Cabo-verdianos perspectivam um Natal diferente

PorNeidy Pereira (estagiária),24 dez 2021 15:55

Em 2020, o Natal foi muito marcado pela pandemia da covid-19 devido às restrições sanitárias, sobretudo o distanciamento social. Para este ano, com o surgimento da vacina, redução de casos em Cabo Verde e com menos restrições sanitárias, os cabo-verdianos, perspectivam um Natal diferente do ano passado.

Nas ruas, em casa, na escola, no jardim, no trabalho, em diferentes lugares, as pessoas pretendem comemorar a festa do Natal de diferentes formas. Para alguns, a celebração já começou com a compra de presentes, roupas novas, de preparativos para a tradicional ceia e decorativos para a casa.

Celebração Natal 2021

Na casa da família de Luciana da Cruz, na ilha do Sal, já está tudo preparado para festejar o Natal e os presentes já estão debaixo da árvore, prontos para serem entregues.

Para a ceia, vão reunir toda a família, porque é dia de conviver e reflectir sobre a importância da família. Por isso, Luciana destaca que o Natal é, para ela, muito especial.

“As pessoas estão cada vez mais ocupadas com as suas vidas e cada dia mais esquecem da importância da família. Neste sentido, acredito que para além de celebrar o nascimento de Jesus é uma data para reflectir”, realçou.

No dia 25 de Dezembro, Luciana da Cruz vai à missa para comemorar esta época festiva. Depois, segue para o habitual almoço com toda a família.

“Não podemos esquecer do verdadeiro sentido do Natal. As pessoas pensam que o Natal é só trocar presentes e ir às festas. Não é preciso pertencer a uma religião para reconhecer quanto Deus está nas nossas vidas”, acrescentou.

A salense afirma ser importante ensinar às crianças o verdadeiro sentido do Natal e relembrar o nascimento do menino Jesus, mesmo não fazendo parte de uma religião.

Já na casa da Maria Gomes, no concelho de Santa Cruz, interior da ilha de Santiago, o Natal, este ano, vai ser um pouco mais festivo do que o do ano de 2020, no qual as crianças não saíram para passear, limitando-se a celebração ao almoço e a ver televisão, devido à pandemia da covid-19.

Maria Gomes afirma que a sua família não dá importância à realização da ceia, de 24, nem às decorações de Natal, e a celebração é baseada apenas no almoço no dia 25.

Para o almoço deste ano, a família da Maria Gomes pretende preparar arroz com pato e comprar sumo para todos da casa.

O que torna o Natal diferente este ano para esta família é que as crianças vão receber roupas novas, para passear nas praças ou ir para outros lugares, com os respectivos pais.

Emigrantes

Há quem prefira deixar o “luxo” da Europa, para vir passar o Natal em Cabo Verde.

Fábio Fernandes, emigrante na Suíça, desde o ano 2013, tem vindo passar o Natal em Cabo Verde, com familiares e amigos.

Segundo relata, as festividades aqui em Cabo Verde são muito diferentes do que habitualmente é celebrado na Suíça, isto porque, nesse país europeu, as pessoas preparam a casa para receber apenas os familiares e amigos previamente convidados. Já em Cabo Verde, há mais abertura. Além de receber as pessoas em sua casa, Fábio Fernandes pode almoçar em casa de cada pessoa conhecida, ou seja, entra-se nas casas dos amigos, vizinhos e familiares, sem problemas nem necessidade de convite formal. Todos estão convidados. Assim, em Cabo Verde ele também consegue “matar” saudades e ficar mais tranquilo e feliz.

Para este ano, no dia 24, na casa do Fábio Fernandes em Cabo Verde, vai ser realizada a habitual ceia natalícia, com a presença de familiares e amigos. No dia de Natal, Fábio Fernandes, a filha e o irmão vão fazer uma entrega de presentes às crianças da Aldeia SOS de São Domingos, e, de volta a casa, fará a troca de “prendas” com a filha e sobrinhos. Depois, irá passear, primeiro na companhia dos amigos, e por volta das 16h, na companhia da filha.

Natal mais caro

Para este Natal, as lojas, Paraíso das Crianças, “Dada” (loja chinesa), Manuel dos Anjos /Mundilar apostam em novidades para cativar os clientes.

