Municípios agrícolas preparados para todos os cenários

PorSheilla Ribeiro,8 ago 2021 8:13

Em todos os municípios com vocação agrícola já se nota o preparar da sementeira e as edilidades, assim como os agricultores, esperam um ano agrícola diferente dos últimos três anos. No entanto, já estão a se preparar para todo e qualquer cenário, um bom ou mau ano agrícola, com planos de mitigação e de emergência para suprir as necessidades das suas populações. Pelo menos seis municípios reportaram a este jornal as suas perspectivas e principais preocupações perante um cenário de pouca chuva.

Nas zonas altas do município da Ribeira Brava, em São Nicolau, os camponeses já começaram a limpar as suas propriedades para depois iniciarem as sementeiras, conforme avança o presidente José do Rosário Martins.

O edil conta que os munícipes estão ansiosos por chuvas proveitosas, bem distribuídas no tempo e no espaço de modo que possa haver um bom ano agrícola desde a colheita, mas também de pastos.

Relativamente às políticas municipais, José do Rosário Martins garante que por entender que esta época é dedicada às actividades agrícolas, a autarquia tem vindo a suspender, temporariamente, os trabalhos para as pessoas se dedicarem às azáguas.

“Temos conversado com os agricultores e outros sectores para estarem preparados e aproveitarem dos locais, dos ecossistemas que ainda dão garantia de produção como forma de rentabilizar os meios económicos e financeiros. Estamos a falar concretamente das zonas altas, onde ainda as condições climatéricas quase sempre permitem boas colheitas”, menciona.

No ano passado a colheita foi “razoável” naquele município, apesar da praga da lagarta-do- cartucho do milho que fez “bastantes estragos”.

“Estamos a falar mais das zonas áridas a semiáridas, onde a produção poderia ter sido muito melhor, mas infelizmente a praga fez alguns estragos. Este ano, acredito que as condições poderão estar criadas, ou estão sendo criadas segundo garantiu o Ministério de Agricultura e Ambiente (MAA), para que tenhamos intervenções mais atempadas, mas também sobretudo mais vigilantes a nível das pragas e tenhamos medidas acertadas para evitar a sua propagação”, observou.

A Câmara Municipal da Ribeira Brava aprovou ainda, em reunião ordinária, um plano de emergência, visando recrutar técnicos, mais concretamente bombeiros no sentido de estarem mais afectos à Câmara na prestação de serviços em qualquer eventualidade, tendo em conta as características da cidade.

“Uma urbe de elevada exposição a risco de catástrofes. Já comunicamos junto às outras entidades da Protecção Civil no sentido de estarmos em alerta para qualquer eventualidade, esperamos que não, mas estamos a criar condições para intervenções rápidas”, assegurou.

Mosteiros

Na ilha do Fogo, o município dos Mosteiros é essencialmente agrícola. Conforme o vereador do Ambiente e Desenvolvimento Rural, Jaime Monteiro, no que tange à preparação da campanha agrícola, a Câmara Municipal tem o costume de adquirir sementes para distribuir, sobretudo às pessoas com dificuldades.

“Mas, este ano, tendo em consideração os sucessivos maus anos agrícolas, não há sementes disponíveis no mercado e a Câmara não conseguiu adquiri-las”, lamenta, acrescentando que todos os anos a edilidade disponibiliza 200 a 300 mil escudos para as sementes.

Jaime Monteiro ressalta que a Câmara Municipal já tem um plano de emergência a nível da Protecção Civil para fazer face a eventuais situações de enxurradas, ou de deslizamento de terras, que já foi socializado com os bombeiros voluntários.

Os agricultores das chamadas zonas altas, relata, já começaram a sementeira apesar de pouca precipitação até o momento.

Não obstante a esperança de um bom ano agrícola, o vereador do Ambiente e Desenvolvimento Rural avança que a Câmara já tem um plano de mitigação que será submetida ao governo nos próximos dias, através do MAA.

“É um plano que visa sobretudo criar algum emprego público para ver se ajuda às pessoas a suprirem alguma dificuldade. Três anos sem chuva no Fogo não é brincadeira, porque somos um município eminentemente agrícola, onde grande parte da população depende da agricultura, sobretudo de sequeiro”, descreve.

