RECYCLE BE transforma lodo em gás de cozinha e energia eléctrica

PorSheilla Ribeiro,1 ago 2021 11:05

O projecto denominado RECYCLE BE quer transformar o lodo em gás de cozinha e energia eléctrica, através de um tanque de esgoto portátil, garantindo assim o reaproveitamento de águas saponáceas ou negras de forma económica e acessível para todos.

Segundo o mentor do projecto, Patrick Gomes, a ideia foi sendo lapidada aos poucos. As secas derivadas a localização geográfica do país e a “má gestão” dos recursos naturais, que geram a falta de água, principalmente no meio rural, tanto para o uso próprio, como para a agricultura fez surgir a ideia inicial.

O objectivo foi criar um depósito filtro (RECYCLE BE), para salvaguardar a água utilizada nas residências, e tirar o proveito na sua reutilização.

“Em 2010, visitei um amigo no interior de Santiago, que se queixou da falta de água. Queixou-se que não havia água para os animais, não havia água para as plantas. Entretanto, todas as pessoas daquela localidade usavam água para limpar a casa, lavar as roupas, lavar as louças, mas, depois a água era descartada sem nenhuma reutilização. Um desperdício”, narra.

Depois de desenvolver a ideia, toda a água que entrava no tanque, passou a ser filtrada. Após identificar uma zona agrícola, a água filtrada passou a ser utilizada na rega.

“As pessoas queixam-se da falta de água devido a inexistência da sua reutilização. Foi então, que notei que podíamos captar toda a água utilizada, inclusive as águas de esgoto, e fazer a manutenção do tanque para que não entupisse o filtro. Então, daí, vimos que todo o lodo é um potencial que poderia ser utilizado para maximizar a nossa ideia, e assim produzir gás para cozinha e através desse gás produzir electricidade. Ou seja, uma fonte de energia”, narra.

A criação do RECYCLE BE

Conforme justifica Patrick Gomes, na construção de uma habitação ou qualquer edifício que tenha áreas húmidas ou de serviços com utilização da água no país, são construídos tanques como recolectores de esgotos.

A função desses tanques é separar as águas dos excrementos ou estercos. Contudo, frisa, essas águas não são aproveitadas para o uso, muito menos tratadas e com o tempo acabam por contaminar os lençóis freáticos, o que influencia o próprio ambiente envolvente.

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Para provar a eficácia do RECYCLE BE, o porjecto será implementado na Ribeira de Cidadela, em dois meses.

“Vamos escolher uma família e por agora, será contemplada com gás de consumo. O gás será produzido no próprio local. Ou seja, a família que vai utilizar o gás, ainda mais se tiver animais como vacas, cabras, os excrementos desses animais podem complementar o recipiente do gás”, esclarece.

Nesse meio-tempo, Patrick Gomes afirma que pretende realizar uma campanha de sensibilização à população daquela localidade (ribeira de Cidadela), de modo a acreditarem no projecto e no seu potencial.

A perspectiva é implementar o RECYCLE BE a nível nacional ou continental. “Há muitos países africanos que sofrem os mesmos problemas que nós, e nós temos um projecto com ambição enquadrada num outro projecto de casa que temos”, refere.

O projecto pretende ainda concluir se o gás feito a partir do lodo tem ou não maior durabilidade do que o gás vendido nos postos de combustíveis.

Benefícios do RECYCLE BE

Patrick Gomes assegura que o depósito filtro, RECYCLE BE, faz a filtragem de água de forma natural com materiais naturais, e de forma autónoma por decantação eliminando o máximo possível de acordo, com qualidade de água pretendida.

Continuando, afirma que o depósito, pela sua modelagem e praticidade, foi pensado para suportar a vida rural no aproveitamento de água para rega e para animais. Não obstante, é adaptável ao meio urbano, “com certas garantias “e até a própria disponibilidade da água, para várias utilizações, como oficinas de lavagem (Car wash), rega das áreas verdes das cidades, lavagem das vias, entre outros.

“O benefício é o reaproveitar da água, fazer melhor uso dos nossos digestos e evitar desperdícios tanto de água, como produtos orgânicos. E isso a nível ambiental é muito bom”, garante.

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Dito de outra forma, através do RECYCLE BE, Patrick Gomes pretende garantir o reaproveitamento das águas saponáceas ou negras principalmente para a agricultura; produzir gás metano para utilização na cozinha e consequentemente a produção eléctrica através do processo de filtragem do lodo que se acumula no reservatório das águas reaproveitadas; e ainda produzir fertilizantes para utilização na agricultura através de filtragem do lodo que se acumula no reservatório das águas reaproveitadas.

Processo de transformação e implementação

“É um processo sim­ples e funciona de forma natural. Os excrementos, quando fer­mentam criam um gás que condensa. Nós apenas recebemos o gás e canalizamo-lo para as cozinhas. Não é algo de custo elevado. O depósito fica mais barato do que construir uma foça, normalmente construída”, contrapõe.

Segundo explana, o tanque vem pronto a ser encaixado e ligado na casa, o que não exige muito em termos de construção civil.

“Esse gás não requer o uso de botijas, a partir do nosso depósito é possível fazer uma canalização directa para a cozinha. Uma ligação igual àquelas que fazemos de gás para o fogão. Podemos dizer que é um gás canalizado, o recipiente fica fora de casa e tem uma canalização na tubagem que chega até a cozinha”, descreve.

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O projecto financiado pela Organização das Nações Unidas de Cabo Verde através do programa “Accelerator Lab”, será executado com apoio logístico da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde e ainda poderá servir para a produção de energia, através do processo de filtragem do lodo que se acumula no reservatório das águas reaproveitadas e também produção de fertilizantes para a agricultura. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1026 de 28 de Julho de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,1 ago 2021 11:05

Editado porSheilla Ribeiro  em  2 ago 2021 11:13

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