Francisco Tavares, Presidente da CM da Brava: "Novo Centro de Saúde irá diminuir evacuações"

PorAntónio Monteiro,24 jun 2022 10:31

Francisco Tavares, Presidente da Câmara Municipal da Brava
Francisco Tavares, Presidente da Câmara Municipal da Brava

O dia do município e do santo padroeiro, São João Baptista, que se comemora no dia 24 de Junho deu o mote à entrevista com Francisco Tavares sobre os grandes desafios da Ilha das Flores até o final do seu mandato. Nesta ordem de prioridade o edil bravense destaca a Construção de um novo Centro de Saúde, o projecto já em curso da instalação de uma primeira dessanalizadora que irá produzir até três vezes mais água do que a quantidade disponível neste momento e a criação de uma espécie de táxi marítimo para fazer unicamente a ligação Brava/Fogo, Fogo/Brava garantindo assim a conectividade diária com a ilha do Fogo sobretudo quando chega um avião e o passageiro que quiser chegar à Brava não tenha que permanecer muitas horas na ilha do Fogo. “Com isso teríamos resolvido os três grandes problemas da ilha e não tenho dúvidas que seriam um sinal de confiança e farão com que os emigrantes reformados retornem ainda em maior número. Não tenho dúvidas que com isso a economia bravense receberá uma injecção de milhares de dólares e tudo melhorará”.

Como têm sido estes tempos marcados pela seca e pela pandemia da Covid-19 no município da Brava?

Eu diria que nós por aqui tivemos um grande sucesso na implementação das medidas de combate à pandemia. Daí que durante todo este período Brava é talvez a ilha que teve mais dias ou meses sem registar casos novos. Isso graças ao excelente trabalho feito pela Câmara Municipal, mais a Delegacia de Saúde, a Polícia Nacional e a Protecção Civil. Relativamente aos impactos económicos Brava é talvez a ilha menos afectada. Sentimos, sem dúvida, mas sentimos menos porque a economia da Brava não é tão pujante, nem tão dependente das viagens e das ligações. Entretanto, ultrapassamos muito bem o período mais difícil também contando com um factor importantíssimo: na Brava não existe talvez nenhuma família que não tenha familiares emigrados nos Estados Unidos e não só e estes desempenharam um papel fundamental na garantia da subsistência e na diminuição dos impactos negativos económicos sobre as famílias durante estes dois anos. Daí que, com algumas dificuldades, sim, mas relativamente passamos bem...

Relativamente à seca que já vai no quarto ano, que medidas a câmara e o governo têm tomado para fazer face à situação?

Nós tivemos os programas financiados pelo ministério da Agricultura para a mitigação da seca, que vinha via Câmara Municipal, a qual fazia abertura de frentes de trabalho temporário nas localidades abrangendo as famílias mais afectadas pela seca, famílias que dependem muito da agricultura de sequeiro e da criação de gado. Daí que, sem dúvida, minimizou-se bastante o impacto nas famílias. Durante todos esses anos, o governo foi uma mão amiga neste sentido. Houve também outras medidas, nomeadamente para salvamento de gado, que foram implementadas directamente através da Delegação do ministério da Agricultura e Ambiente aqui na ilha que ajudarem a minimizar os impactos negativos principalmente no sector da pecuária. Devo ainda referir que recebemos também financiamento de um programa da Cooperação Luxemburguesa que serviu para financiar algumas actividades geradoras de rendimento e minimizar desta forma o impacto financeiro sobre os que foram mais afectados pelos efeitos da seca. Esperamos nós que este ano seja o ponto de viragem.

A prestação de cuidados da saúde afecta muito a ilha Brava. Em 2019 houve uma manifestação em que o senhor participou, em que os munícipes pediam melhores condições na prestação dos cuidados de saúde. Desde então, que melhorias houve?

Eu diria que desde então houve uma relativa melhoria dos cuidados de saúde em termos de equipamentos que chegaram à ilha em finais de 2020/2021 financiados pelo governo de Cabo Verde. No entanto, não são ainda satisfatórios porque nós precisamos de uma melhoria da estrutura física para não dizer de um novo Centro de Saúde.

Para quando está previsto o arranque das obras?

Bom, ainda não temos uma data para o início das obras, mas o certo é que o ministro da Saúde garantiu o financiamento e solicitou ao presidente da Câmara Municipal da Brava a procura do terreno para o efeito. Então estamos a trabalhar neste sentido e espero eu que será uma obra para iniciar ainda este ano e ser concluída em 2023.

Ou seja, as evacuações ainda continuam, sobretudo dos menos providos de recursos em que a câmara tem de apoiar.