Jaime Monteiro diz que existe agricultura de regadio no município, mas que não é muito substancial. E com um bom ano agrícola, sustenta, ninguém chega à autarquia para pedir emprego, uma vez que todos terão trabalho nas suas propriedades.

“Mas, não havendo azágua, ficamos sobrecarregados”, frisa.

Santa Cruz

O edil de Santa Cruz, Carlos Silva, começa por enfatizar que a maioria das famílias vive da agricultura, quer de regadio, quer de sequeiro e que neste momento estão a iniciar a preparação da sementeira. Este ano, entretanto, as dificuldades estão acrescidas devido à pandemia.

Derivado da pandemia há muitas famílias em condições difíceis, porque além das sementes que têm de estar disponíveis para a sementeira, as famílias têm de ter uma alimentação. O que tem sido um obstáculo, sobretudo para as famílias de baixa renda”, aponta.

Carlos Silva afirma que, à semelhança dos anos anteriores, a Câmara Municipal tem acompanhado de perto o início das actividades agrícolas, estando “mais consciente, mais ciente e mais disposta” a colaborar com essas famílias, sobretudo aquelas cadastradas no Cadastro Social Único.

Além do apoio da autarquia, o edil informa que várias famílias têm sido socorridas pelo MAA com sementes.

Perante um cenário de chuva insuficiente, a Câmara Municipal, diz Carlos Silva, tem um plano de emergência que será implementado em parceria com o governo. Mas, para garantir o rendimento das famílias, devido à seca prolongada, a autarquia tem vindo a dinamizar as suas actividades, sobretudo na construção civil.

“Pretendemos ainda beneficiar algumas famílias com materiais de construção civil para reabilitarem o tecto das suas casas devido ao aproximar das chuvas. Estamos na expectativa de que este ano poderá ser melhor do que o ano passado tanto para o consumo humano, quanto para o consumo animal”, indica.

Se não chover o suficiente para um bom ano agrícola, o edil espera que pelo menos as barragens de Poilão e da Figueira Gorda encham de água, para que o município tenha o suficiente deste líquido e assim garantir a segurança alimentar durante três ou quatro anos no município.

São Salvador do Mundo

O presidente da Câmara Municipal de São Salvador do Mundo, Ângelo Vaz, relata que os agricultores do município também já começaram a deitar as sementes na terra dando início à sementeira desde a semana passada, na expectativa de um bom ano agrícola.

Ângelo Vaz conta que o município tem tido um contacto mais próximo com os agricultores, na tentativa de incentivá-los no tipo de agricultura que deve ser feita nos Picos.

“Mas, sabemos que a população tem uma tradição de cultivo de sequeiro que vem de longa data. Então, sempre por esta altura, as pessoas decidem pelo cultivo do milho, feijão fazendo jus à tradição. Com chuva abundante, com água resolve-se muitos outros problemas”, considera.

“Se este ano não tivermos um bom ano agrícola, seria muito duro, tendo em conta os três anos de seca. Felizmente, em 2020, conseguimos ter alguma coisa, mas isso requer um esforço adicional por parte dos munícipes porque somos um concelho eminentemente rural, com muita ligação à agricultura”, reflecte.

No ano passado, Picos teve um excedente de pasto. Neste sentido, a autarquia, em parceria com o MAA, tem feito uma campanha de sensibilização quanto ao desperdício e queima de pasto, pensando na possibilidade de não haver este ano.

Por outro lado, tendo em conta os estragos causados pelas fortes chuvas de Setembro do ano passado, a Câmara de São Salvador do Mundo tem no terreno uma equipa da Protecção Civil para avaliar todas as situações.

“Vão-se acautelando quanto à vinda das chuvas que está próxima. Temos feito o nosso trabalho de planificação e esperamos que tudo corra bem e que este ano não tenhamos muitos estragos”, manifesta.

São Lourenço dos Órgãos

Em São Lourenço dos Órgãos, interior de Santiago, assim como os municípios anteriores, a população começa a preparar o campo e outros já deitaram as sementes na terra, sobretudo nas zonas altas.