Com quase um ano de existência no Plateau, na Cidade da Praia, a loja Paraíso das Crianças, segundo a gerente Leizinira Torres, trouxe várias novidades para a celebração do Natal: brinquedos temáticos e actuais a gosto das crianças, roupas, acessórios e calçado.

A gerente teme que as vendas sejam baixas comparando com o ano de 2020, divido à fraca movimentação de pessoas verificada até ao momento da entrevista ao Expresso das Ilhas. Porém tem boas perspectivas.

No que se refere ao preço dos produtos, Leizinira Torres classifica-os de acessíveis e variados, com um aumento de 5 a 7%, acima do ano passado.

Por sua vez, a Loja Dada apresenta uma grande variedade de produtos, não só para as crianças, como para toda a família.

Elena Fontes, funcionária da loja há mais de 5 anos, conta que os produtos mais vendidos nesta época natalícia são roupas e brinquedos para as crianças.

A funcionária realça que houve, de facto, uma subida do preço dos produtos, porém considera que os preços são “razoáveis”.

A Loja Dada espera ter uma boa movimentação de pessoas nesta época festiva para poder ter um resultado positivo em termos de vendas.

A loja Anjos Mundilar, localizada na rua pedonal no Plateau, tem diversos géneros alimentícios para a tradicional ceia (doces e salgados), electrodomésticos, produtos da primeira necessidade, etc.

Ana Monteiro, responsável da loja disse que para este Natal, a loja entrou na semana festiva com promoções nas loiças e poderá haver mais promoções de outros produtos.

A responsável mostra-se preocupada com o aumento de preço dos produtos que, segundo afirma, é em torno dos 10 a 15%, e teme que esse aumento venha a condicionar as vendas.

Ana Monteiro espera, no entanto, que o resultado das vendas seja melhor do que no ano de 2020, que foi marcado pela pandemia.

Por sua vez, os consumidores queixam-se do aumento de preço dos produtos. É o caso de Luciana da Cruz, que considera muito constrangedor este aumento, sobretudo para as famílias mais vulneráveis.

“A ilha do Sal sempre foi cara, mas com o aumento dos preços as coisas estão cada vez mais difíceis”, observou.

Luciana da Cruz destaca que a subida de preços dificulta a compra de alguns produtos, ilustrando que na ilha do Sal um bom presente, este ano, está acima dos mil escudos, o que impossibilita uma família numerosa de os adquirir.

Além dos presentes, enumera outros produtos básicos que viram os preços subir, por exemplo, a farinha e o açúcar. Assim, realça, este ano há grandes gastos tanto nos produtos alimentícios (preparativos para a ceia), como nos presentes.

Natal no Jardim e nas Escolas

No ano de 2020 o sector educativo teve de se adaptar à pandemia e tomar novas medidas. Instituiu-se as tele-aulas, o número de alunos era muito reduzido nas salas de aulas, e o distanciamento e outras medidas de prevenção foram aplicadas.

Paulino Oliveira, delegado da educação no concelho de Santa Cruz, realçou que o Natal de 2020 nas escolas foi, pois, muito diferente do habitual. Apenas foi assinalado por alguns professores com pequenos lanches para a sua turma.

Para este Natal, Paulino Oliveira relata que a organização da festa natalícia nos agrupamentos escolares em Santa Cruz iniciou-se no dia 17, com a entrega de um trabalho de criação de decorações natalícias com recurso à técnica dos 3R´s, reduzir, reutilizar e reciclar, enquadrado no projecto “Eco Natal”, desenvolvido pela Fundação Padre Ottavio Fasano, em parceria com a Câmara Municipal de Santa Cruz e Delegação Escolar do Município de Santa Cruz.

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Depois de feita a entrega, um trabalho de cada escola foi avaliado pelos júris, de acordo com os critérios estabelecidos. O anúncio do melhor trabalho, que recebeu um prémio de cinco mil escudos, foi feito no dia 21, no salão nobre da Câmara Municipal de Santa Cruz.

Nos dias 22 e 23 de Dezembro, cada escola do município realiza um almoço do Natal.

Já no Jardim Cruz Vermelha em Santa Cruz, Anete Cardoso, educadora de infância, salienta que o ponto alto deste natal do jardim é o passeio com as crianças no “Hotel Falucho Paradise Beach”, com direito a sessão de filme, lanche e brincadeiras. Todas as medidas de prevenção da covid-19 foram tomadas e todos os funcionários já estão vacinados.