Pois, é uma realidade porque para consultas de especialidade, como disse anteriormente, não houve ainda a retoma que se deseja, então há sempre ainda necessidade de consultas e de procura de soluções a nível de saúde em termos de análises e certos tipos de tratamento no Hospital Regional de São Filipe, ou no Hospital Central da Praia. Muitas vezes os menos favorecidos claramente recorrem-se à Acção Social da Câmara que tem ajudado como pode e isso também continua a acontecer. Então, é de se louvar que há três semanas atrás esteve na Brava uma equipa de médicos que veio dos Estados Unidos com a qual assinamos um protocolo para o reforço da Delegacia de Saúde a nível da telemedicina e para o aumento desta missão também à Brava e com mais médicos especialistas e com os equipamentos que cá estão aqui na ilha e outros equipamentos que ofereceram ou que estão disponíveis para procurar e ajudar o Centro de Saúde da Brava. Perspectivo que num futuro próximo irá haver uma progressiva diminuição do número de evacuações que considero ser ainda muito elevado e com custos elevadíssimos para as família por mais que a câmara possa apoiar com bilhetes de passagem para a ilha do Fogo e para análises médicas que custam muito dinheiro.

O problema dos transportes e ligação inter-ilhas é transversal em todo o Cabo Verde. Na Ilha Brava, dados de 2019 davam conta que se mantinham cinco viagens marítimas semanais, três com ligação à Praia e duas para a ilha do Fogo. Como está a situação agora?

Bom, houve uma melhoria significativa das ligações após a entrada da CV Interilhas em que passamos a ter cinco ligações semanais com a Praia, mais as habituais ligações com o Fogo. No entanto, há dois meses atrás, houve uma diminuição dessas viagens, mas a partir do mês de Maio tudo voltou à normalidade. Neste momento temos ligações às segundas, terças, quartas, sexta-feiras e sábados através do Navio Kriola e introduziu-se também pelo menos uma viagem semanal do Navio Praia D’Aguada que possibilita trazer outros tipos de carga a preços mais reduzidos o que é muito bom para os comerciantes, além de ser uma embarcação com o conforto de camarotes para quem não é muito marítimo. Daí que se mantiver o cenário actual talvez teríamos de melhorar apenas a questão das ordens de embarque de cargas e viaturas para a Brava e estaríamos satisfeitos.

Quando substituiu o então presidente da Câmara prometeu a introdução de um forte cunho na área social, sobretudo na questão da habitação social, apoio medicamentoso e na evacuação dos menos providos de recursos. No sector da habitação social o que conseguiu até agora?

Conseguimos muito realmente e isso também porque beneficiamos de 40 mil contos através do PRRA [Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidade] para acções do tipo. Na Brava, na verdade nós não temos graves problemas de habitação social. Ou seja, nós não temos barracas. Então nós investimos mais nas coberturas e em casas de banho. Eu perpectivo que se continuarmos com este mesmo ritmo até ao final deste mandato teremos 100% das habitações com casas de banho. Até este momento a Câmara Municipal já conseguiu levar mais de 200 casas de banho às famílias bravenses. Também já apoiamos com uma nova cobertura mais de 100 habitações. No âmbito do mesmo programa construímos uma habitação de raiz e reabilitamos quase a 100% outras duas habitações. Mas continuamos ainda a receber mais solicitações e por isso estamos à espera de concluirmos este último contrato do programa PRRA para reabilitação de habitações para assinarmos um novo contrato e continuarmos nesta senda, porque é nossa meta termos 100% de casas ligadas à rede pública de água. Já estamos a 99 vírgula qualquer coisa porcento e queremos ter também 100% das casas ligadas à energia eléctrica; neste momento estamos a quase 100%.

Quais são os grandes desafios da Brava em termos estruturais até o final do seu mandato?

Os grandes desafios até o final do mandato e que já temos luz verde é a construção do Centro de Saúde. Há a questão da água, pois nós na Brava temos um défice da quantidade e da qualidade da água para o abastecimento da população. Posso avançar que neste momento está em curso o projecto da instalação de uma primeira dessanalizadora que irá produzir até três vezes mais água do que a quantidade disponível neste momento. Assim resolveríamos desta forma dois problemas estruturais. Um terceiro problema estrutural da Brava é a questão da ligação. Sonhávamos e continuamos a sonhar com ligações aéreas, mas está cada vez certo de que a curto e médio prazo isso não será possível. Por isso estamos a trabalhar para termos uma espécie de táxi marítimo para fazer unicamente a ligação Brava/Fogo, Fogo/Brava garantindo assim essa conectividade diária com a ilha do Fogo sobretudo nos momentos que nos permite fazer a saída da Brava quando chega um avião e o passageiro que quiser chegar à Brava não tenha que permanecer muitas horas na ilha do Fogo. Com isso teríamos resolvido os três grandes problemas da ilha e não tenho dúvidas que seriam um sinal de confiança e farão com que os emigrantes reformados retornem ainda em maior número. Facto é que já estão retornando, fixando, melhorando as suas habitações e não tenho dúvidas que com isso a economia bravense receberá uma injecção de milhares de dólares e tudo melhorará.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1073 de 22 de Junho de 2022. 

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Autoria:António Monteiro,24 jun 2022 10:31

Editado porAndre Amaral  em  24 jun 2022 19:00

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