COVID-19 faz aumentar produção de oxigénio medicinal em Cabo Verde

PorSheilla Ribeiro,13 jun 2021 11:11

O Oxigénio Medicinal é amplamente utilizado nos hospitais nas cirurgias como parte da reanimação e também nos cuidados peri-operatórios ao paciente. O produto ganhou um valor acrescido com o aparecimento do novo coronavírus, que tem como uma das principais características a infecção do sistema respiratório. Nesta reportagem o Expresso das Ilhas falou com três empresas que produzem oxigénio medicinal em Cabo Verde, a Mega Saúde, a Drogaria Pincel, ambas situadas na Praia, e a Sodigás, no Mindelo. Conforme declararam houve, com a pandemia, um aumento da produção para atender hospitais, centros de saúde, clínicas e até mesmo particulares.

Na Praia, desde Outubro de 2010, a Mega Saúde está no mercado de gases medicinais depois de verificar uma “lacuna” tanto em termos quantitativas, roturas do produto nos hospitais, quanto em termos qualitativos, conforme o sócio-gerente Avelino Couto.

Já a Drogaria Pincel começou a produzir e a comercializar o oxigénio medicinal em 2014, enquanto a Sociedade Industrial de Gases, Sodigás, SARL, actua desde os anos 90.

Segundo Avelino Couto, na Mega Saúde, o oxigénio é produzido de duas formas, sendo uma delas o Processo de Separação por Adsorção (PSA), utilizado no início das actividades da empresa em 2010.

Uma outra forma de produção é o (Vacum Pressure Swing Adsorption (VPSA), uma tecnologia moderna e certificada principalmente no mercado europeu. Desta forma, após o processo de separação e filtragem é submetido à alta pressão e baixas temperaturas.

As temperaturas no método VPSA, conforme detalha, podem variar entre -182,96ºC – ponto de ebulição – e -222,65ºC – ponto de fusão, permitindo manter as propriedades químicas e físicas por um oxigénio líquido, criogénico.

“Passa por um processo de gaseificação através de um vaporizador para o seu enchimento em garrafas com capacidade para suportar até 300 bar de pressão, no entanto, é comercializado em Cabo Verde a apenas 150 bar de pressão”, avança.

Ao Expresso das Ilhas, o proprietário da Drogaria Pincel, Pedro Delgado, explica que a produção é feita por meio da separação do ar.

Distribuição

A Mega Saúde distribui o oxigénio medicinal principalmente nas ilhas a Sul do país, como Santiago, Maio, Fogo e Brava. Mas, também distribui nas ilhas do Sal e Boa Vista.

“Nas outras ilhas, por razões de logística e transporte irregular, foi suspensa a distribuição”, declara Avelino Couto.

O envio, explica, é feito em garrafas de oxigénio que podem ser de 50 a 150 bares de pressão. Já na ilha de Santiago, é feito por pessoal devidamente formado e em viaturas próprias para o transporte de oxigénio que, segundo normas internacionais, deve ser feito em posição vertical.

Por sua vez, Rovidson Firmino, frisa que a Sodgás faz a distribuição de oxigénio medicinal para todas as ilhas e tem representantes quer nas ilhas de Sotavento, quer nas de Barlavento.

“Os hospitais e Centros de Saúde são os principais clientes, entretanto, há representantes nossos que compram o oxigénio para depois distribuir a outros. A distribuição é feita através do barco, excepto em São Vicente em que os clientes fazem o levantamento na própria empresa”, refere.

Da mesma forma, a Drogaria Pincel distribui as garrafas de oxigénio de camião para os diversos concelhos da ilha de Santiago e de barco, para as ilhas de Boa Vista, Fogo e Brava. Contudo, há alguns constrangimentos no transporte para essas ilhas.

“Já houve situações em que não aceitaram transportar os cilindros, ou porque o barco se encontrava cheio, ou porque não tínhamos cestos. Isto porque as garrafas devem ser transportadas dentro de um cesto, mas acontece que por vezes quando vai para uma ilha dentro do cesto, volta fora já que às vezes enviam as garrafas no cabo, o que pode gerar problemas na hora de enviar, justifica.

Houve vezes em que a empresa enviou as garrafas em barcos de pesca, a partir do Tarrafal, conforme narra.

Capacidade de produção e demanda

“Além dos Hospitais, Centros e Delegacias de Saúde, mais as clínicas privadas para as quais entregamos as garrafas de oxigénio, o número de pessoas que compram oxigénio para usar em casa vem aumentando por causa da pandemia”, diz Pedro Delgado.

Como exemplo, o proprietário da Drogaria Pincel que produz o oxigénio por metros cúbicos, cita que em 2015 a empresa teve uma produção anual de 3.572 garrafas de oxigénio, em 2016 produziu 4.263 e em 2017 aumentou para 5.042 garrafas.

