Segundo o especialista, apenas com a realização da diálise, Cabo Verde não conseguirá responder às necessidades.
“A angústia é esta: está tudo pronto, temos os doentes a aumentar, porque se os transplantássemos reduzia a diálise. Isto vai aumentar, vai ficar em situação dramática daqui a muito pouco tempo, porque se só tem 240 doentes em diálise, estatisticamente deveria ter 700, de acordo com população e com a incidência mundial da doença. Estão a cair-nos os doentes em cima, a gastar dinheiro com diálise e não temos capacidade. Vão ter que abrir mais centros”, explica.
Para além de garantir a melhoria na qualidade de vida dos doentes renais, o transplante "ajuda a reduzir” as despesas do Estado com os centros de diálise.
Norton de Matos assegura que, do ponto de vista técnico, estão reunidas condições para a realização de transplantes renais no arquipélago. O único obstáculo que persiste é legal.
“Cabo Verde tem uma possibilidade de transplante, sobretudo de doadores vivos. Doador cadáver não tem ainda, não tem cuidados intensivos, não tem neurologistas, não tem neurocirurgiões para o diagnóstico da morte cerebral adequada. A urgência agora é o doador vivo, para o qual existem famílias numerosas, doentes muito jovens. Do ponto de vista técnico, é facílimo, é só a equipa cirúrgica que virá fazer a operação mas é pontual. Para o seguimento dos doentes, há dois nefrologistas, que facilmente aprendem a gerir a rejeição, o tratamento médico desses doentes depois de serem transplantados”, explica.
Norton de Matos, que viaja a Cabo Verde desde 2015, para missões nos centros de diálise, nota que “há sete anos que defende junto das autoridades nacionais a necessidade da criação do diploma legal para a realização de transplantes no país”.
Em Março, o governo assegurava que Cabo Verde já tinha pronta a proposta de lei de doação, colheita e transplante de órgãos. Entretanto, o documento ainda não foi aprovado no parlamento.