O sentimento de insegurança está a deixar sobressaltados os taxistas da cidade da Praia depois dos casos de roubo que têm ocorrido nas últimas noites. Nesse sentido, os taxistas da capital realizaram hoje, sexta-feira, 27, uma manifestação pacífica pela capital, com partida no largo de Quebra Canela.
Em declarações ao Expresso das Ilhas, o presidente da Associação dos Taxistas da Praia, Yane Monteiro, confessa que actualmente, a partir das 18h00, os taxistas escolhem quem deixar entrar na viatura, por não saberem quem é quem.
Conforme explica, os profissionais da classe estão com medo porque os assaltos têm sido regular e alguns taxistas chegaram a ser hospitalizados com ferimentos graves.
“Por isso, estamos a pedir a atenção do governo e das autoridades para nos dar um suporte para termos mais coragem para prestar serviço. Hoje em dia, uma pessoa pode precisar de socorro, mas às vezes pede-se um táxi e nós não temos a coragem de parar para levar a pessoa devido ao medo. Queremos acabar com essa história de medo, queremos ter mais segurança”, assevera.
Segundo o presidente daquela Associação, por dia, tem ocorrido dois ou três assaltos. Entretanto, admite que não há dados concretos de quantos são porque a maioria dos taxistas deixaram de prestar queixas.
Estes, segundo a sua explicação, passaram a considerar perda de tempo prestar queixas, uma vez que depois de passar de duas a três horas nas esquadras, no final ou os assaltantes não são identificados, ou ficam em liberdade.
Finalidade da manifestação
“O que tem acontecido é grave. Há poucos dias um colega foi assaltado e está gravemente ferido. Imagina, um chefe de família sair para trabalhar sem esperança de voltar para casa. O assalto a que me referi aconteceu de dia, às 18h30. Não é uma hora, digamos, perigosa. Já não é só à noite que corremos riscos”, conta.
Yane Monteiro conta que o taxista em questão foi beneficiado com uma licença de táxi e tem de pagar o carro a prestações, mas devido aos ferimentos, por agora deixou de trabalhar.
“Levou um corte grave no pescoço e por pouco não morreu, o médico disse que com mais dois minutos de atraso podia perder a vida. A polícia, neste caso, fez um excelente trabalho porque em menos de 24 horas tinha capturado os três assaltantes, que entretanto, foram apresentados ao Tribunal e saíram em liberdade. Isto dói”, expressa.
“O que as autoridades estão à espera? Que façamos justiça com as nossas próprias mãos?“, questiona Monteiro, acrescentando que têm a informação de que os assaltantes deste caso prestam serviços no porto da Praia.
“Nós não queremos fazer justiça com as próprias mãos porque somos chefes de família, temos responsabilidades. Acreditamos na justiça, estamos à espera que a justiça faça algo para que possamos não perder a credibilidade, que se perde a cada dia que algo do tipo acontece”, apela.
De acordo com o presidente da Associação Taxistas de Praia, há algum tempo que a manifestação vem sendo preparada. Contudo, devido ao estado grave em que se encontra o referido taxista depois do assalto, resolveram avançar com a manifestação.
“Há casos em que os assaltantes nem chegaram a ser identificados, mas neste caso não. Foram capturados três indivíduos e apresentados ao Tribunal para depois ficarem livres”, exaspera.
Com esta manifestação, Yane Monteiro declara que os taxistas querem exigir ao governo mais segurança a nível nacional. Portanto, frisa, não se trata de uma manifestação apenas para os taxistas.
“Vai ser uma manifestação com a participação dos cidadãos em geral, queremos segurança no geral. Porque a insegurança não está apenas no táxi. Porque o taxista, depois de um dia de serviço, ao regressar a casa também enfrenta problemas. Porque ao regressar, nem sempre vai de viatura até à porta de casa tendo em conta que tem de deixar o carro com o proprietário”, justifica.
Assim, a classe almeja maior patrulhamento da Polícia e, caso for necessário, uma lei que seja mais severa com os assaltantes.
“A solução ideal, para nós os taxistas, seria mudar o sistema da lei. Porque se um assaltante for identificado tem de ir para a cadeia para que as coisas mudem. Se alguém for flagrado com uma arma, que seja multado ou que seja preso. É isso que queremos”, enfatiza.
No caso de haver algum taxista envolvido com grupos de assaltantes, Yane Monteiro defende que as medidas sejam igualmente duras. Neste caso, sugere que se for necessário, seja suspensa a carta de condução.
Para este presidente dos taxistas, uma Central de Controlo não ajudaria a resolver os assaltos.
“Os assaltos por vezes não duram nem dois minutos. E para comunicar a uma Central sobre um assalto, não conseguiriam mandar alguém para nos acudir nesse intervalo de tempo. Não vejo uma central como uma mais-valia”, pontua.