Educadora há 23 anos, Anete Cardoso recorda que antes da pandemia a celebração no jardim era mais ampla, contando com participação dos funcionários e voluntários no almoço de Natal. O apoio dos parceiros também era maior, permitindo a entrega de presentes às crianças

Este Natal, conta, o jardim tem falta de parceiros, o que, juntamente com o aumento do preço dos produtos, torna difícil distribuir prendas pelas crianças. Assim, será apenas oferecido um brinde simbólico para alegrar ainda mais o dia de Natal das crianças.

Como em qualquer Natal, já se sabe que o momento mais esperado pelas crianças é o momento da atribuição de presentes.

Luís Cardoso e Lucas Cabral já têm definido o que querem de presente para o Natal desde ano: querem um carro de brinquedo.

Luana de Pina, de cinco ano de idade, por seu turno, quer uma boneca.

Natal no Trabalho

Se algumas pessoas vão passar o Natal com a família, para outras isso vai ser determinado pelo horário de trabalho.

É o caso da enfermeiraMargarida Cardoso, do hospital Agostinho Neto, na Cidade da Praia.

Enfermeira de profissão há 14 anos, Margarida Cardoso, diz ter tido várias experiências no que se refere a passar a festa de Natal no trabalho e recorda a primeira vez que tal aconteceu como um dia feliz e ao mesmo tempo muito triste.

“Quando recebi a informação que iria ficar de plantão no hospital no dia do Natal, pela primeira vez, comecei a chorar muito, porque não tinha o costume de passar o Natal longe da família e da casa. Os meus filhos ficaram também muito tristes ao saber que não ia conseguir passar o Natal com eles, algo que me deixou ainda mais abalada”, relata a enfermeira.

Dividida entre o sentimento de tristeza e alegria, Margarida Cardoso conta que primeiramente pensou que não deveria estar no hospital a trabalhar, mas ao mesmo tempo consciencializou-se de que era um dever cuidar dos doentes e, como profissional, deveria estar naquele momento a tratar deles, independentemente da sua vida familiar.

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A enfermeira acredita que estar no hospital na época de Natal não é fácil nem para os profissionais de saúde, nem para os doentes.

Assim, passando alguns anos, Margarida considera ser muito gratificante estar ao lado das pessoas que estão doentes no hospital, para as animar e apoiar, porque também elas estão a celebrar a festa longe da família.

Celebrar o Natal, para a enfermeira Margarida Cardoso, adquiriu novo significado e passou a ser bem diferente. E o próprio hospital tem vindo a melhorar as comemorações.

“O hospital começou a tornar o dia do Natal diferente, patrocinando ceias de Natal, em que as pessoas poderiam trazer alguma comida e juntar com demais colegas que ficam no hospital, fazendo assim um convívio. No mesmo dia realiza-se troca de prendas com colegas, ficamos acordadas até ao amanhecer cuidando dos doentes e convivendo com as colegas. O dia não é passado em branco”, diz.

Margarida Cardoso classifica o Natal de 2020 como sendo um “pouco terrível”, porque não tiveram a oportunidade de fazer o habitual convívio no hospital, com muita euforia, como os que fizerem nos anos anteriores, devido à pandemia da Covid-19, por não se saber na época como lidar com a doença.

“Foi um ano triste, lamentável e difícil. Houve uma certa separação entre profissionais de saúde e doentes e a maternidade teve muitos casos de isolamento”, recorda.

A enfermeira Margarida Cardoso vai passar este Natal, no trabalho, com ceia, troca de prendas e juntamente com doentes e colegas, tornando a celebração diferente do que foi no ano passado.

Segundo realçou, este ano houve uma diminuição de casos, não houve isolamento e todos estão mais cientes de como lidar com a doença. O trabalho na enfermaria está a voltar à normalidade e estão adaptando a situação, sabendo como comportar perante a pandemia, o que facilita a aproximação festiva entre pacientes e os profissionais de saúde, levando em conta medidas de protecção.

A enfermeira Margarida Cardoso tem esperança de que o ano que se aproxima seja cada vez melhor e diferente de 2021. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1047 de 22 de Dezembro de 2021. 

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Autoria:Neidy Pereira (estagiária),24 dez 2021 15:55

Editado porAndre Amaral  em  22 set 2022 23:28

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