ainda era um país em que se matava espécies protegidas a nível internacional”.

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Autoria:Fretson Rocha, Rádio Morabeza,4 jun 2021 18:00

Editado porAndre Amaral  em  17 mar 2022 23:20

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