Medo condiciona o trabalho
Taxistas da capital quando abordados pela nossa reportagem foram unânimes em dizer que já foram assaltados pelo menos uma vez e que passaram a avaliar o perfil de cada possível passageiro.
Sony (como prefere ser chamado) é taxista há seis anos e reconhece que ultimamente os casos de assaltos aos colegas de profissão têm aumentado.
“Eu fui assaltado duas vezes, desde que sou taxista. O último foi há poucos meses. Levei um tiro na perna, eu não tive tempo nem de reagir”, relata.
O assalto, neste caso, ocorreu às 07h00 da manhã depois de ter sido abordado por dois rapazes que aparentavam eram meros passageiros. Sony acredita que foi alvejado porque na altura não levava dinheiro, uma vez que tinha acabado de começar a trabalhar.
No dia, prossegue, chegou a prestar queixa, porém até hoje os assaltantes não foram identificados e muito menos penalizados.
“Estou com medo, mas tenho de trabalhar porque não tenho outra solução. Sempre fui de escolher quem levar ou não mas, por vezes, os bandidos vestem-se muito bem e acabam por nos enganar pela aparência”, confidencia.
Deste modo, além de avaliar a roupa das pessoas, se for um grupo de três Sony não aceita transportar, quer sejam mulheres ou homens.
“As mulheres também estão envolvidas nos assaltos. Podem estar dois homens e uma mulher para tentar ludibriar o taxista, por isso seria óptimo haver medidas mais duras com os assaltantes”, observa.
Por sua vez, Ismael Pires, taxista há quase três anos, foi pela primeira vez assaltado há menos de três meses. Eram 20h00 quando foi abordado por duas mulheres que pediram para serem levadas até à Bela Vista.
“Ao chegar a Bela Vista, na hora de passar o troco viram o dinheiro que eu tinha e pediram-mo. Na altura pensei que fosse brincadeira já que durante o trajecto conversaram amigavelmente comigo”, descreve.
Conforme este taxista, ao demorar em entregar o dinheiro, as assaltantes fizeram-lhe vários cortes no braço, que deixaram marcas, mesmo depois de cicatrizadas.
“Naquele momento aprendi uma lição. À noite, já não transporto pessoas que não conheço, ao menos que a minha intuição me permita fazê-lo. Se, ao ver uma pessoa eu tiver um mau pressentimento, não a levo”, afiança.
Ademais, prossegue, dependendo do bairro pondera aceitar ou não o frete. “Tenho até receio em prestar socorro, porque tenho colegas que foram enganados por pessoas que fingiam pedir socorro e afinal era uma armadilha para serem assaltados”, expõe.
Ismael Pires, à semelhança de Sony, reitera que “há medo”, todavia que “não há nada a fazer” por ser o sustento daqueles que escolhem essa profissão.
“Eu, para trabalhar à noite só se for com pessoas que conheço, que têm o meu número e que precisam ir ao aeroporto, por exemplo. Mas, sair à procura de clientes já não faço, nem na noite do final do ano, que é quando há maior movimento”, retrata.
“Nós os taxistas, não temos nenhuma segurança, se estamos a exigir algo é porque realmente precisamos. Não temos nenhuma protecção, o meu caso por exemplo não foi resolvido”, aponta.
Na opinião de Pires, uma forma de evitar os assaltos seria proibir o transporte de passageiros nos bancos da frente, e que os táxis tivessem grades, assim como nos EUA.
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MAI assegura, para os próximos dias, operações especiais de prevenção criminal na capital
O ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, assegurou esta terça-feira que nos próximos dias as autoridades policiais vão realizar operações especiais de prevenção criminal enquadradas, devidamente, nos termos da lei para combater a onda de violência e ocorrências criminais na Praia.
“Nos últimos dias o país, particularmente a cidade da Praia, regista um aumento de violência e também de ocorrências criminais. Tenho dito, há já algum tempo que ciclicamente a cidade da Praia passa por esta situação e o esforço que tem sido feito vem no sentido de dilatarmos os ciclos de modo a que a situação de confiança e de sentimento de segurança seja cada vez mais perene”, afirmou durante uma conferência de imprensa sobre a resolução que aprova os novos procedimentos na luta contra COVID-19 aos trabalhadores e prestadores de serviço públicos e privados.
Depois do PAICV ter exigido ao governo medidas concretas para pôr cobro à criminalidade na capital, Paulo Rocha defendeu que existem vários factores relacionados com essas ocorrências e o governo tem estado a trabalhar para os mitigar.
“Em concreto, nos próximos dias as autoridades policiais estarão a incrementar ainda mais o nível de operacionalidade que já é permanente, que já é constante. Serão realizadas operações com um outro nível de intervenção, designadamente operações especiais de prevenção criminal enquadrada, devidamente, nos termos da lei”, assegurou.
Além das operações especiais de prevenção criminal, o governante revelou que estão a ser equacionadas outras medidas de intervenção que o governo oportunamente fará a apresentação.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1030 de 25 de Agosto de 2021.