"Nos últimos três anos, os jovens, por faltarem à lei, ao não aderirem à inspecção, passaram a ser chamados nos tribunais e isto ajudou-lhes a ganhar mais consciência em relação aos compromissos com o serviço militar", afirmou à Lusa o director do Centro de Instrução Militar Zeca Santos - Morro Branco, o único do género em Cabo Verde, instalado na ilha de São Vicente.
Assim, segundo o capitão Rui Fortes, apresentaram-se às inspecções obrigatórias em 2021, nas quatro juntas militares em Cabo Verde, um total de 1.681 mancebos, dos quais 860 das ilhas de Santo Antão, São Vicente e São Nicolau, 250 nas ilhas do Sal e da Boa Vista, 651 entre as ilhas da Brava, Fogo e cidade da Praia (Santiago), e 220 entre a ilha do Maio e o interior de Santiago.
Passada a fase das inspecções, no Centro de instrução do Morro Branco, 450 recrutas esgotam desde Setembro o aquartelamento, como explicou o director da unidade.
“Temos aqui presentes todas as ilhas de Cabo Verde, tivemos uma resposta muito positiva por parte dos cidadãos. A maior parte, cerca de 45 a 50% veio da região de Sotavento, em especial Santiago, e mais 25% de São Vicente”, disse ainda.
O recrutamento geral em Cabo Verde para o Serviço Militar Obrigatório compreende o recenseamento militar – no ano em que o cidadão completa 18 anos -, a classificação e seleção e a distribuição e alistamento.
No processo de 2021, os recrutas seleccionados já foram distribuídos em Setembro pelas quatro companhias de instrução, iniciando a preparação militar, que representa um choque entre as realidades civil e militar, admite o director.
“Para terem noção, o dia começa às 05:30 com a alvorada, em seguida é feito o controlo no centro de instrução, apresentam-se no corpo de serviço para o controlo nominal dos recrutas para saber se todos estão bem e presentes. A primeira refeição do dia é feita às 06:00, depois disso é feita limpeza da unidade e às 08:00 inicia-se a instrução com as aulas de educação física e posteriormente com as demais aulas”, detalhou Rui Fortes.
Após a recruta, estes jovens passam a soldados e serão distribuídos pelas unidades militares em Cabo Verde.
Embora sem quantificar, o capitão Rui Fortes admite que é grande o número de jovens que procura as Forças Armadas com o intuito de seguir a carreira militar: “Temos várias pessoas que começaram no recrutamento, depois para as unidades, regressaram ao Morro Branco para fazer outros cursos, como de sargento, oficiais do serviço efectivo normal, depois com alguma formação específica acabam por entrar na carreira, inicialmente num regime de voluntariado”.
“Uma oportunidade importante é o programa soldado cidadão. Temos tido ao longo destes tempos jovens que acabam por sair das Forças Armadas com uma formação, prontos para integrar no mercado de trabalho”, disse o responsável, destacando áreas como a serralharia, electricidade, carpintaria ou informática.
Entretanto, a questão de saúde é tida como um dos principais motivos de dispensa ou adiamento do serviço militar dos jovens, e de 546 cerca de uma centena que chegou ao centro de instrução militar voltou para a casa. A lotação também fez com que muitos não entrassem este ano.
“No ano de 2020 fez-se um ajuste e reduziu-se muito o número de recrutas para manter o distanciamento social, porque ainda não havia vacinas contra a covid-19. Só que as Forças Armadas têm vindo a aprender muito e o centro de instrução acabou por adoptar medidas e neste momento podemos contar apenas com 50 recrutas que ainda não receberam a segunda dose e quase a totalidade dos nossos efectivos estão vacinados com a segunda dose”, garantiu.
Segundo o director do Centro de Instrução Militar de Morro Branco, até final da primeira fase do recrutamento o batalhão estará todo vacinado.