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Em 2019, a produção diminuiu para 6.519 garrafas, mas voltou a aumentar em 2020 para 7.442 garrafas produzidas durante o ano.

“Este ano, até o momento, produzimos 4.832 garrafas. Em média produzimos, durante o ano de 2020, 620 garrafas mensalmente. E em 2021 produzimos 966 garrafas mensalmente até agora. Os aumentos mais relevantes ocorreram durante os meses de Março, Abril e Maio de 2021 em função do aumento do número de casos da COVID-19”, observa.

Face a este aumento de produção, a empresa aumentou a manutenção tendo passado, por vezes, a produzir durante 24 horas.

“Houve momentos em que trabalhamos três dias seguidos durante 24 horas. Mas, apesar desse aumento, não tivemos nenhuma limitação na produção porque usamos apenas a electricidade já que a matéria-prima é o ar”, pontua.

Da parte da Mega Saúde, Avelino Couto afirma que não houve limitação da capacidade de produção e nem haverá problemas de rotura do oxigénio medicinal.

“Haverá sempre no mercado a capacidade para suprir as necessidades dos serviços de saúde, trabalhamos com o estoque de segurança superior a 100 toneladas de oxigénio líquido que dá para encher mais ou menos mil garrafas”, garante.

A pandemia, de acordo com aquele sócio-gerente, fez com que a demanda do produto aumentasse três vezes mais do que o normal, tendo a produção passando de 19 toneladas em cada três meses, para 19 toneladas mensais.

Para responder à demanda, a empresa optou pelo aumento do pessoal, aumento do tempo de produção, bem como o aumento do estoque de segurança.

“Adquirimos e colocamos no mercado mais 300 garrafas ou balas de oxigénio medicinal. Surgiu uma demanda nova para o fornecimento deste produto no domicílio mediante a prescrição do médico assistente”, informa.

A empresa sediada na capital teve de intensificar a formação do pessoal para atender às normas de segurança que a COVID-19 impôs.

Na mesma linha, Rovidson Firmino aponta que derivado da pandemia, houve o aumento de produção de oxigénio medicinal na Sodigás, devido ao aumento de procura. Assim, a produção duplicou.

“Perante o aumento de procura de oxigénio investimos em mais garrafas, foram importadas mais garrafas. Ainda que as garrafas não tenham chegado, estamos ainda à espera que cheguem e nem sequer temos a previsão de uma data de chegada. Até lá, vamos dando resposta com o que temos e, com isso, vamos gerindo e assim conseguir dar resposta às demandas”, descreve.

Embora a empresa tenha representantes em todas as ilhas, Rovidson Firmino detalha que actualmente a empresa está mais activa nas ilhas do Barlavento, já que há outras empresas do Sotavento com o mesmo produto.

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Empresários em Angola doam reguladores de oxigénio ao HAN

No passado mês do Maio, dois empresários angolanos de ascendência cabo-verdiana, directores de uma empresa dedicada à engenharia hospitalar, doaram 12 reguladores de oxigénio ao Hospital Agostinho Neto na Praia. Um gesto simbólico, dizem, para ajudar o país do pai no tratamento da COVID-19.

António de Azevedo e Guilherme de Azevedo, respectivamente director-geral e director comercial da NOVERA, são filhos de Alfredo Azevedo Furtado, nascido e criado na Praia.

O pai emigrou novo para Angola, terra onde trabalhou, constituiu família e fundou a empresa acima referida. Os descendentes, lembrando a ligação a Cabo Verde e esse amor que o pai tinha para com o seu país, desde há algum tempo que vêm apoiando algumas iniciativas, nomeadamente, de foro cultural.

Neste momento de pandemia, os irmãos Azevedo voltaram o seu apoio para o combate à COVID-19, naquilo que chamam um gesto simbólico, com a doação de 12 reguladores de oxigénio e respectivos frascos humidificadores, ao Hospital Agostinho Neto.

Os reguladores irão ajudar na manutenção e regulação das balas de oxigénio e, portanto, no tratamento dos doentes da COVID (e outros).

A NOVERA, empresa da qual o cabo-verdiano Alfredo Azevedo Furtado foi fundador, está no mercado angolano desde 1995 e actua no domínio da Bioengenharia e Engenharia Hospitalar.

A empresa é especializada, particularmente, na instalação e manutenção de equipamento destinado ao tratamento de doenças do tracto respiratório. Neste momento de pandemia, em Angola, a empresa tem desenvolvido projectos de combate à COVID, nomeadamente no apetrecho de salas em Hospitais para esse fim.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1019 de 9 de Junho de 2021. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,13 jun 2021 11:11

Editado porSheilla Ribeiro  em  25 mar 2022 23:20

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