Em declarações ao Expresso das Ilhas, o director dos Serviços da Acção Social, Adilson Neto, revelou que apenas no ano de 2021 o valor das dívidas dos estudantes daquela instituição superou os 80 milhões de escudos.
Trata-se, segundo disse, de dívidas de alunos do grupo 1 e 2 do cadastro social único, cujo rendimento familiar advém da agricultura e práticas de economias informais.
“Temos estudantes de todas as regiões do país e, consequentemente, estudantes do interior das ilhas, onde temos o maior foco de rendimento que provém da agricultura, e também da cidade da Praia que não deixa de se incluir na lista das dívidas. Quando vemos as sucessivas secas, crise causada pela pandemia, a situação dessas famílias agravam-se”, esclarece.
Para Adilson Neto, um dos grandes desafios do Ensino Superior no país prende-se com a articulação do ensino de excelência e o desafio da propina. Hoje está em voga a excelência da juventude, a inovação, a criação e esta meta que se pretende atingir é conjugada com a permanência dos estudantes nas instituições. Em particular, os estudantes em situação de vulnerabilidade”, considera.
Para viabilizar a permanência dos estudantes nas instituições, em articulação com o ensino de excelência, o director dos Serviços da Acção Social da Uni-CV advoga que é necessário encontrar estratégias inovadoras, juntamente com as entidades governamentais e instituições congéneres.
Mas, sublinha que além da propina, os estudantes enfrentam outros desafios, razão pela qual a Universidade decidiu criar o FDS, enquanto mecanismo de financiamento das acções sociais na Uni-CV.
Programas de acção social do fundo
“Temos um sistema de financiamento do Ensino Superior focado no pagamento das propinas, quando sabemos que não se pode fazê-lo apenas com a propina. O estudante, para que seja excelente, para que o jovem cabo-verdiano seja um jovem do futuro, capaz de transformar o arquipélago, torna necessário que haja um financiamento além da propina”, analisa.
Por isso, o FAS além de tentar apoiar os estudantes na resolução das suas dívidas, assegura também a alimentação, o alojamento nas residências estudantis, bolsas-colaboração que dão ao aluno a oportunidade de trabalhar na instituição e aceder a uma compensação.
Também visa financiar a alimentação, através de cantinas, restaurantes e bares; apoio em material didático e outros recursos pedagógicos; apoios ao emprego e à empregabilidade, incluindo estágios remunerados; apoio médico, psicológico e sanitário; transporte; apoio ao sucesso pedagógico e à superação de dificuldades de aprendizagem; apoio ao desporto e à cultura e outros programas que traduzam necessidades relevantes de apoio social.
“Mas também, os serviços sociais existem para apoiar situações, muitas vezes emergenciais, os estudantes que solicitam apoio dentro do quadro e havendo disponibilidade, nós apoiamos pontualmente”, garantiu.
Meios de financiamento e recursos
“Temos um déficit, e é claro que não teríamos disponibilidade para apoiar as dificuldades dos estudantes na totalidade. Por isso, é que se criou o FAS com vista a encontrar mecanismos alternativos. Posso destacar que hoje temos como mecanismo de financiamento do FAS, donativos de várias entidades e de pessoas singulares”, revela.
O fundo é ainda financiado pelo orçamento de funcionamento e ou de investimento da Uni-CV, dotações consignadas à acção social nos Contratos-Programa celebrados entre o Governo e a Uni-CV, bem como de rendimentos obtidos através da gestão de programas de acção social e da gestão de serviços concessionados pela Uni-CV e outras entidades.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1061 de 30 de Março de 2022.