“Todos perspectivam, como sempre, um bom azágua. Até o final do mês a maioria já terá começado a semear com o aproximar das chuvas”, descreve o edil, Carlos Vasconcelos.

Tendo em conta que as chuvas têm tido maior intensidade entre Agosto e Setembro, a autarquia tem incentivado a prática da sementeira nesta época, para garantir a segurança alimentar das famílias.

“Nesse momento estamos a terminar o nosso plano de emergência. Estamos a identificar alguns perigos de desabamento e pessoas que vivem nas zonas de risco, para tentar resolver os seus problemas. Também vamos colocar ao serviço dos munícipes a linha emergencial para que a Protecção Civil possa responder com mais celeridade”, anunciou.

Todavia, Carlos Vasconcelos mostra-se preocupado com as pragas que já começam a aparecer no município.

“Pedimos ao MAA se é possível atacar essas pragas enquanto é tempo, para que quando vier a chover haja um mínimo de pragas nas propriedades dos agricultores. Espero que o MAA trabalhe na prevenção para que não aconteça o que tem acontecido nos últimos anos”, expecta.

Santa Catarina

“Os agricultores sempre com aquele optimismo típico do povo do interior, estão à espera de uma época de chuvas muito boa. Inclusive, em Santa Catarina já há sinais de pessoas a fazerem a sua sementeira. Os mais velhos têm sempre aquela tal previsão para a sementeira, há inclusive pessoas que semearam já no início de Julho”, começa por dizer a edil, Jassira Monteiro.

Embora as perspectivas sejam boas, Jassira Monteiro frisa que a Câmara Municipal está preparada para todos os cenários.

Neste sentido, a edilidade tem em curso a instalação de uma dessalinizadora em Ribeira da Barca para responder às demandas da água não só no município de Santa Catarina, mas também em São Salvador do Mundo, além de um projecto da FAO que visa a mobilização de água.

“Está claro que também temos algumas preocupações em relação às pragas, a escassez das chuvas propícia o surgimento de pragas. Neste sentido, nós, a Câmara Municipal, trabalhamos sempre em diálogo muito estreito com o MAA para actuar com a celeridade necessária no sentido de atacar essas pragas”, prossegue.

Para que nenhuma família passe dificuldades em caso de mau ano agrícola, Jassira Monteiro garante que a Câmara Municipal possui um plano de mitigação que prevê acelerar o processo de instalação da dessalinizadora e disponibilização de pasto para o gado.

Quanto ao plano de intervenção, a edil garante que as zonas de risco estão sinalizadas, tendo a Câmara iniciado os trabalhos de abertura de valas e de estradas.

“É claro, há casos imprevisíveis e neste caso estamos preparados para actuar no momento”, sustentou.

Paul

Em Santo Antão, mais concretamente em Paul, o cenário não é diferente dos restantes municípios. De acordo com o edil António Aleixo Martins, os agricultores estão esperançosos neste ano agrícola, embora esteja um bocadinho atrasado, porque tem ocorrido até agora apenas chuviscos.

“Muitos já fizeram a sementeira e os mais desconfiados estão à espera da chuva verdadeiramente dita. Entretanto, nem por isso a perspectiva é de um bom ano agrícola”, precisou.

Para António Aleixo Martins, um bom ano agrícola não significa uma boa colheita de milho. Há outras variedades.

“Falando do município do Paul especificamente, um bom ano agrícola significa a recarga dos lençóis freáticos, porque aqui as actividades dos agricultores desenvolvem-se mais a nível da agricultura de regadio. Por isso, desde que haja uma boa recarga dos lençóis freáticos já há um bom ano agrícola. Estamos em crer que vai ser um ano acima da média”, defendeu.

Neste momento, o edil ressalta que o mais importante está feito que é a formação para os técnicos estarem preparados para as pragas que possam surgir.

“Não havendo a possibilidade de um bom ano agrícola, estaremos preparados com um plano de mitigação que não depende apenas da Câmara Municipal, mas também de outros parceiros, do governo principalmente. Estamos a fazer a nossa parte, com aquela convicção de que vai chover”, esperançou. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1027 de 4 de Agosto de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,8 ago 2021 8:13

Editado porFretson Rocha  em  9 ago 2021 9:23

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