O programa de segurança de voo e protecção animal foi lançado na sequência de muitos acidentes que têm acontecido nos últimos anos, sobretudo no Aeroporto da Praia, onde a empresa de gestão aeroportuária (ASA) tem tomado medidas preventivas e reactivas para mitigação do risco.
Mas desta vez o Instituto de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeroportuários e Marítimos (IPIAAM) envolveu outras instituições do sector da aviação civil, as companhias aéreas, entidades estatais e municipais e associações ambientalistas, criando um grupo denominado de “Birdfafe”.
Também vão participar associações comunitárias, activistas sociais e a população em geral, sobretudo as pessoas que fazem criação de animais e as que vivem nos arredores dos aeroportos e aeródromos do país.
A campanha vai ter a duração de um ano e durante esse período vão ser realizadas várias actividades por um grupo de trabalho já criado, como a realização de estudos, comunicação em vários meios, acções de sensibilização nas comunidades, envolvimento de parceiros, educação ambiental e controlo da vida animal.
A coordenadora e técnica do IPIAAM Cátia Sequeira disse que a campanha visa ainda disponibilizar informações a toda a população e promover uma mudança de comportamentos, principalmente junto das comunidades localizadas nas imediações dos aeroportos.
Entre os comportamentos que precisam ser mudados, a porta-voz do grupo de trabalho apontou o depósito de lixo e criação de gado, nomeadamente pombos.
“Essas causas só podemos combatê-las, controlá-las com a colaboração de cada cidadão, de cada passageiro, que terá que proteger a sua vida, evitando incidentes com aves e até acidentes aéreos”, apelou a responsável, garantindo que o tempo do projecto poderá ser estendido, conforme as necessidades.
Para o ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, trata-se de um programa “de uma importância grande” para a sociedade cabo-verdiana, por ser um elemento que pode beliscar a segurança do arquipélago, quer dos voos, quer dos passageiros.
“Mas também pode beliscar a nossa economia, porque nós estamos a falar de um setor determinante para o país, que tem a ver com os transportes aéreos”, alertou o ministro, referindo que Cabo Verde consolidou uma experiência grande a nível da segurança aérea.
“Portanto, nós não podemos permitir que haja o beliscar ou que haja algum problema como aquilo que é a segurança dos voos e da aviação civil”, prosseguiu Carlos Santos, apelando a intervenção de todos os organismos do sector e das comunidades ao redor dos aeroportos.
Cabo Verde tem quatro aeroportos internacionais, nas ilhas de Santiago, do Sal, da Boa Vista e de São Vicente, e três aeródromos, nas ilhas de São Nicolau, Maio e Fogo, todos operados pela empresa pública ASA.
Conforme dados avançados pelo IPIAAM, entre 2016 e Junho de 2021 em Cabo Verde registaram-se um total de 108 acidentes com pássaros em todos os aeroportos e aeródromos do país, a sua maioria na Praia (78), seguido do Sal (10), Boa Vista, São Nicolau e Maio (com quatro cada), cinco em São Filipe, no Fogo, e dois em São Nicolau.
Na quinta-feira, a presidente da TAP, Christine Ourmières-Widener, avançou que aviões da companhia aérea portuguesa sofreram cinco incidentes com aves no Aeroporto da Praia, em 2021, mas que medidas estão a ser adoptadas pelas autoridades cabo-verdianas para melhorar a situação.
Nas últimas semanas têm sido vistas nas imediações da pista do Aeroporto da Praia equipas de trabalhadores aeroportuários a afastarem bandos de aves, enquanto no perímetro exterior é habitual a presença de dezenas de cabeças de gado.
As aves são responsáveis por mais de 98% do total de colisões de aeronaves com a vida animal e estes incidentes acontecem nos momentos mais críticos – descolagem e aterragem.