Forte contra piratas reabilitado a pensar no turismo sustentável

PorExpresso das Ilhas, Lusa,3 jul 2022 9:35

Obras devem começar no final de Julho
Obras devem começar no final de Julho

O secular Forte Duque de Bragança, construído num ilhéu para proteger a ilha da Boa Vista dos piratas, vai integrar a rota turística, apesar de limites no seu acesso, para garantir a conservação.

“Já iniciámos formalmente o processo [de reabilitação] e agora estamos à espera das propostas de orçamentos que serão enviadas pelos empreiteiros. Estamos em crer que em 15 dias teremos essas propostas”, avançou, em entrevista à Lusa, Jair Fernandes, presidente do Instituto do Património Cultural (IPC), entidade responsável pelo projecto de reabilitação, conservação e musealização daquele forte com mais de 200 anos.

Trata-se de uma intervenção avaliada em 4,2 milhões de escudos (38 mil euros), cofinanciada pela Direcção Nacional do Ambiente através do programa da Bio-Tur e com financiamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Segundo Jair Fernandes, o compromisso é que o “projecto esteja finalizado e o forte, reabilitado e entregue à comunidade e aos visitantes” ainda este ano, permitindo criar um roteiro à volta do ilhéu, mas “respeitando a sustentabilidade ambiental e social do espaço”.

“Se todas as condições, neste caso burocráticas, estiverem devidamente criadas estamos em crer que iniciaremos as obras já no final do mês de Julho”, acrescentou Jair Fernandes.

A obra visa a reabilitação e musealização do Forte do Duque de Bragança com foco na consolidação dos restos arquitectónicos, em sítios onde se revelem necessários, para travar a contínua degradação a que tem sido votado ao longo do tempo, minimizando danos maiores, segundo o IPC.

“Será uma intervenção muito sensível do ponto de vista material, porque o próprio caderno de encargos a ser entregue aos empreiteiros colocará um certo rigor em relação ao uso do material, quanto menos impacto ambiental tivermos sobre o ilhéu, melhor. Daí esta ser outra preocupação, a utilização do cal hidráulica ou pozolana da ilha de Santo Antão, permitindo longevidade em termos da estrutura, evitando o máximo possível a utilização de cimento corrente, enquanto ligante, para tentarmos aqui minimizar os impactos ambientais sobre o ilhéu, que é uma área protegida”, sublinhou o presidente do IPC.

A um quilómetro da ilha da Boa Vista e da cidade de Sal Rei, que na altura defendia dos ataques de corsários e piratas, restam muralhas e canhões do antigo forte construído pelos portugueses, património que assim, ainda este ano, estará reabilitado para integrar a rota do turismo local, sendo esta a segunda ilha mais procurada pelos visitantes do arquipélago.

Contudo, Jair Fernandes garante que o objectivo não é massificar o acesso ao ilhéu e ao forte: “Também respeitando a capacidade de carga do ilhéu, estaremos a contabilizar diariamente quantas pessoas é que podem visitar o sítio”.

Quando a reabilitação estiver concluída, o presidente do IPC prevê a possibilidade de ser cobrada a entrada naquele local histórico: “É um aspecto que estamos a analisar com a Câmara Municipal [da Boa Vista] e o Ministério do Ambiente, através da Direcção Nacional de Ambiente, no quadro do plano de gestão que teremos que apresentar antes da assinatura do protocolo de gestão, que será da responsabilidade da Câmara Municipal da Boa Vista, a necessidade de se cobrar um ‘fee’”.

“Não será algo muito exagerado, mas que permita, por exemplo, angariar alguns recursos para a manutenção da estrutura do Forte Duque de Bragança, por um lado, mas também para o passadiço que se vai construir, dos painéis interpretativos que serão colocados à volta do ilhéu. Ou seja, há ali um investimento que é preciso ter garantia de manutenção quase que diária”, explicou o responsável.

O projecto, além de permitir reabilitar um forte histórico para o arquipélago, vai ainda gerar indirectamente uma nova fonte de rendimento para os pescadores locais, conforme prevê o presidente do IPC.

“Estivemos em conversas com alguns pescadores da ilha da Boa Vista que estão amplamente satisfeitos com este projecto. Só para termos uma ideia, ir até ao ilhéu, que é um percurso de menos de dez minutos, e regressar, custa em média 30 euros. Será uma boa alternativa se considerarmos que a pesca na Boa Vista é uma pesca muito sazonal”, admitiu.

Contudo, apontou que todo este projecto terá obrigatoriamente de envolver “todos os ‘stakeholders’ que actuam na ilha da Boa Vista”, e não apenas as entidades públicas.

“Também as organizações não-governamentais que trabalham com a questão ambiental, os pescadores, as peixeiras. Como disse, para os pescadores é uma alternativa à pesca, porque podem utilizar os botes levando as pessoas ao ilhéu e minimizando esta questão de acesso à estrutura. Estamos em crer que será um projecto muito, muito bem aceite”, assumiu Jair Fernandes, prevendo localmente “um impacto muito positivo”.

“Não só por parte da população da Boa Vista, mas também dos que visitam a ilha e, sobretudo, dos empreendedores que lidam com o turismo”, disse ainda.

No período da edificação do forte, a ilha da Boa Vista exportava sal, algodão, gado e cal, entre outros produtos, tendo sido várias vezes saqueada por piratas entre os anos de 1815 a 1817, antes da construção daquele forte, que actualmente está em ruínas.

“Considerando também que é uma área protegida e há toda a questão da capacidade de carga inerente à própria ilha, estamos a falar de um conceito turístico diferente do contexto da ilha da Boa Vista, ou seja, é preciso respeitar conforme o próprio projecto todas as questões (...) Houve a necessidade também de solicitar um estudo de impacto ambiental, de forma a tentarmos atenuar esses possíveis impactos e minimizá-los o máximo possível”, garantiu o presidente do IPC.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,3 jul 2022 9:35

Editado porJorge Montezinho  em  5 jul 2022 14:57

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